Marco Palmeira e Antônio Fagundes foram protagonistas da versão original de "Renascer" || Divulgação
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A Rede Globo confirmou que fará a nova versão (remake) da novela Renascer em 2024. O anúncio oficial ocorreu nesta quarta-feira (12), durante o encontro de criatividade Rio 2C, no Rio de Janeiro.

Há quase dois meses, o PIMENTA revelou a vinda de equipe do núcleo de teledramaturgia da emissora para fazer trabalho de pesquisa (pré-produção) para as gravações do remake da novela.

O remake será escrito por Bruno Luperi. Ele veio ao eixo Ilhéus-Itabuna em meados de fevereiro, quando entrevistou produtores rurais e esteve, também, na Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), na Rodovia Ilhéus-Itabuna (BR-415).

Bruno é neto do autor de Renascer, Benedito Ruy Barbosa. A novela Renascer é considerada um dos maiores sucessos de audiência e repercussão da Globo dos últimos 30 anos.

SUL DA BAHIA NA TELA

Gravada nos municípios de Ilhéus, Itabuna e Barro Preto, no sul da Bahia, em 1993. A fazenda Morro Redondo, em Barro Preto, é a principal locação da primeira gravação da novela.

A versão original de Renascer reuniu em seu elenco nomes de peso da teledramaturgia brasileira, dentre eles, Antônio Fagundes, José Wilker, Fernanda Montenegro e Osmar Prado. O trabalho também revelou para o mundo o talento do itabunense Jackson Costa, que interpretou o padre Lívio. Ainda foi marcado pelas atuações dos novatos Adriana Esteves, Marcos Palmeira e Maria Luísa Mendonça.

A novela narra a saga de José Inocêncio, produtor rural de relação conflituosa com o filho João Pedro, interpretado por Marcos Palmeira. A esposa de Zé Inocêncio morre ao dar à luz João Pedro, o caçula do casal. O que era relação conflituosa se torna ódio, quando o filho começa a namorar Mariana (Adriana Esteves) e por ela o patriarca da família se apaixona.

Abaixo, o PIMENTA republica trecho de Renascer em que o itabunense Jackson Costa declama a poesia de Otávio Barbosa Júnior, irmão de Benedito Ruy Barbosa e tio de Bruno Luperi.

Fernanda Montenegro e Maria Bethânia
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“Maria Bethânia e Fernanda Montenegro são das letras, exalam para a sociedade brasileira empoderamento e valorizam ainda mais os campos artísticos, entrelaçando-os”.

 

 

Efson Lima || efsonlima@gmail.com

A inscrição de Fernanda Montenegro para compor o quadro da Academia Brasileira de Letras tem gerado um debate interessante na sociedade brasileira. A pergunta “quem é das letras?” surge repentinamente. Não obstante, o tema adquiriu maior relevância em terras baianas com a escolha de Maria Bethânia, na segunda-feira última (11), para compor a Academia de Letras da Bahia, cuja instituição já ultrapassou o centenário.

Na semana passada, uma figura pública baiana, em diálogo comigo, informava que havia recusado o convite para pertencer a uma determinada Academia de Letras, na Bahia. A pessoa não se sentia à vontade, pois, mesmo com publicações em periódicos, não se encaixava no conceito das artes e das letras. Refutei, pois o currículo da pessoa a credencia para as mais diferentes funções. Além de inteligente, uma figura humana dedicada ao que faz e exemplar gestora.

De fato, a polêmica surge se nos mantivermos presos ao conceito estrito de “letras”, mas não é o que preconizam os objetivos e as finalidades dessas casas literárias. O termo deve ser compreendido no sentido amplo. Turva-se também, pois muitos veem o termo “arte” como sendo inerente apenas às atividades artísticas. Em uma sociedade em que se debate os conceitos de “criatividade” e “inovação” tardiamente, a confusão se justifica, mas não permite a nossa caminhada enquanto estratégia de desenvolvimento.

Surgem também outras polêmicas necessárias no caso da eleição de Fernanda Montenegro para a Academia Brasileira de Letras, pois a consideram uma mulher branca e de classe média alta. Recuperam rapidamente a figura de Conceição Evaristo, uma mulher destacada na literatura, mas, segundo alguns, foi defenestrada no processo eleitoral por razões raciais entre outras querelas. Considero uma injustiça à autora pois, esquecem de destacar o currículo do concorrente: Cacá Diegues. Não avançarei nessa polêmica, quase todas as críticas levantadas são válidas, mas não podemos analisar somente a fotografia do momento sem considerar a série histórica de fotografias e o processo histórico de quem é fotografado e de quem fotografa. De fato, o tecido social brasileiro ainda não está representado em diversos espaços.

Retomemos ao debate de quem são das letras. Como já esboçado, o termo “letras” deve ser compreendido de forma elástica. Não pode ser visto tão somente por quem escreve, pelo contrário, precisa ir em direção à oralidade. Não somente por aquele que faz e/ou estuda literatura, mas também por aquele que está a esboçar as diversas literaturas e diversos fazeres.

A práxis é uma arte constante. Bob Dylan ao ganhar o Prêmio Nobel, em 2017, provocou reflexões no planeta. As letras de suas canções justificavam a premiação na área da literatura segundo os julgadores. À guisa de curiosidade, o primeiro Curso de Letras no Brasil foi ofertado a partir de 1933, na então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Sedes Sapientiae, que, posteriormente, em 1946, foi transformada na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Portanto, a institucionalização do termo enquanto formação ocorre bem depois da fundação da Casa de Machado de Assis em 1897.

A Academia de Letras da Bahia assegura no seu artigo primeiro que “tem por objetivos o cultivo da língua e da literatura nacionais, a preservação da memória cultural baiana e o amparo e estímulo às manifestações da mesma natureza, inclusive nas áreas das ciências e das artes”. A Academia Brasileira de Letras estabelece que tem por finalidade promover “a cultura da língua e da literatura nacional” Portanto, essas instituições preconizam os saberes culturais, os valores humanísticos e a ciência encartada nas diversas áreas dos saberes.

Não me resta dúvida de que Maria Bethânia e Fernanda Montenegro são das letras, exalam para a sociedade brasileira empoderamento e valorizam ainda mais os campos artísticos, entrelaçando-os. As suas presenças físicas nessas instituições demonstram um louvor à interdisciplinaridade, cuja prática parece ser tão cara ao cotidiano brasileiro. Elas são guaxe de uma nova esperança. São poíesis para nosso tempo a despertar boa imaginação e bons sentimentos, sem prejuízo da práxis.

Efson Lima é advogado, professor, escritor e doutor em Direito pela UFBA.