Tempo de leitura: 3 minutos

ricardo ribeiroRicardo Ribeiro | ricardo.ribeiro10@gmail.com

 

Se levarmos em conta a seriedade, a qualidade moral e a folha corrida dos faxineiros, não há dúvida de que essa limpeza não irá muito longe.

 

Em meio aos chatíssimos bate-bocas virtuais dos grupos de WhatsApp, uma amiga (por sinal, esta bonita loira do artigo logo abaixo) fez uma pergunta intrigante, com indisfarçável ironia: “o que vocês vão fazer na segunda-feira, quando a corrupção tiver acabado no Brasil?”. Como é fácil perceber, ela se referia ao day after, à segunda-feira após uma possível aprovação, pela Câmara dos Deputados, do relatório que recomenda o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

A pergunta, cuja resposta obviamente já se sabe, reflete o sentimento de que todo esse processo não afeta a raiz do problema. Basta ver o fundamento do pedido de impeachment: as pedaladas fiscais (supostos empréstimos tomados pelo governo junto aos bancos oficiais, o que é proibido pela Lei de Responsabilidade Fiscal) e decretos referentes às metas fiscais que foram baixados sem anuência do legislativo, o que outras gestões fizeram sem maiores sobressaltos.

Motivos bastante prosaicos, para não dizer questionáveis, diante do que paira nesse momento de Lava Jato, prisões de magnatas, propinas milionárias sendo reveladas diariamente após cada fase da operação, que pode mudar radicalmente o modo como se relacionam, desde antanho, os políticos e o grande capital. Este, sempre sedento pelos favores do Estado, e aqueles, viciados e dependentes do pagamento pelos ditos favores. No mundo da política é assim: uma mão lava a outra, mas nunca deixam de estar imundas.

Tais relações indevidas não são nenhuma jabuticaba, pois existem no Brasil e no mundo todo. Aqui, porém, sempre encontraram campo fértil na absurda permissividade com os larápios de colarinho branco, o que aparentemente começa a diminuir. Claro que para muitos a proatividade do juiz Sérgio Moro tem endereço certo, mas é plausível que o efeito colateral da operação venha a ser um despertar geral da sociedade para o fato de que, com o nível de corrupção existente nessas terras, o Brasil continuará a ser “o país do futuro” ad infinitum.

Chega de fazer piada com aquele prefeito que, de tão “católico”, em toda inauguração de obra leva um terço. Se a indignação da sociedade também não for direcionada, é possível que o brasileiro pare de brincar com a roubalheira hedionda e passe a reagir diante da indecência que impera nas gestões públicas de todas as esferas da federação. Não que haverá uma utópica assepsia geral, mas quando nada um pouco de respeito já será um bom começo.

Agora, um parágrafo para o autor apanhar, pois é isso o que acontece com quem não defende nenhuma das facções envolvidas. Dizer que o governo da presidente Dilma Rousseff é um fiasco é ser bondoso demais, mas as alternativas postas à mesa são assustadoras. Dilma governa mal e, para salvar a pele, abriu o balcão de negócios para a ratataia da política, o que tende a piorar o que já não presta, isto considerando uma eventual sobrevivência da mandatária. Por outro lado, um processo manipulado por Eduardo Cunha e pelos seus correligionários peemedebistas, que até anteontem mamavam nas tetas do Planalto, não traz esperanças de que o futuro será alvissareiro. Muito pelo contrário!

Outra pessoa chega e diz: “mas até na nossa casa, a limpeza tem que começar por algum lugar”. É verdade, mas já se viu muitas faxinas nesse muquifo que não passaram de maquiagem, pois em determinados cômodos, e mal iniciado o trabalho, o lixo sempre era jogado para debaixo do tapete. Se levarmos em conta a seriedade, a qualidade moral e a folha corrida dos faxineiros, não há dúvida de que essa limpeza não irá muito longe, a menos que o dono da casa – o verdadeiro, aquele em nome do qual o poder é exercido, pelo menos segundo diz a Constituição –  mantenha o olho vivo nos elementos. É imperioso vigiá-los.

2 respostas

Deixe aqui seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *