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Leandro Afonso | www.ohomemsemnome.blogspot.com

É difícil defender, e até falar sobre, O Lobisomem (The Wolfman – Reino Unido/ EUA, 2010), de Joe Johnston (de Jumanji, Jurassic Park 3). O filme é a picaretagem travestida de homenagem, a preguiça disfarçada de tradição; em suma, é uma bobagem que só envergonha quem entrou nele.

A princípio, o filme é uma refilmagem do clássico de George Waggner, de 1941. No entanto, com base nas impressões deixadas, poderia ser descrito como qualquer blockbuster que envolva ação e aventura (à la Michael Bay): nada vai além do barulho, do sublinhar o já perceptível, do tesão em causar dor de cabeça, da vontade de explorar rostos e corpos potencialmente mais ligados à bilheteria que ao encaixe com o papel.

Um momento forte, por exemplo, mostra um homem que, após cair de certa altura, é esmagado por uma cerca. Imagem idêntica, embora com cena diferente, temos no norueguês O Homem que Incomoda (2006), de Jens Lien. Mas a diferença entre ambos, como o óbvio estereotipado pode sugerir, não está numa frieza nórdica diante de um jeito hollywoodiano de filmar ação. A diferença é que um diz o que quer dizer – o que já é um mérito – e diz do seu jeito. O outro não tem o quê nem sabe como dizer.

Pode-se afirmar que a reconstrução de época da Inglaterra é fiel, mas também é inegável que o caráter escuro-sombrio-úmido flerta menos com um classicismo (e domínio) do gênero de terror do que com um recurso fácil para deixar o espectador confuso.

Só a ideia – que temos aqui – de resumir um filme de terror a algum sangue (calculadamente corajoso), cenas violentas (às vezes mal filmadas) e sustos a base de “bus” e “tuns”, já dá uma tristeza absurda, mas, infelizmente, não é só isso o que O Lobisomem consegue. Ajudado pela maioria esmagadora dos filmes do gênero que chegam sem dó e sem talento às telas dos maiores cinemas, uma fatia igualmente marcante do público acha que um bom filme de terror se aproxima disso. E apesar da ideia de o demérito ser coletivo confortar os ligados ao filme, ela não vale para quem gosta do gênero.

O Lobisomem (The Wolfman – Reino Unido/ EUA, 2010)

Direção: Joe Johnston

Elenco: Emily Blunt, Simon Merrels, Gemma Whelan, Benicio Del Toro, Anthony Hopkins

Duração: 102 minutos

Projeção: 1.85:1

8mm

Walter da Silveira

Pela primeira vez tive contato direto e mais abrangente com textos de Walter da Silveira – organizados por José Umberto Dias –, reunidos no livro O Eterno e o efêmero (Oiti Editora). E não deixa de ser curioso vê-lo, em 1958, num texto sobre Kubrick, falar tantas vezes em “autor”.

Filmes da semana:

  1. Amarcord (1973), de Federico Fellini (DVDRip) (***)
  2. 2. O Lobisomem (2010), de Joe Johnston (Multiplex Iguatemi) (*1/2)
  3. O Raio Verde (1986), de Eric Rohmer (DVDRip) (***1/2)
  4. As Aventuras de Robin Hood (1938), de Michael Curtiz e William Keighley (DVDRip) (**1/2)

Curtas:

  1. Perto de Qualquer Lugar (2007), de Mariana Bastos (Porta Curtas) (**)

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Leandro Afonso é comunicólogo, blogueiro e diretor do documentário “Do goleiro ao ponta esquerda”

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