Arléo no lançamento da 5ª edição de "Notícia Histórica de Ilhéus", em 2013 || Foto ALI
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O professor Arléo foi um defensor da memória regional e, portanto, agora, compete-nos fomentar a preservação da dele, consequentemente, preservaremos a da Nação Grapiúna.

 

Efson Lima || efsonlima@gmail.com

O professor Arléo Barbosa merece inúmeros adjetivos para qualificar suas ótimas características. Para além da amizade que desenvolveu com inúmeros intelectuais sul-baianos, ele foi um profissional exemplar nas relações de trabalho e formou uma geração de jovens grapiúnas, como eu.  O professor Arléo Barbosa não lecionava, ele narrava a História como se estivesse vendo os fatos e com isso transportava-nos para a cena. Provocava-nos paixão pela  disciplina e não importava quais fatos seriam estudados, ele conduzia-nos com tamanha maestria, cativando-nos, sem prejuízo da reflexão crítica. O quadro de giz estava sempre pronto, mas não para receber a sistematização conteudista, e, sim,  as sínteses em forma de linha do tempo que passavam a fazer parte para sempre de nossas memórias.

Infelizmente, os humanos morrem e com a passagem para o além das linhas físicas, impõe-se uma enorme dor e uma saudade que misturada com sofrimento no primeiro momento vai sendo amenizada nos dias vindouros e vai deixando os melhores registros. Comentários maravilhosos não faltarão sobre o professor Arléo Barbosa. Certamente, inúmeros, centenas, milhares estão a aparecer. Lembro-me do dia 11 de setembro de 2001, quando ele me recebeu no Colégio Fênix para conceder uma entrevista sobre  a História de Ilhéus; recordo – me também dele ter me recebido em janeiro de 2020 para conceder entrevista sobre a Academia de Letras de Ilhéus e a atuação dele na Academia. Professor Arléo não limitava tempo; não fazia cara feia e não faltava conteúdo para abordar em suas entrevistas, exposições e aulas.

Tive o prazer de participar do lançamento de uma das edições do livro Notícia Histórica de Ilhéus, sem sombra de dúvida, o primeiro lançamento em que fui na vida, estive acompanhando a então vereadora Marlúcia Paixão e Élvio Magalhães, assessor da edil naquele tempo. Quem não se lembra das revisões do professor Arléo Barbosa, no programa Bahia Meio Dia, da TV Santa Cruz, sobre possíveis assuntos a serem cobrados no vestibular da UESC? Professor Arléo lecionou em dois momentos tendo eu na turma: um intensivo para o vestibular da Uesc e durante todo o ano de 2005, no Pré-vestibular Fênix.

O professor Arléo Barbosa vai deixar um império, não do ponto de vista físico ou financeiro, mas toda uma geração que lhe conheceu e lhe renderá tributo pelo compromisso em que sempre teve com a educação e com as pessoas. O professor Arléo foi o maior historiador da Nação Grapiúna. Nas entrevistas, humildemente, ele referendava uma estudiosa americana que havia pesquisado sobre Ilhéus. Professor Arléo juntamente com a professora Horizontina Conceição iniciou uma sistematização sobre a História de Ilhéus. Na sequência,  visando as comemorações dos 100 anos de elevação de Ilhéus à categoria de cidade, conseguiu arregimentar o livro Notícia Histórica de Ilhéus, que alcançou a 5ª edição.

Professor Arléo Barbosa faleceu neste sábado (19), em Ilhéus

Na última conversa que tive com ele, o professor pensava em reeditar a obra. O livro se tornou uma referência para todos e continuará sendo. As obras dele ficarão eternizadas e continuarão a compor as referências de diversos cursos e obras. Mas elas precisam ser incorporadas na vida das escolas e em definitivo na vida acadêmica das universidades da Bahia. Não se pode falar de Bahia sem  abordar a Capitânia de São Jorge de Ilhéus e sem tocar na Nação Grapiúna, e não significa ser bairrista, regionalista. Os fatos evidenciam a necessidade do conteúdo a ser tratado para compreender o chão baiano e a brasilidade que nos movem. Qualquer aspecto fora dessa linhas é tentativa de impor o cerceamento e contar os fatos pela metade.

A região merece fazer inúmeras homenagens ao professor Arléo Barbosa. Lamento profundamente ele não ter recebido o título de doutor honoris causa pela Universidade Estadual de Santa Cruz, quiçá um póstumo? Mas, não choremos o leite derramado, avancemos: a Universidade pode criar, em parceria com a Academia de Letras de Ilhéus, concurso monográfico/ ensaísta para saudar esse grande mestre. Deixemos as nossas vaidades de lado para reconhecer o mérito daquele que foi gigante no seu tempo e continuará a ser. Não se trata de favor, mas de obrigação e estímulo à promoção da Historiografia. Outras homenagens merecem ser articuladas, que tal Câmara de vereadores, a Prefeitura de Ilhéus entrarem em ação? O professor Arléo foi um defensor da memória regional e, portanto, agora, compete-nos fomentar a preservação da dele, consequentemente, preservaremos a da Nação Grapiúna.

As contribuições do professor Arléo são percebidas na nota da Editus, Editora da Universidade Estadual de Santa Cruz, que lamenta a morte do escritor e ressalta que  ele “durante anos, se dedicou a pesquisar e ensinar a história regional. Atuou como parecerista da Editus por diversas vezes, sempre dedicado e prestativo. Era também integrante da Academia de Letras Ilhéus e nunca poupou esforços para compartilhar conhecimentos e saberes.”

O professor e jornalista Alderacy Júnior, um estudioso da literatura regional, exibiu nas redes sociais a primeira edição do livro Nhoesembé,  exemplar constante na Sala de Leitura Ruy Póvoas, na Casa Ouro Preto, em Ilhéus e para saudar a memória do professor Arléo Barbosa, ele perfilou “ Vou recordar do Arléo como um grande cidadão, uma pessoa que amava história e soube ser o historiador.”  Ele ressalta ainda que ministrava cursos de Redação na Academia de Letras de Ilhéus, quando o professor Arléo Barbosa era o então presidente do sodalício.

O canal Tupy no mundo, no Instagram, gerenciado por Sophia Sá Barretto, fez uma homenagem ao professor Arléo Barbosa, cujo historiador esteve em uma live promovida pelo perfil e mediada pela professora Maria Luiza Heine. Na rede, elas entabularam as homenagens recebidas pelo eterno mestre em vida: “Cidadão Ilheense e detentor da Comenda de São Jorge dos Ilhéus por serviços prestados à cidade. Mestre em Educação na linha de História e Cultura. Membro da Academia de Letras de Ilhéus. Professor da UESC por muitos anos até  sua aposentadoria[…]Um exímio Especialista em História Regional, História Contemporânea e em Educação Brasileira e foi Diretor Pedagógico do  Colégio Fênix de Ilhéus”, concluiu o perfil no Instagram.

As homenagens ao professor Arléo Barbosa sucedem nas redes sociais, diversas pessoas e autoridades postam sobre o falecimento do professor Arléo Barbosa, mas, especialmente, evidenciam a contribuição dele para a formação de cada um e as relações interpessoais sólidas estabelecidas, bem como o vasto subsídio do educador para a educação e a promoção da História Regional.

Alcides Kruschewsky, em caixa alta no Facebook, exclamou “ARLÉO BARBOSA, IMORTAL!” e avançou para considerar que “Faleceu a maior referência viva da educação de Ilhéus, da cultura, do saber…Este era talvez uma das últimas excelentes referências incontestáveis na área educacional da nossa cidade, na nossa cultura. Um patrimônio invejável, um acervo inestimável, um talento inimitável, com uma ternura indispensável.” O ex-vereador em Ilhéus e colega de trabalho em uma repartição bancária não poupa adjetivos para qualificar a vivência afetiva de ambos. Sem dúvida, o professor Arléo Barbosa foi isso para quem o conheceu.

Sem embargo, Nelson Simões, ex-candidato a prefeito em Ilhéus, na postagem do ex-vereador, diz o seguinte:  “Será que existe um único cidadão ou cidadã em Ilhéus que tenha tido o desprazer de ter sido ofendido pelo professor Arléo? Não há! Meu professor de História em 73 e 74 no CEAMEV. Contava a História. Desde os primórdios a vivenciou. Um brilhante intelectual. Ilhéus mais pobre. Arléo Barbosa saí da vida e entra na História”, concluiu de forma brilhante a postagem.

O professor Ramayana Vargens, em áudio aos seus confrades da Academia de Letras de Ilhéus, disse que o professor Arléo Barbosa foi um ser “corajoso e empreendedor na educação. Excelente diretor de escola. Pessoa querida por todos que o conheciam. Um grande humanista”. Ainda Ressalta o papel desempenhado pelo professor na sistematização do livro sobre a história de Ilhéus,  que reverberou para difusão da cidade no Brasil e no exterior.

Infelizmente, temos que oferecer adeus ao eterno mestre e professor Arléo Barbosa, mas é sem pleonasmo. Foi professor e mestre de diversas gerações. Estava sempre com o conteúdo pronto e atualizado na mente, a didática nos dedos e no exercício performático da docência. Para além do império educacional que construiu, pois, sua obra segue em cada um de nós, ele buscou ter uma família generosa. Aproveitemos  para agradecer a professora Cláudia Arléo por tão bem cuidar do homem público que foi o professor Arléo, igualmente, as generosidades dos filhos ( Roberto, Ronaldo, Renato, Rosana e Thiciano) e daqueles que compuseram o conceito ampliado de família.

Efson Lima é doutor, mestre e bacharel em Direito (Ufba), advogado e membro da Academia Grapiúna de Letras  e membro-eleito para a Academia de Letras de Ilhéus.

O sul da Bahia perde Arléo Barbosa
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O sul da Bahia perdeu, neste sábado (19), o professor e historiador Carlos Roberto Arléo Barbosa, de 82 anos. O velório de Arléo Barbosa ocorre na Loja Maçônica Vigilância e Resistência, na Avenida Itabuna. O sepultamento está previsto para este domingo, no Cemitério da Vitória, às 10h30min.

No mês passado, Arléo foi internado no Hospital São José, em Ilhéus, depois de ter sido infectado pela Covid-19. O professor foi intubado, chegou a apresentar melhoras, mas o quadro de saúde dele foi agravado nas últimas horas. Faleceu hoje, deixando uma legião de fãs órfã.

Arléo Barbosa foi presidente da Academia de Letras de Ilhéus (ALI) no período de 2009 a 2013 e professor da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), de 1974 a 2008, além de escritor admirado e respeitado. Entre as obras de Arléo estão Monarquismo e Educação (1972); Nhoesembé (1973); Ilhéus (2010) e Notícia Histórica de Ilhéus.

Arléo Barbosa nasceu em Jequié, no sudoeste da Bahia, mas ainda  adolescente foi morar em Ilhéus. Em 1988, o professor fundou o Colégio Fênix. Em 2004 foi homenageado com a entrega da Comenda do Mérito São Jorge dos Ilhéus, título dado a homens e mulheres que colaboram para o progresso do município.

ACADEMIA DE LETRAS

Membro da Academia de Letras de Ilhéus, o professor Arléo Barbosa deixa a esposa, Cláudia, cinco filhos – Roberto, Ronaldo, Renato, Rosana e Thiciano – nove netos e quatro bisnetos.

O prefeito de Ilhéus, Mário Alexandre, lamentou a morte do educador e lembrou a sua dedicação e o seu comprometimento com o resgate cultural e histórico do município. “Ilhéus perde um exemplo de mestre, ser humano e de cidadão. O professor Arléo Barbosa fez uma revolução no estudo de História e se tornou a memória da nossa cidade. Deus o acolha no Reino Celestial e, na sua infinita misericórdia, conforte a todos”.