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Tyrone Perrucho

 

Hoje, quando a Ceplac ultrapassa em um ano a idade com que foi sepultado o coirmão Instituto de Cacau, estaria ela em vias de desencarnar, vítima de falência múltipla em seu já debilitado corpo?

 

 

Outrora um órgão moderno e pujante, a esvaziada Ceplac dos últimos tempos carrega nas costas, já cambaleante, o peso dos seus 62 anos de vida, criada que foi em 1957.

Criado em 1931, o Instituto de Cacau da Bahia foi também, em seus primeiros tempos, um eficiente órgão prestador de serviços à região, e que terminou extinto em 1992, aos 61 anos de existência.

Então, ao tempo em que vivenciamos os 62 anos da Ceplac, vêm à memória lembranças do falecido Instituto de Cacau, sepultado aos 61 anos. Vem daí, o título deste artiguete.

Pode ele ser tomado como um textinho insólito, ou descabido, mas que não passa em verdade de uma simplista elucubração sobre os dois instrumentos de governo que permearam os últimos 88 anos desta região (1931-2019).

Quando se emitiu o atestado de óbito do Instituto de Cacau em 1992, ele já era, há tempos, uma espécie de zumbi, um organismo morto com a aparência de vivo, sinais vitais irremediavelmente comprometidos.

Hoje, quando a Ceplac ultrapassa em um ano a idade com que foi sepultado o coirmão Instituto de Cacau, estaria ela em vias de desencarnar, vítima de falência múltipla em seu já debilitado corpo?

Sei de ceplaqueanos que já lavaram as mãos, dizendo-se desiludidos com o rumo das coisas. Sei também de outros que, ainda na ativa, têm esperanças de reversão dessa marcha batida para o fim.

Num e noutro grupo há gente capacitada para conceber uma nova Ceplac, afinada aos novos tempos. Mas seria mesmo o caso, nesses tempos bicudos de hoje, de se propor uma nova Ceplac? Ou de se fazer o que já se fez com boa parte de seu quadro de pessoal, acoplá-lo a outros órgãos? E aí esses outros órgãos, que já atuam Brasil afora, incorporariam nossa região às suas jurisdições?

Por que vejo hoje a Ceplac capengando nos seus 62 anos é que me ocorre que foi, aos 61 anos, que se fez o funeral do saudoso Instituto de Cacau.

Uma coisa tem a ver com a outra? Ou não tem?

Em tempo: Me desliguei da Ceplac por aposentadoria após 30 anos de trabalho. Isso já faz 25 anos e até hoje, não poderia ser diferente, ela está presente em mim. Confesso que sinto saudades daquele tempo e abatimento com o que vejo, sinto e sofro hoje.

Tyrone Perrucho é ceplaqueano e jornalista aposentado.

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Marival Guedes | [email protected]

Leal deu o troco: “não entendo porque um médico sério e competente como Adib Jatene tem a coragem de sacrificar um bezerro para salvar a vida de Antônio Carlos.”

Nas eleições de 86 os principais candidatos ao governo do estado eram Josaphat Marinho e Waldir Pires. O primeiro apoiado pelo governador João Durval e pelo ministro das comunicações Antônio Carlos Magalhães. Manuel, leal a Antonio Carlos, era superintendente da Companhia Viação Sul Baiana, “vaca leiteira” dos candidatos governistas.

O esquema funcionava com transferências de recursos para o ICB (Instituto de Cacau da Bahia), principal acionista. Quando o dinheiro era depositado na conta da empresa no Baneb, um assessor da Sulba sacava e entregava aos candidatos. Às vezes também os políticos vinham buscar o dinheiro da arrecadação na “boca do caixa”.

Numa dessas operações Manuel Leal, temendo problemas, ligou para o deputado Luís Eduardo Magalhães reclamando contra a sangria, e ouviu: “meu pai lhe colocou aí pra você fazer política.” Waldir Pires venceu a histórica eleição. Com a derrota do grupo, Leal foi procurar um dos beneficiados, eleito deputado federal, para saber como ficaria a contabilidade da Sulba. Mas este estava de partida para os Estados Unidos e mandou o superintendente “se virar”.

O rompimento

Manuel procurou Antonio Carlos e quando fez o relato ouviu a frase que marcaria o rompimento: “você deveria ter me avisado. Estou me sentindo traído. E abandonou o fiel escudeiro que passou a responder na justiça pelos desvios de recursos.

Troca de farpas

A partir daí começaram as trocas de farpas. Antônio Carlos retornou ao governo da Bahia nas eleições de 90 e visitou Itabuna. Magoado, Leal, proprietário do jornal A Região, publicou foto de ACM passando pela porta da casa de dona Sarinha, viúva do prefeito José de Almeida Alcântara, que muito ajudou o governador. Na legenda escreveu que ACM sequer cumprimentou a viúva, numa clara prova de ingratidão. O chefão ficou furioso.

Veio novamente a Itabuna inaugurar o colégio Amélia Amado e “destilou” a maior parte do discurso contra Manuel Leal, que há algum tempo havia se submetido a uma cirurgia cardíaca, sendo atendido pelo famoso Adib Jatene a pedido do governador. Sarcástico, pediu desculpa a Itabuna por ter salvado a vida de Manuel Leal. Aproveitou e “aconselhou” os empresários a não anunciar no jornal do ex-aliado.

Mas Antônio Carlos também tinha se submetido a uma cirurgia cardíaca  e recebeu enxerto extraído do coração de um bezerro. Manuel Leal deu o troco numa auto-entrevista ao jornal de sua propriedade: “não entendo porque um médico sério e competente como Adib Jatene tem a coragem de sacrificar um bezerro para salvar a vida de Antônio Carlos.”

Marival Guedes é jornalista e escreve às sextas no Pimenta.