O blog Sopa de Poesia, de Gustavo Felicíssimo, lembra que Jorge Amado, se vivo estivesse, completaria hoje 98 anos. Um dos maiores escritores da Língua Portuguesa, nascido em Itabuna, criado em Ilhéus e cidadão do mundo, Jorge fala de si numa entrevista à Literatura Comentada. Entrevista biográfica concedida ao jornalista Antônio Roberto Espinosa. Confira alguns trechos aqui e leia tudo lá no blog de Gustavo.
LITERATURA COMENTADA – Há meio século, Jorge Amado, você lançou seu primeiro livro. Em setembro de 1981 comemora-se o cinqüentenário de O País do Carnaval. Esta entrevista será incluída num livro dedicado especialmente a você, que será lançado no dia 10 de agosto, exatamente o dia em que você estará completando 69 anos de idade. Nossa intenção é fazer uma entrevista biográfica. Mas, numa entrevista de 1980, à revista francesa Lui, você disse que não gostava de falar de si mesmo. Por quê?
JORGE AMADO – É verdade, não gosto. Tem gente que adora falar de si próprio, alguns porque não têm importância nenhuma e falam para se dar importância, e outros, que são importantes, falam porque gostam. Agora, eu não sou importante e não gosto de falar sobre mim; aliás, não gosto nem de ouvir falar a meu respeito: fico encabuladíssimo, fico assim sem jeito… eu não gosto, é uma maneira de ser.
LC – Portanto, é normal que o público tenha uma grande curiosidade sobre o homem Jorge Amado. Em grande parte, os leitores de Literatura Comentada são jovens que não viveram tudo isso e querem saber suas opiniões, suas versões. Insistindo: essa entrevista tem um objetivo basicamente biográfico.
JA – Está bem, concordo. Estou às ordens. Toca o bonde!
LC – Para começar, você poderia falar um pouco sobre seu pai, João Amado de Faria, e sobre dona Eulália Leal, a dona Lalu, sua mãe.
JA – Eu quero falar um pouco também sobre o meu nascimento porque há uma coisa controvertida. Há notícias diferentes, erradas. Há muitíssimos anos, na Enciclopédia Larousse, da França, existe um verbete que me dá como nascido em Piranji. Piranji é uma coisa que não existe mais. Deve existir outro no Brasil, porque aquele teve que mudar de nome, passou a ser Itajuípe. Outro dia, num texto que escrevi para uma revista que dedicou um número a mim, a Vogue, eu disse que não nasci em Piranji, ao contrário, Piranji eu vi nascer. Eu assisti ao seu nascimento, desde as primeiras casas que foram construídas.
Em geral, me dão como nascido em Ilhéus, o que é muito compreensível, pois eu fui pra Ilhéus com um ano, ou, para ser exato, com um ano e cinco meses, pois fui pra lá em janeiro de 14 e nasci em agosto de 12. Mas eu nasci realmente numa fazenda de cacau que meu pai estava montando, perto de um arraial chamado Ferradas, distrito do município de Itabuna. O nome da fazenda era Auricídia… hoje, o arraial cresceu, chegou lá, chegou até a casa onde nasci. Aliás, faz poucos anos, eu estive lá e a população foi muito generosa comigo, muito cordial, todo mundo me esperando na rua…
Sou nascido em Ferradas, distrito de Itabuna, sou itabunense, ou seja, sou um grapiúna da região do cacau. Mas Ilhéus também é minha cidade no sentido de que é o lugar onde eu vivi a minha infância – a infância, um tempo muito importante na vida da gente. E também a minha adolescência, as férias. Ilhéus é uma cidade extremamente ligada à minha vida, como todo o sul da Bahia, toda a região do cacau. Itabuna fica a 25 quilômetros de Ilhéus. Quando estava em Ilhéus, ia pra Itabuna sempre. Quando morreu meu irmão Jofre, nós fomos pra Itabuna porque minha mãe não quis ficar em Ilhéus. Passamos lá um ano e tanto, foi quando nasceu meu irmão Joelson, que é médico e mora em São Paulo. Dos três irmãos, o único nascido em Ilhéus é James.
Assim, eu sou, ao mesmo tempo, um menino de Itabuna e Ilhéus, como o Adonias Filho, que é nascido em ltajuípe, o antigo Piranji, e criado em Ilhéus.
LC – Seu pai era fazendeiro, pioneiro do cacau …
JA – Meu pai foi um homem que viera muito cedo de Sergipe, da cidade de Estância. Viera no início do século, quando das grandes lutas envolvendo o cacau, ele se envolveu nessas lutas, participou delas…
LC – Lutas pela posse das terras?
JA – A terra não era de ninguém, era mata, ele veio para ocupar a mata. A luta era para ver quem ficava com as melhores terras para plantar cacau. Meu pai plantou essa fazenda Auricídia – aliás, a saga que está contada em Terras do Sem Fim – e, bastante tempo depois, casou-se com minha mãe, dona Eulália Leal, que também era de uma família de desbravadores da terra.
Confira a íntegra da entrevista
2 respostas
Bom ler está entrevista do nosso mais expressivo “contador de estórias”. Nada mais do que isso, foi o nosso JA! E já era muito para a época e as pirambeiras donde veio à luz!
Seu talento extraordinário estava em florear e fantasiar os fatos de sua época, transferindo-os para um papel por meio de um processo de digitação aracaico: a antiga máquina de escrever.
Sei muito bem o que utilizar esse equipamento para redigir. As correções precisavam ser feitas com o que, na época, se chamava “bacalhau”. O “bacalhau” era uma errata colada ao texto original, depois de riscado. Assim, uma única folha de papel podia ter tantos “bacalhaus” quanto as necessidades de dar uma nova redação ao que não ficou bom, aos olhos do redator, depois da revisão.
Estejas com Deus, “Contador de Estórias”!
Jorge Amado
Jorge Adotado
Jorge Odiado
Jorge Amado Pelo Brasil
Adotado Por Ilhéus
Odiado Por Itabuna