—
SAUDOSISMO E MÁ-FÉ: A MISTURA PERIGOSA
Recebo frequentemente (quem não as recebe, atire a primeira pedra) gracinhas recolhidas em exames públicos, nunca sei se reais ou inventadas. É que o Brasil costuma acalentar o pensamento saudosista (às vezes em mistura perigosa com a má-fé) de que “antigamente tudo era melhor, sobretudo a escola”. Besteira. Energúmenos jovens e adultos sempre os tivemos à mancheia, e até guardo o sentimento de que essa raça – se acaso não estiver em extinção – estranhamente viceja muito mais entre adultos do que entre adolescentes. Os meninos e meninas de hoje, penso, são bem mais preparados do que seus ancestrais. E menos conservadores.
FANTÁSTICOS BEÓCIOS DO TERCEIRO GRAU

QUALQUER ESTULTICE PODE SER SUPERADA

PÉRICLES FOI O DITADOR DA DEMOCRACIA

O BARZINHO E A SUBVERSÃO DA LINGUAGEM
A mídia regional tratou um concurso musical realizado em Itabuna recentemente como “Fase dos Barzinhos”. E tinha que ser assim, pois a escolha do nome foi dos promotores, não dos divulgadores: “Barzinhos” é uma estranha forma de fazer o plural de substantivos terminados em “zinho”, não reconhecida pela gramática portuguesa, que manda seguir outro processo em tais casos: 1) ignora-se o “zinho”, 2) coloca-se o substantivo no plural, 3) retira-se o “s”, 4) recoloca-se o “zinho” em seu lugar original e 5) acrescenta-se o “s”. Pãozinho, por exemplo: 1) pão; 2) pães; 3) pãe, 4) pãezinho, 5) Pãezinhos.
A REGRA QUE OS BRASILEIROS REFORMARAM

“É BRASILEIRO, JÁ PASSOU DE PORTUGUÊS”

INVEJA TIROU NOBEL DE CARLOS CHAGAS

DITADURA TIROU NOBEL DE DOM HÉLDER
O terceiro brasileiro seriamente cotado para o Nobel foi o cardeal-arcebispo Dom Hélder Câmara (foto). Apelidado “Bispo Vermelho”, pela ditadura militar que assaltou o poder em1964, foi autor de um dos maiores programas sociais do Nordeste, o Operação Esperança. Em 1970, reuniu mais de 20 mil pessoas em Paris para denunciar torturas no Brasil. Por suas obras, foi indicado ao Nobel da Paz de 1970 a 1973, tido como favorito absoluto nas quatro vezes. Mas nunca foi escolhido, devido a pressões do governo brasileiro. Na época, por ordem dos militares, nossa mídia sequer “conhecia” D. Hélder: não falava dele bem nem mal.
NO NOBEL, ARGENTINA NOS DÁ GOLEADA

COMENTE! »
CANTO MASCULINO EM VOZ DE MULHER

CORAÇÃO EM CHAMAS, ALMA DILACERADA

“EU TE OFERECEREI PÉROLAS DE CHUVA”

8 respostas
Acho que Noel percebeu que nossa língua é viva, vivíssima! Já pensou se falássemos como nos livros de Machado de Assis? Haveria muita pompa, norma culta e ratificada colonização. Felizmente, penso que falando livremente, misturando formas e conceitos, somos transgressores dessa colonização linguística e cultural, sendo ao mesmo tempo criativos e imponentes contra o elitismo proposto por alguns mestres da gramática… Eita, que este assunto rende muitas discussões!
Há um equívoco no tocante a Dom Hélder Câmara. No período da Ditadura Militar falava-se dele, sim, na imprensa. Uma pesquisa rápida no acervo digital da Veja mostra 53 citações exatas para “Hélder Câmara” entre 1968 e 1974.
Pô, cara!
Como gostaria de ter escrito isto!
Não se aborreça com a ousadia… Endosso o artigo até nas vírgulas.
Peço licença para sugerir mais dois adjetivos “elogiosos”: parlapatões e capadócios (com o devido respeito aos turcos nascidos na localidade).
Gostei da caricatura do talentoso Noel.
Conheci e visitei como poucos o local onde Noel Rosa nasceu, viveu e compôs: a Vila Isabel.
De galpão de Escola de Samba a “barzinhos”… Aliás, “barzinhos” é o que não falta na Vila – de Isabel e Noel. Eles podem ser encontrados dois dois lados do charmoso Boulevard 28 de Setembro.
As calçadas do Boulevard são feitas de pedras portuguesas que desenham as partituras das músicas do Noel.
Ainda é o bairro mais boêmio do Rio, apesar de a concorrência hoje ser grande.
Lembro-me do primeiro livro que minha filha Luciane leu: A Vila, de Isabel a Noel. Ganhou em um concurso promovido por uma instituição. Claro, não deixei também de ler.
Pena que a bebida e o fumo tenham levado o Rosa ao 33 anos. De resto, ficaram suas belíssimas composições e as calçadas do Boulevard. Ah, também emprestou seu nome para batizar um pequeno túnel que liga a Vila ao bairro do Jacaré/Jacarezinho e grande parte da Zona Norte, predominantemente suburbana.
ADSUMUS!
Enigmático Sr. “O.C.”,
parabéns pela deliciosa coluna!
É um deleite dominical!
Sou leitora assídua!
Na minha opinião deveria ser a coluna mais comentada desse blog, mas…(Até tenho a minha hipótese sobre isso…).
A referência de Souza Neto a Noel Rosa me deixou com um nó na garganta, pois me fez lembrar que quando o poeta morreu a lua chorou e suas lágrimas caíram, sobre os oitis do boulevard (que já perdeu o charme francês e virou bulevar). Quem o diz é o compositor Sebastião Fonseca, em “Violões em funeral”, homenagem a Noel, que cito de memória:
“Vila Isabel veste luto/ pelas esquinas escuto/ violões em funeral… Choram bordões, choram primas/ soluçam todas as rimas/ numa saudade imortal…
Entre as nuvens escondida/ como de crepe vestida/ a lua fica a chorar… E o pranto que a lua chora/ goteja, goteja agora/ nos oitis do bulevar…
Adeus, cigarra vadia/ que mesmo em sua agonia/ cantava pra não morrer/ Tu viverás na saudade/ da tua grande cidade/ que não te há de esquecer…
Adeus, poeta do povo/ tu ressuscitas de novo/ quando na morte descambas… Senhor de pele mais clara/ onde o Senhor encarnara/ a alma sonora dos sambas…
Toda a cidade soluça/ todo o Brasil se debruça/ sobre o caixão de Noel… Estácio, Matriz, Salgueiro,/ todo o Rio de Janeiro/ consola Vila Isabel”.
Jamais consegui cantarolar estes versos sem me sentir fortemente emocionado. Ao que sei, Sebastião Fonseca só fez esta letra (musicada por Sílvio Caldas). E, pela parte que me toca, não precisava fazer outras.
Muito obrigado a todos.
“Coisas que eu sei…”
Também penso que sei.
Muita gente sabe.
Aliás, quase todos sabem!
Essa “hipótese” não comento,
Porque ela é uma certeza…
Vamos ficando por aqui…
Os meus dedos incontroláveis
E o teclado sem defesa…
Ou eu encerro essa prosa
Ou acabo postando o que sei.
Nove anos, foi o tempo que morei vizinho da Vila Isabel. Da Uruguai pro Boulevard bastava atravessar a Maxwell e a Teodoro da Silva. Pronto. Estava na charmosa Vila de Noel, Isabel, Martinho e de todos que gostam de samba, bossa-nova, pagode e de bebericar num barzinho de esquina.
No Livro “A Vila de Isabel a Noel”, consta que a Princesa gostava de recolher-se em terras da Coroa que ficavam nas proximidades da Vila. Não era exatamente na Vila. Ficava um pouco mais para dentro. Pras bandas do Andaraí e do Grajaú. A Vila era o caminho carroçável por onde se ia até lá.
Mas o batismo do bairro com o nome da Isabel se deu por outras razões. Um cara (Barão de Drummond – o criador do jogo do bicho) comprou as terras e era um ferrenho abolicionista. Batizou o local de Vila Isabel para homenagear a Princesa. O bairro foi urbanizado com inspiração parisiense. Daí o nome Boulevard 28 de Setembro, renomeando a então Estrada do Macaco. E, por falar em “macaco”, não da mais pra subir: Macacos, Andaraí, Cachoeirinha, Borel, Salgueiro, todos na Grande Tijuca, mega bairro que abriga a Vila e outros locais extraordinários da Zona Norte carioca.