Tempo de leitura: 3 minutos

Allah Góes | allah.goes@gmail.com
 
 

Se Ubaldo pudesse ter tido mais uma oportunidade de governar
Itabuna, teríamos uma cidade mais humana e melhor planejada. Faltou-lhe habilidade política, pois administrativa tinha de sobra.

 
 
Uma das primeiras eleições em que tive uma participação mais ativa, e isso com 17 anos, foi a eleição municipal de 1992, uma das mais acirradas e surpreendentes disputas da história política de Itabuna. Muitos pensavam que seria o retorno triunfal do grande gestor Ubaldo Dantas ao cargo de prefeito, mas não foi bem isso que aconteceu. Faltou “combinar com o eleitor”.
Ubaldo Porto Dantas havia governado Itabuna de 1983 a 1988, eleito por uma das sub-legendas do PMDB. Além de ter feito uma gestão proba, reunindo um dos melhores “times” de Secretários Municipais que essa terra já viu, conseguiu mudar a cara da cidade, “abrindo ruas”, criando o Sítio do Menor Trabalhador. Enfim, fazendo gestão e planejando a cidade para ser, de fato, a Capital do Cacau.
Por causa daquilo que fez em seu governo, Ubaldo se apresentava em 1992 como “o candidato a ser batido”. O prefeito de Itabuna era o atual prefeito Fernando Gomes que, por não existir a possibilidade de reeleição, havia escolhido como o seu candidato à sucessão o também ex-prefeito José Oduque Teixeira, de quem havia sido secretário de Administração.
Todos pensavam que a disputa daquele ano se daria entre esses dois personagens. Ledo engano. Correndo por fora, com pouco tempo de televisão – que até hoje é fundamental para se vencer uma eleição, também disputava a peleja o jovem técnico agrícola da Ceplac e, naquela época deputado estadual, Geraldo Simões de Oliveira. Como todos sabem, acabou sendo eleito prefeito.
Ubaldo achava que o conjunto de suas ações, durante o período em que foi prefeito, aliado ao desgaste que naquele momento vivia o prefeito Fernando Gomes, lhe garantiria uma vitória fácil, tanto que impôs como seu vice naquela disputa o seu homem de confiança, Moacir Lima, que, politicamente, nada acrescentava à chapa. A escolha e o tom imperial da decisão levaram a diversas defecções em seu grupo político.
Lembro-me de uma reunião tensa, logo após a convenção, onde fui levado pelo jornalista José Adervan. E pude ver um Nérope Martinelli, que era uma das principais lideranças do grupou ubaldista, transtornado devido à infeliz decisão acerca da escolha do vice, anunciar que estaria “deixando o Grupo”.
Conheci Martinelli quando militávamos no movimento estudantil secundarista e, naquele momento, pude testemunhar a força que o mesmo tinha, não apenas junto ao empresariado local, mas também com os desportistas e estudantes, agregando muito mais que o vice imposto por Ubaldo.
Na época em que iniciamos a reorganização da UESI (União dos Estudantes Secundaristas de Itabuna), juntamente com Adilson José, Josivaldo Gonçalves, Fabio Lima e outros, Martinelli nos ajudou bastante, chegando a incentivar a pré-candidatura de Emanoel Coelho, presidente do Grêmio do CIOMF, a Vereador, candidatura essa que não vingou por conta de sua saída do grupo ubaldista.
E assim, Ubaldo Dantas, contando apenas com seu estafe mais próximo, iniciou a campanha daquele ano em que de inicio até chegou a polarizar com Oduque, dando a entender que seria eleito, mas, por causa do acirramento da campanha televisiva, em que se utilizou de ataques pessoais, de lado a lado, acabou fazendo com que seu eleitor fosse migrando para a candidatura da “zebra” Geraldo Simões, que ali já contava com o significativo apoio de João Xavier e de Martinelli.
O resto, tudo mundo já sabe: Ubaldo e Itabuna perderam. Nada contra Geraldo Simões, o vencedor daquela eleição, e que no final fez uma boa gestão. Mas acredito que, se Ubaldo pudesse ter tido mais uma oportunidade de governar
Itabuna, por conta daquilo que se viu em sua gestão, teríamos uma cidade mais humana e melhor planejada. Faltou-lhe habilidade política, pois administrativa tinha de sobra.
Allah Góes é advogado municipalista, consultor de prefeituras e câmaras de vereadores.