Ao entendermos a profunda ligação entre nossas relações familiares, em especifico a relação da ‘figura’ materna com a nossa saúde alimentar e emocional, abrimos caminho para uma vida mais equilibrada e mais consciente.
Rava Midlej Duque || ravaduque@gmail.com
Imagine uma tapeçaria tecida com fios invisíveis, cada um representando nossas crenças, que desde a infância moldam nossas escolhas e experiências. Esses fios sutis, muitas vezes não percebidos, têm o poder de guiar nossas jornadas de forma profunda e determinante.
Na jornada da vida, algumas pessoas encontram um cenário de abundância, felicidade e crescimento contínuo, enquanto outras enfrentam desafios persistentes e dificuldades. Essa diferença muitas vezes está enraizada em suas crenças mais profundas.
Não é diferente com o seu corpo e a sua relação com a comida. No processo terapêutico, é crucial deixar de lado a mente racional e abrir um espaço disposto e disponível para acessar além do aparente. Compulsão alimentar, bulimia, alergia alimentar são transtornos que estão diretamente conectados com as relações familiares e são sintomas que dizem algo sobre como nos sentimos em relação à vida.
A forma como nos relacionamos com a nossa mãe está ligado diretamente à como tratamos nossas vidas. Mãe e comida são portadoras da mesma energia que nutre alma e corpo. A mãe é aquela que dá vida e o primeiro alimento. Por isso, quando o adulto apresenta problemas com peso ou disfunções alimentares, está de forma inconscientemente buscando essa mãe.
Muitas vezes, assumimos padrões alimentares transmitidos ao longo das gerações, refletindo conflitos internos e transtornos alimentares por uma vida inteira. Ao acessar as emoções e os padrões inconscientes por trás das disfunções alimentares, torna-se possível liberar e reprogramar comportamentos.
Esses padrões, enraizados em questões familiares não resolvidas, se manifestam de diversas formas, desde compulsões até rejeições alimentares, revelando nossos sentimentos mais profundos em relação à vida e àqueles que nos cercam, especialmente nossa mãe. É nesse contexto que a Terapia Sistêmica e as Constelações Familiares se destacam como ferramentas poderosas de auxilio e transformação.
Estas ferramentas não oferecem uma solução mágica, mas sim uma jornada de autoconhecimento e transformação. Ao trazer à luz as fontes dos nossos conflitos alimentares, aqui em especifico as dinâmicas relacionadas à mãe, nos tornamos consciente do cerne da questão que causam os sintomas que vivemos. A partir disso, podemos assumir de forma lúcida, uma nova postura que nos impulsiona em direção ao bem-estar de dentro para fora.
A Constelação Familiar nos permite olhar para o essencial, para a dinâmica oculta que está por trás das disfunções e distúrbios. Diagnosticamos as causas profundas da obesidade, compulsões e outros distúrbios, permitindo movimentos terapêuticos que nos levam à reconciliação com nosso corpo e nossas relações familiares.
Ao explorarmos as leis do universais e da ordem familiar, encontramos o cerne dos transtornos alimentares e a chave para as pazes com o nosso corpo emocional e físico. Não é uma receita de bolo. Cada caso é uma caso e cada pessoa está contando a sua própria história com as dificuldades que enfrenta. Mas há um parágrafo único: a relação que você tem com o alimento representa de maneira indireta a relação que você tem com a sua mãe.
Durante uma Sessão de Constelação ou com o uso do Mapeamento Sistêmico para investigar as relações familiares da pessoa, podemos descobrir as raízes profundas que estão regendo o padrão alimentar disfuncional, que pode estar ligado a uma lealdade inconsciente por aspectos emocionais, vínculos afetivos, não só aspectos fisiológicos, hormonais e bioquímicos.
Ao entendermos a profunda ligação entre nossas relações familiares, em especifico a relação da ‘figura’ materna com a nossa saúde alimentar e emocional, abrimos caminho para uma vida mais equilibrada e mais consciente. Até porque a nossa alma também têm fome. É por esse motivo que chegamos em um momento de vida que buscamos por um sentido maior para tudo isso aqui. Além de crescer, casar, comprar e pagar conta.
Com o acesso às dinâmicas sistêmicas, descobrimos que a forma como nos relacionamos com a comida e cuidamos do nosso corpo está intrinsicamente ligada às nossas relações familiares e aos padrões emocionais que absorvemos ao longo da vida. Cada escolha alimentar, cada comportamento relacionado à comida é um reflexo direto desses padrões sistêmicos.
Ao olharmos para o sistema como um todo, percebemos que esses elementos aparentemente independentes – nossas relações, nossa alimentação e nosso corpo estão entrelaçados por fios invisíveis. A Terapia Sistêmica nos ensina a ler os sinais dessa grande teia, a compreender a integração do nosso sistema interno e externo. Ao compreendermos os padrões sistêmicos, abrimos espaço para uma vida mais saudável e equilibrada, onde nossas relações, nossa alimentação e nosso corpo se tornam aliados. Nunca oponentes.
Rava Midlej Duque é comunicadora, mestra, terapeuta sistêmica, consteladora familiar e especialista em Psicologia Perinatal.