Marival Guedes, de Salvador
O jornalista e escritor, doutor em Comunicação, Emiliano José, participou em Salvador de um debate sobre a “Democratização dos Meios de Comunicação”, promovido pelo Levante Popular da Juventude.
Emiliano foi vereador, deputado estadual e é suplente de Deputado Federal (PT). Nesta entrevista ele fala também sobre a ação que o pastor Átila Brandão, acusado de torturar presos políticos, ingressou contra ele. E aborda os governos Lula e Dilma e o mensalão.
BLOG PIMENTA – O que significa a democratização dos meios de comunicação? Como seriam os meios de comunicação democratizados?
EMILIANO JOSÉ – Seria, do ponto de vista formal, absolutamente simples: bastaria que os artigos de 220 a 224 da Constituição Federal fossem regulamentados e respeitados. Só que, na correlação de forças do Brasil, não há nada simples com relação a esta questão. Creio que nós avançamos muito de 1985 pra cá, e avançamos de maneira acelerada nos últimos dez anos com os governos do presidente Lula e com a presidenta Dilma.
PIMENTA – Quais os principais avanços?
EMILIANO – Especialmente as políticas estruturantes de distribuição de renda possibilitando que 70 milhões de pessoas mudassem sua qualidade de vida, possibilitando a constituição de um mercado de massas no Brasil, velha bandeira de toda a esquerda brasileira, com os programas que foram colocados em prática, de modo especial o Bolsa Família, o programa de valorização do Salário Mínimo, o Prouni, a Política de Cotas, a valorização dos negros e das negras, o reconhecimento da presença da mulher na vida brasileira, os direitos humanos. Tudo isso indica um novo Brasil, um país bastante diferente.
PIMENTA – Mas ainda falta muito.
EMILIANO – A gente reconhece que a concentração de renda ainda é gigantesca, a desigualdade ainda é grande e as condições de vida do nosso povo precisam melhorar muito. Acabar com a miséria extrema é apenas o primeiro passo.
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A GRANDE MÍDIA: Esta velha mídia é herdeira direta da Casa Grande.
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PIMENTA – Voltando à democratização da mídia brasileira…
EMILIANO – Neste quesito, inegavelmente, não conseguimos andar. Não temos ilusão de mudar a grande mídia, a mídia hegemônica. Ela vai continuar sendo o que é, um grupo de poucas famílias que controlam o discurso de interpretação do Brasil. Esta velha mídia é herdeira direta da “casa grande”, vem lá de trás. Ela tem uma visão preconceituosa, elitista. A senzala deve ficar no seu lugar sem se mexer. Este preconceito desrespeitoso, por exemplo, contra o presidente Lula vem de lá. É como se afirmassem que um sujeito operário nordestino não teria o direito de invadir o território da casa grande que é a Presidência da República.
PIMENTA – Não acha a reação natural, diante de séculos de controle?
EMILIANO – Mas não foi Lula, foi o povo que decidiu governar o Brasil. E esta mídia suporta menos ainda o fato de que Lula foi o maior presidente da história do Brasil.
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DEMOCRATIZAÇÃO – Este grupo não quer sair de cena e não queremos que ele saia de cena. Só que queremos democratizar a mídia.
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PIMENTA – Na leitura do senhor, a chamada grande mídia defende um grupo. Seria isso mesmo?
EMILIANO – A casa grande tem lado e não descansa. A mídia diz: “ nós é que devemos ser oposição a este projeto político de esquerda”. Judite Brito, presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ), declarou isso em 2010: “a oposição é muito fraquinha, então, nós temos que cumprir o papel que ela não cumpre”. Então se assumem como partido político. [Antonio] Gramsci, notável intelectual italiano, dirigente comunista, tratava disso lá atrás. Ele diz que um grupo de jornais ou revistas pode se constituir num partido político. Este grupo não quer sair de cena e não queremos que ele saia de cena. Só que queremos democratizar a mídia.
PIMENTA – De que forma seria esta democratização?
EMILIANO – Vinicius Lima, um dos intelectuais que mais têm estudado esta questão, diz que é preciso horizontalizar a propriedade dos meios no Brasil. Por que apenas um grupo de famílias pode ser dono das ondas eletromagnéticas, das redes de TV, das emissoras de rádio? Por que políticos têm que ser donos dos meios de comunicação? A Constituição proíbe os monopólios dos meios de comunicação, mas nós só vivemos de monopólios. Não se permite a propriedade cruzada, porém temos propriedade cruzada.
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REGULAÇÃO NOS EUA: Ora, os Estados Unidos por acaso censuram ao proibir a propriedade cruzada?
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PIMENTA – A proposta de regulação da mídia provoca muitas reações.
EMILIANO – Quando falamos na regulação, a velha mídia salta com sabre na mão dizendo que queremos a censura. Ora, os Estados Unidos por acaso censuram ao proibir a propriedade cruzada? Eles têm regulação muito rigorosa.
PIMENTA – O que deveria ser modificado aqui no Brasil nesta área?
EMILIANO – Nós precisávamos de uma legislação que proibisse que políticos detivessem o controle dos meios de comunicação, que não houvesse monopólio, propriedade cruzada, não se fizesse o escândalo cotidiano do desrespeito aos direitos humanos que a Constituição proíbe. Alguns programas extrapolam, e muito, a legalidade ao exibir pessoas presas, ao exibir o sangue, a morte, ao propor praticamente a pena de morte. Programas horrendos cotidianamente são exibidos na TV aberta. É preciso modificar isso.
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ESCÂNDALO SIEMENS-METRÔ: Fossem Serra e Alckmin do PT, eles diriam: os dois ladrões meteram a mão no dinheiro público.
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