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Ceres Marylise com os jornalistas Marival Guedes (esq.) e Antônio Lopes no lançamento de Atalhos...
Ceres Marylise com os jornalistas Marival Guedes (esq.) e Antônio Lopes durante lançamento.

A poetisa Ceres Marylise, nascida em Ubaitaba e residente em Itabuna, lançou no último sábado, em Salvador, seu livro de poemas Atalhos e descaminhos, editado pela Editora Mondrongo, de Ilhéus.
O lançamento e deu na livraria Porto dos Livros (Avenida Sete, 3.564/Loja 2 – Porto da Barra) e contou com a presença de escritores, artistas em geral, jornalistas e amigos da autora, incluindo-se uma delegação de Ubaitaba.
Entre os residentes na Capital que foram prestigiar Ceres Marylise estavam as professoras Consuelo Pondé de Sena e Margarida Cordeiro Fahel e o escritor e jornalista Florisvaldo Mattos.
A poética de Ceres Marylise, sintetizada em Atalhos…, já ecoou em várias cidades brasileiras, a exemplo de Rio de Janeiro, Porto Alegre, Bento Gonçalves, Brasília, Itabira e, na semana passada, Salvador. Após o lançamento em Paris, em março deste ano, a autora tem sido sondada para editar sua poesia em francês e espanhol, com adiantados entendimentos para leva-la a Lisboa e Coimbra.
Da esquerda para direita, Florisvaldo Matos, Consuelo Pondé e Margarida Fahel.
Florisvaldo Matos, Consuelo Pondé e Margarida Fahel participaram do lançamento.

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Ceres declamando na Casa das Artes, em Bento Gonçalves (RS).
Ceres declamando na Casa das Artes, em Bento Gonçalves (RS).

CeresRece
A poetisa Ceres Marylise Rebouças de Souza está em Paris, onde será empossada, no domingo (23), na Divine Académie Française des Arts, Lettres e Culture, durante jantar a rigor no Hotel Jorge V. Antes, pela manhã, na Feira do livro de Paris (Salon du livre de Paris), ela fará o lançamento da seleção de poemas Atalhos e descaminhos, obra publicada pela Editora Mondrongo.
Ceres Marylise nasceu em Ubaitaba (BA), mudando-se para Itabuna, a partir de onde desenvolveu intensa carreira o magistério. Pós-graduada em Alfabetização e Linguística Aplicada ao Discurso, foi por longo tempo professora da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), tendo exercido ali diversos cargos administrativos, sempre eleita pela comunidade acadêmica.
Ela às vezes parece dividida entre as letras e a sala de aula, tal o zelo que mostra pelas duas práticas. “Sempre exerci a poesia sem jamais me afastar da docência, que entendo como uma atividade fundamental, a maior forma de aprendizagem, em termos de troca de experiência humano e também uma tentativa de melhorar o mundo”, afirma.
Atalhos e descaminhos é a primeira publicação solo da poetisa, que tem participado de várias antologias. Uma mostra da produção literária de Ceres está nas antologias Poesia do Brasil (coordenação de Ademir Antônio Bacca), Escritores Brasileiros (organização de Ricardo de Benedictis) e Escola de Escritores e Poetas, com coordenação e prefácio de Arthur da Távola, dentre outras.

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ANALFABETOS COM DIPLOMA E ANEL NO DEDO

Ousarme Citoaian | ousarmecitoaian@yahoo.com.br

Vão pensar que brinco em serviço, se lhes repetir o que li: segundo o Indicador do Alfabetismo Funcional (Inaf), 65% dos brasileiros que concluíram o curso médio não são plenamente alfabetizados. Isto quer dizer: têm dificuldades para entender, interpretar, analisar, avaliar conteúdos, relacionar as partes do texto e distinguir fato de opinião. Se os gentis leitores e leitoras ficaram abalados, sentem-se, pois o pior está por vir: diz o Inaf que 38% das brasileiras e brasileiros de nível universitário encontram-se na mesma situação, ou seja, possuem nível insuficiente em leitura e escrita. Estes seriam os analfabetos de terno, gravata, diploma e anelão no dedo.

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Boçalidades exuberantes e barulhentas

E como fica a tese da classe média dita “formadora de opinião”, em defesa da leitura que liberta, transforma, constrói? É pregar no deserto, discursar para ouvidos moucos, mostrar imagem a cegos. Somos uma nação de analfabetos funcionais tácitos e hereditários, alguns desses (devido à sua alta titularidade sem conteúdo) autoconsiderados sumidades, quando não passam de boçalidades exuberantes e barulhentas. Recentemente, uma desembargadora do Rio, no texto de sua sentença, recomendou aos advogados da causa examinada “adquirir livros de português de modo a evitar expressões que podem ser consideradas como injuriosas ao vernáculo”.

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Atentado contra a língua portuguesa

E ela cita exemplos que atestam serem completamente ignorantes em ortografia os nobres causídicos que apresentaram as contrarrazões do processo: em fasse (no lugar de “em face”), aciste (“assiste”), cliteriosamente (“criteriosamente”), doutros julgadores (“doutos”), estranhesa (“estranheza”), discusão” (“discussão”), inedoneos (“inidôneos”). Fico sabendo de uma curiosidade: “o advogado que atenta contra o vernáculo comete infração disciplinar”, de acordo com a Lei nº 8.906/94 (Estatuto da Advocacia). Logo, este caso sugere a ideia de que os advogados dessa causa deveriam ser processados por tentativa de homicídio. A vítima? A idosa, inculta, porém bela língua portuguesa.

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AS GRANDES HISTÓRIAS DE ANTÔNIO JÚNIOR

Antônio Nahud Júnior, depois de publicar, pelo menos, oito títulos (em gêneros variados), está de livro novo na praça, ainda quente do prelo: Pequenas histórias do delírio peculiar humano. São contos da mais diversa feitura, alguns ditos minimalistas, outros extensos, uns na primeira pessoa, outros tendo o autor como narrador “distante” – mas, em conjunto, todos formando uma celebração da maturidade do artista. E mais não digo para evitar a ociosidade da chuva no molhado, pois Pequenas histórias… é apresentado por Jorge Araújo e Ruy Póvoas, ainda com luxuosas orelhas lavradas por uma especialista em Coelho Neto, a pesquisadora Danielle Crepaldi, da Unicamp.

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O lado penumbroso do ser humano

Para Jorge Araújo, Pequenas histórias…“é livro inquieto e inquietante, que convida ao debate e à inteligência não conformados ainda à inércia do pensar de calças curtas”. E destaca o conto “Sem notícias de Deus” como “soberbo, antológico e definitivo”. Danielle Crepaldi percebe a erudição do autor, salientando que Poe, Miller e Ibsen “ecoam nessas histórias”, também destacando “Sem notícias…”, em que “a crítica social singelamente brota da aridez da fome e do clima nordestino”. Ruy Póvoas afirma que Nahud Júnior tem personagens “em crise de delírio”, que mostram “o lado sombrio do ser humano, sua rede de trevas, que a maioria teima em negar ou ignorar”.

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ALITA PRESTA HOMENAGEM A JORGE AMADO

A Academia de Letras de Itabuna (Alita), presta homenagem a Jorge Amado, com o projeto “A Alita vai à escola”, de 27 de agosto a 5 de setembro. Dia 27 – 19 horas: Cyro de Mattos, com o tema Jorge Amado em Itabuna (auditório da FTC); Dia 28 – 9 horas: Margarida Fahel, com Jorge Amado: um humanista nas terras do cacau (Colégio Militar); 29 – 9 horas: Antônio Lopes, com Jorge Amado: o pão e a liberdade (Campus 2 da Unime); 30 – 9 horas: Gustavo Veloso e Ceres Marylise, com exibição de documentário sobre Jorge Amado, seguido de atividades interativas (Escola Lourival Oliveira – Ferradas); Dia 5/9: Ruy Póvoas, com o tema Jorge Amado: ficcionista, ogã e obá.

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ENFIM, CORONEL RECEBE TÍTULO MERECIDO

A Justiça demorou mas reconheceu, agora em agosto, que o coronel da reserva do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra (sem foto, para a coluna não cheirar mal), chefe dos serviços de repressão a presos políticos em São Paulo (1970-1974), merece o título que com tanta determinação perseguiu: “Torturador”. Ele é tido como símbolo dos agentes da ditadura militar (1964-1985) que, em nome do Estado, sequestraram, torturaram, estupraram, mataram e ocultaram corpos de presos políticos e “inimigos” do regime. Estima-se que 17 pessoas foram assassinadas na “gestão” de Ustra (que usava o codinome de Doutor Tibiriçá e raramente sujava as mãos: apenas dava ordens e supervisionava o “serviço”).

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Dante aprendido no pau-de-arara

Não se sabe (nem interessa saber) se Ustra, um bandido vestido de verde-oliva, lia os clássicos. Mas seus presos tomaram conhecimento, pelo modo mais doloroso, do Inferno de Dante: a quem entrasse naquelas masmorras modernas a lógica perversa mandava, como noCanto III de A divina comédia, renunciar a qualquer esperança de rever o céu. Na minha tradução (de Fábio Alberti, para a Abril Cultural) está, à página 18, uma indagação apropriada ao caso: “Que dor tão cruel se apodera deles e os faz gritar, urrar tão fortemente?” O Doi-Codi de São Paulo, era um inferno; o coronel Ustra, o capeta-chefe.

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SEM TREJEITOS, CHICO CANTA A MULHER-MULHER

Sem aqueles trejeitos homossexuais (que transmitem ridícula caricatura da mulher) Chico Buarque tem um lado lucidamente feminino, isto é, político: não canta a mulher “gostosa”, objeto de desejo sexual, nem tão pouco a mulher-musa, deusa no alto do panteon. Seu discurso é o da dor, da discriminação, do “veneno” e da grandeza dessa costela tirada de um ser já também esfacelado chamado homem. Sua visão, prenhe de poesia e beleza, não é sobre a mulher, mas da mulher. São tantas as canções (Atrás da porta, Olhos nos olhos, O meu amor, Teresinha, Folhetim), mas me detenho numa que ele fez especialmente para Nara Leão: Com açúcar, com afeto.

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“Quando a noite, enfim, lhe cansa…”

O malandro sai de casa em busca de dinheiro para sustentar sua Amélia, mas ela sabe que até a oficina “há um bar em cada esquina” – e ele vai beber, cantar, discutir futebol e olhar as pernas das moças – “coisas de homem”. Isto tudo é dito com rimas magníficas, um ótimo trocadilho (“alegre, ma non tropo”) e um fecho de ouro: finda a farra, o cara (que saiu “com seu terno mais bonito”) retorna “maltrapilho e maltratado” feito um gato após orgia no telhado. Ela tenta zangar-se, mas qual! “Ainda vou esquentar seu prato/dou beijo em seu retrato/e abro os meus braços pra você” – que mulher! A cantora erra a letra (onde estava“há” ela canta “existe”, quebrando o verso), mas não reclamo. Nara Leão tem direito.

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Como se fosse uma conversa de botequim

E antes que vocês queiram ver/ouviresta injustamente pouco executada canção de Chico, um aviso a quem interessar possa: a partir da próxima terça-feira, pretendo responder aos comentários que necessitem de resposta. Nada de chat – ou coisa igualmente chata (ops!): só esclarecer pontos de vista e retribuir a gentileza dos que gastam tempo e tutano opinando sobre esta coluna (alguma coisa como uma inocente conversa de botequim, com permissão de Noel). E com vocês, Nara Leão!

O.C.