A MOCINHA, AO ESBARRAR, FALA “DESCULPA”
Em Lisboa, a mocinha brasileira esbarra numa senhora carregada de pacotes, criando natural constrangimento. Avoada, porém com relativa educação, ela balbucia um “desculpa”… e entorna de vez o caldo! A senhora lisboeta ficou mais irritada com o “desculpa” do que com o encontrão. É que em boa linguagem se diz “desculpe”, segundo o professor Cipro Neto, aquele da tevê. Eu falo “desculpe”, mas nunca fui às fuças de ninguém (menos ainda duma rapariga avoada) que tropeçasse em mim e dissesse “desculpa”. Também serve, ao esbarrar, dizer, com ar angelical: “Você (a senhora, o senhor) me desculpa?”
TUDO DEPENDE DO TOM DE VOZ E DA ATITUDE
“Desculpa” irrita os lusitanos porque tem um tom imperativo, mandatório, como se ordenasse à vítima que desculpasse a grosseria que lhe fizemos. Já “desculpe” parece mais humilde, o pedido de alguém que, de verdade, lamenta o que fez. É assim que eu penso, na companhia de alguns gramáticos. Mas não creio que haja unanimidade quanto a isso, além do que “desculpa” ou “desculpe” terão valores muito próximos, a depender do tom de voz e da expressão facial de quem as pronuncia. Sugere-se que, ao pisar no calo de alguém, mostre-se sentido com o ato – e a palavra será secundária.
AS DUAS FORMAS SÃO ENCONTRADAS NA MPB
O TOM IMPERATIVO É BOM… PRA CACHORRO
SPADE: CINISMO E FRIEZA CONTRA O CRIME
“Se for uma boa menina, sairá em 20 anos e eu estarei esperando. Mas se pegar a forca, sempre me lembrarei de você” (Humphrey Bogart para Mary Astor, em Relíquia Macabra/1941, de John Huston). Bogart é Sam Spade (na foto, o primeiro à esquerda), o detetive mais cínico que a literatura já criou. Suas frases, a exemplo desta, são deliciosas. “Não acreditamos na sua história; acreditamos nos seus 200 dólares”, afirma à cliente. Quando Astor, derretida, diz que ele “caiu do céu”, a resposta é fria como gelo: “Não exagere”. Terno, ele “afaga” a secretária: “Você é um anjo… com coração de cascavel”. Durão, explica ao bandido pé de chinelo: “Se eu lhe der um tapa, vai ter de gostar”.
ENTRE SPADE-HAMMETT E MARLOWE-CHANDLER
O Falcão maltês, livro de Dashiell Hammett (1894-1961), que inspirou o filme, é um clássico noir dos mais cultuados. O detetive Sam Spade, que só aparece nesse romance (além de uns poucos contos que não li), é tido como um dos personagens responsáveis pela consolidação do gênero. Hammett e Spade têm muito a ver, segundo os críticos, com Raymond Chandler (1888-1959) e seu investigador particular Philip Marlowe. A propósito, recebi e (re) li, em fevereiro, uma caixa de cinco volumes de Chandler-Marlowe. Outra confidência: tive uma cadela chamada Asta, como a do ex-detetive Nick Charles, de A Ceia dos acusados (Hammett). Sou fã do romance negro, já se vê.
SÓ “25 DÓLARES POR DIA, MAIS DESPESAS”
CONTEÚDO É PRECISO; NOME NÃO É PRECISO
A cantora Joyce (foto) atende também por Joyce Moreno, devido ao nome do marido, o baterista Tutty Moreno. Mas não costumo aderir a tais “novidades” (eles são casados há apenas 34 anos!): ainda chamo Jorge Benjor de Jorge Ben, Baby do Brasil de Baby Consuelo e Joyce Moreno de Joyce, pois não ligo muito pra nomes. Ulisses Guimarães chamava o PMDB de MDB, sendo fiel à sua saudade. Conteúdo é preciso; nome não é preciso. Até pensei em mudar o meu para Formê vô Bataion, mas fui desaconselhado: Mercúrio e Vênus estão em Áries e Plutão está em Capricórnio, tornando a mudança positivamente desastrosa. Mas voltemos a Joyce Moreno.
UMA MULHER E SUA COLEÇÃO DE ADJETIVOS
Conheci a artista, por imposição profissional, nos anos noventa. Causou-me impressão bem diferente de alguns falsos valores que pululam por aí, montados numa empáfia de fazer pena, talvez para disfarçar o vazio de que são possuídos. Na época, consegui que ela cantasse Clareana (feita para suas filhas Clara e Ana, mais de dez anos antes, em 1980). Adoro essa música, meio berceuse, meio canção de ninar, uma cantiga de mãe-coruja, se me permitem a invenção. Pois eis que há poucos dias, em seu artigo semanal em rede de jornais, Caetano disse estar ouvindo Clareana e pôs Joyce nas alturas.
CANTORA AFINADA E “MÚSICO” EXCEPCIONAL
Respostas de 4
Já que se referiu a forma como os portugueses pedem desculpa,é bom saber que por cá em portugal eles tem uma forma bem grosseira de pedir desculpas, seria assim: desculpa-lá. não há nada mais grosseiro que isso!
Joyce foi casada com um membro do conjunto Boca Livre, o Mauricio Maestro (os outros eram Davi Tygel, Zé Renato e Claudio Nucci, na sua versão original). Quando conheci a Joyce, há 25 anos atrás,ela ja estava separada do Mauricio e era solteira. Não sabia desse novo casamento dela e se existiu não poderia ter 34 anos. Verifique isso.
Muita repetição, essa de Joyce…
Ousarme, dia desses contempla (perdão, sem imperativo, tá querido?) Renato Russo, vem chegando o dia do Achamento do Brasil e ÍNDIOS é sugestiva. Bem… Só sugestão mesmo, você sabe de coisas tão boas quanto, faz a gente viajar…
A pedido de “joao araujo”, fui verificar:
Nossa querida Joyce parece chegada a um casamento, pois cometeu três vezes o tresloucado gesto: primeiro Nelson Ângelo (com quem produziu, além de Clara e Ana, o LP “Nelson Ângelo e Joyce”); depois, Maurício Maestro, por tempo curto, creio que dois anos incompletos, 1975-1976.
Em 1977, conheceu Tutty Moreno, numa casa noturna em que se apresentavam em Nova Iorque, casaram e estão juntos, tudo indica, até que a morte os separe. Não sei a data do casamento, mas se não são 34 anos (2011-1977) o que falta é bem pouco.
Muito obrigado também a “souza” e “leidikeiti”.