Turrão e Tolé, ídolos do passado na Confraria d'O Berimbau || Foto Walmir Rosário
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Com inteligência, levam algumas latas de cerveja sem álcool e não se fazem de rogados em abri-las com aquele conhecido barulho ao retirar os lacres. Mais que isso, Turrão e Tolé participavam ativamente da degustação do filé mal assado preparado com esmero por Zé do Gás.

 

Walmir Rosário

Reafirmo que muito já foi dito, contado e recontado sobre a Confraria d’O Berimbau, instituição recreativa, etílica e cultura da vida mundana de Canavieiras. Porém, consta dos anais que os frequentadores jamais abandonam o recinto, a não ser por causa mortis, embora digam alguns dos mais exaltados confrades, que eles continuam a povoar o local, agora meramente em espírito.

Mas esse é um assunto que não costumo discutir por não ter habilidade, competência, especialização ou comprometimento com temas que envolvam o plano espiritual. Reconheço que me faltam essas e outras características, mas não deixo de meter minha colher em temas quase tão relevantes como esses, e jamais me furtarei em discorrer sobre frequentadores ainda lépidos e faceiros, mas reconhecidamente fora das atividades etílicas.

E posso falar de cátedra, pois tenho amigos tantos que após muita labuta na parte de fora dos balcões dos botequins, hoje se encontram ausente das pelejas, afastados pelos mais diversos motivos. Posso até comparar com o futebol, em que alguns pedem para sair, enquanto outros são retirados pelos técnicos, por não se comportarem bem em campo.

É uma questão individual, bem sei, embora não me conforme em perder parceiros de uma vida inteira, que mais que de repente, aplicam um drible da vaca nos parceiros e se retiram do boteco. Conheço mais que uma dúzia de seduzidos pela religião, obrigados pelos discursos das lideranças espirituais a se afastarem, definitivamente, desse nosso restrito convívio.

Outros tomaram essas tresloucadas atitudes por vontade própria, quem sabe com os aconselhamentos de pé de orelha da patroa, com toda a razão. Mas existem outros tantos que ainda não consegui identificar quais os motivos que os levaram a romper com as coisas boas da vida, deixadas por Deus para todos os filhos, sem distinção, acredito eu.

Desses últimos, alguns, sem mais nem menos, sequer se esforçaram em fazer uma visita aos amigos nos locais de costume, que no caso da Confraria d’O Berimbau, aos sábados, preferencialmente ao meio-dia em pino. Festejo aqui outros nessa mesma classe que não se fazem rogados em comparecer em datas festivas, cumprimentam jogam uma conversa fora e vão embora.

Não pretendo impingir a alguns a pecha de algum defeito ou vício, e até acredito que alguns cometam essas ausências por simples bizarria ou excentricidade. Dos desaparecidos nas atividades etílicas da Confraria d’O Berimbau, mereceram distinção e louvor alguns desses valorosos quadros retirados dos campos etílicos os cunhados Turrão (José Albertino Bonfim de Lima) e Tolé (Antônio Amorim Tolentino).

Convidados para alguma efeméride ou simples data comemorativa não se furtavam em dar o ar da graça com suas presenças. Com inteligência, levam algumas latas de cerveja sem álcool e não se fazem de rogados em abri-las com aquele conhecido barulho ao retirar os lacres. Mais que isso, Turrão e Tolé participavam ativamente da degustação do filé mal assado preparado com esmero por Zé do Gás.

Com toda serenidade, cumprimentavam a todos os ex-colegas de copo, buscavam assento à mesa ou cadeiras que melhor lhes convinham e faziam de conta que nada mudou. Contavam histórias e estórias, fiscalizavam o velho e surrado caderno de contas e o livro de atas, tudo na mais perfeita sintonia, como se os velhos costumes estivessem mortos e enterrados.

Até hoje não faltam os efusivos convites à dupla (Turrão e Tolé) para retornar às atividades etílicas, por serem considerados quadros valorosos, daqueles bastantes disputados em convites, escolhidos de primeira como na escolha “dos babas” de antigamente. Apenas gracejam das propostas e garantem ser fruto de um passado que não volta mais, bananeira que deu cacho.

Como no futebol, são aposentadorias sentidas, consideradas precoces que não se coadunam com a qualidade de cada um deles. Mas assim é a vida, mudam os costumes, não apenas os relegam como sendo uma atividade a esconder, mas acreditam que o presente é outro. Para tanto, dão uma olhada no retrovisor para garantir as ações do futuro. Sem traumas.

Turão e Tolé, dois ídolos da boemia do passado em Canavieiras.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado, além de autor de livros como Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

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