Dia das Mães de luto no Jacarezinho: Avó de Isaac Pinheiro de Oliveira, Regina Célia acompanhou o enterro do neto que havia criado após a morte da mãe || Foto: Márcia Foletto
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Sabe-se também que o Jacarezinho é uma das áreas sob domínio do Comando Vermelho, bando de traficantes que disputa a criminalidade com a milícia. A operação pode ter sido também uma ação articulada das milícias para futura tomada de território.

Carlos Pereira Neto Siuffo

Dias das Mães, estou ausente do Facebook, mas entro hoje* apenas para homenagear os filhos sem mães e avós e essas sem filhos e netos, todos e todas assassinados por Bolsonaro e sua corja, aliados da Covid e da destruição nacional.

Em especial, homenageio as mães das pessoas assassinadas pela Polícia Civil carioca no Jacarezinho. Uma operação fascista de genocídio, certamente um do maiores atentados contra o que resta de democracia no Brasil.

É inconcebível, onde vige o Estado Democrático de Direito, uma operação com tal nível de letalidade. É o terror praticado pelos agentes de segurança estatal. Um Estado tomado pelo banditismo.

A história um dia demonstrará que tal ação foi articulada em um nível superior, num momento em que a maioria da população começa a perceber o desastre do desgoverno Bolsonaro.

O Sistema Jurídico Brasileiro foi jogado na lata do lixo, da Constituição, passando pelo direito penal, material e processual, e também o civil. Se na famigerada Operação Lava Jato inventaram a competência aleatória, na operação do Jacarezinho criaram o bandido territorial por antecipação. Dois dias depois ainda não se sabia os nomes dos executados, mas todos, conforme a direção policial, eram criminosos. Isto como se suposto antecedente criminal retórico, pois não provado, fosse razão para pena de morte – inexistente no direito pátrio.

A posição das autoridades policiais cariocas foi endossada pelo “civilizado” General Mourão. O que não é de se estranhar, pois antes já havia sugerido o assassinato do Presidente Chávez e chamado de herói o torturador Ustra: “heróis também matam”. Também o governador do estado deu seu apoio, discursando que a operação foi fruto de dez meses de trabalho da inteligência policial – mudaram o sentido de inteligência, agora é burrice letal.

Evidentemente, tal fato só pode ter ocorrido em face de uma longa deterioração da imprensa (viva Tim Lopes e outros!), o Globo na frente, do Ministério Público e Judiciário. Os policiais são a ponta de um sistema corrompido.

Sabe-se também que o Jacarezinho é uma das áreas sob domínio do Comando Vermelho, bando de traficantes que disputa a criminalidade com a milícia. A operação pode ter sido também uma ação articulada das milícias para futura tomada de território.

Se a sociedade brasileira um dia ajustar as contas com o seu terrível e cruel passado, todos deverão ser chamados à responsabilidade. O governador e os policiais deverão ser processados e condenados.

Não tenho dúvida de que o Brasil entreguista, antidemocrático, antipopular, egoísta e muito desigual é o de uma minoria muito poderosa e, no momento, no poder. É o país do massacre de Jacarezinho e da irresponsabilidade com a pandemia. Poderá vir a ser derrotado, é o mais provável, mas não será fácil. Haverá que ter muita luta e um longo caminho pela frente.

Por fim, homenageio a mãe e o marido ( muito carinho) do ator Paulo Gustavo, tão precocemente retirado do convívio dos brasileiros. Ele representava um Brasil democrático, generoso, feliz, sorridente e mais justo, que é o desejável pela maioria.

Um viva para todas as mães! Vai passar!

Carlos Pereira Neto Siuffo é professor de Direito da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc).

*Artigo escrito no domingo (9) de Dia das Mães.

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