PODEMOS IR À EUROPA, MAS NUNCA À ROMA
“BEM-VINDO À ITABUNA DE JORGE AMADO”
Quem tem dinheiro vai a Portugal, a Maceió e a Curitiba, e também à Inglaterra, à Escócia e até à Finlândia (que, todos sabem, é o fim da terra). E quem tem boca vai a Roma, diz o brocardo (ou à Roma dos Césares, diz a gramática). As regras para saber a escolha entre a e à são encontradas facilmente – e não é nosso propósito vestir toga de magister coimbrão. Motiva-nos a exceção que permite escrever à Itabuna, à Ilhéus, à Roma e semelhantes: é quando ao nome do lugar segue-se uma qualificação. “Bem-Vindo à Itabuna centenária” salvaria o cartaz da foto. Ou esta, que gostaria de ver publicada (por ela não cobro copirraite!): “Bem-Vindo à Itabuna de Jorge Amado”.
NENHUM PROBLEMA PARA UMA BOA AGÊNCIA
A VIDA NEM SEMPRE BOA DE UM HOMEM BOM
CARINHO PARA COMPENSAR FRUSTRAÇÕES
Teria uma mulher à porta do barraco nesses fins de jornada, a inquiri-lo sobre a produção do dia? Será que ela sabe quão raro é esse homem simples que cata papelão? Tomara que sim, e que ela possa premiá-lo com seu carinho exclusivo, em recompensa pelo trabalho nem sempre rendoso. Talvez, após o jantar frugal, ele veja a novela das nove, fugindo à sua realidade de homem pobre. Ou não. Saberia quanto ganha um deputado, um senador, um ministro do Supremo, e pensaria, com a ideologia calhorda que lhe foi inculcada, que é “natural” a divisão entre pobres e ricos? Nada sei desse homem, a não ser que ele é um trabalhador discreto e honesto.
DONO DO MEU RESPEITO E SOLIDARIEDADE
IDEIA CERTA, MAS FORMULADA COM ERRO
NO BOM TEXTO, O CAMINHO DA SALVAÇÃO
Para não cair nessa armadilha na hora de escrever, basta inverter a frase, quando aflora a necessidade da forma plural: “Dos que mais falaram, Wagner foi um”, “Dos países que mais protegem, o Brasil é um”, “Das artistas que mais cantaram da festa, Alcione é uma”, e por aí segue o andor, com zelo, pois o santo é frágil. Não devemos nos cansar de chamar a atenção para o cuidado exigido no manuseio da linguagem a ser praticada pela mídia. Parece óbvio que a leitura dos bons textos ajuda muito. Logo, quem não quiser a literatura “comum”, sirva-se da bíblia (sempre um bom texto), que nos oferece um conselho sábio: “orai e vigiai”.
DISCO DE BOSSA-NOVA EM RITMO DE GUERRA
Era 1963, na Rua 48, Nova Iorque. Numa reunião de trabalho entre João Gilberto, Stan Getz e Tom Jobim, João, que estava com o mau humor em dia, fala, em português: “Tom, diga a esse gringo que ele é muito burro”. Tom, em inglês: “Stan, João está dizendo que o sonho dele sempre foi gravar com você”. Stan Getz, sentindo cheiro de sujeira: “Pelo tom de voz, não parece que é isto que ele está dizendo”. Apesar do clima belicoso nas gravações (veja a cara de João, na foto), o resultado é um dos melhores discos do século XX: o LP Getz/Gilberto ganhou dois Grammy, deixando para trás ninguém menos do que os Beatles (A hard day´s night).
MONICA GETZ: MISSÃO QUASE IMPOSSÍVEL
Além dos três artistas famosos, estavam presentes àquele momento histórico a bela (em dois sentidos) cantora Astrud Gilberto (na foto, com Tom), mulher de João, responsável pelo êxito de Garota de Ipanema, que “vendeu” o álbum, e Monica (mulher de Stan) e que cumpriu uma missão considerada impossível: tirar João do quarto de hotel onde ele se encerrara e convencê-lo a, diariamente, trocar o pijama pelo terno e ir com ela ao local onde se realizavam os ensaios para a gravação. Lá estava também (eram dez pessoas, no total) o baterista Milton Banana, na flor dos seus 28 anos, o revolucionário da bateria da Bossa-Nova.
GRAVADO NO ESTILO “UM, DOIS, TRÊS, VAI!”
É inacreditável que esse álbum, já com 47 anos de idade, tenha sido gravado em apenas dois dias. Hoje, grava-se primeiro a “cozinha” (piano, baixo e bateria), para depois o cantor “botar a voz”; em Getz/Gilberto tudo foi feito ao mesmo tempo, no estilo “um, dois, três e… vai!”. Se um errasse era preciso começar de novo – mas ninguém errava, pois eram todos cobras criadas. O resultado está aí: um álbum atual (agora em CD, a linguagem contemporânea), que parece saído da prensa ontem. Nós, o público, sequer suspeitamos da guerra que foi a produção desse clássico da Bossa-Nova.
ARI BARROSO ERA BOSSA-NOVA E NÃO SABIA
O álbum, com dez faixas de BN ainda teve lugar para homenagem à MPB “antiga”, com Pra machucar meu coração (Ari Barroso) e Doralice (Caymmi). Coisas de João Gilberto. João e Stan Getz voltaram a gravar juntos em 1975 (The best of two worlds featuring João Gilberto) quando, segundo João Lins de Albuquerque (Conversações – Editora Cultura/2008), as relações deles ficaram ainda mais azedas. No vídeo, a inesquecível Corcovado, de Tom Jobim, com Astrud (voz), João Gilberto (voz e violão), Tom Jobim (piano), Stan Getz (sax tenor) e Milton Banana (bateria). Momento raro da canção brasileira, ao alcance de um clique.
(O.C.)
(O.
Resposta de 0
Sr. “O.C.”,
Fiquei encantada com tamanha sensibilidade! Refiro-me ao post sobre o trabalhador que é um catador de papelão.
Sou sua fã! Rsrs.
Oh, O.C., só posso entender seu comentário de que o seu irmão poderia ter escolhido ser bandido e morar em um palácio, mas preferiu a vida de catador de lixo, como ironia. Os bandidos oficiais não admitem qualquer um na confraria,não. As regras estão estabelecidas por eles, incluindo salários vultuosos e muita mordomia.
Que linda matéria! Parabéns, sábio amigo.No meio de tantos homens sem caráter, surge um ser humano que possui alma de Anjo.Sobrevive do que cata no lixo, porém mantém a dignidade.Esse merece o seu comentário e nossa admiração.Afinal de contas, embora cate coisas no lixo, com este não se contaminou.
sobre as placas indicativas na br 415 proximo ao los pampas sentido Ilheus tem 2 placas numa delas a distancia entre Itabuna e Ilheus é de 25 km em outra logo após a distâmcia aumenta para 32 km.curioso não,será que estamos andando para tras.
Parabens ao nobre escriba pela sua belíssima correção na escrita da placa anunciante do “Codornas”, na chegada a Itabuna. Vale lembrar, apenas, que o “assalto” linguístico tem sido comum no nosso Brasil, de fora a fora, de uns tempos para cá. Aqui no Espírito Santo, onde passo uma breve chuva, lê-se, em placas expostas nas beiradas da BR 101: “Antes de construir as margens da rodovia, consulte o Dnit”. Aqui como aí, quando não se coloca a crase inadivertidamente, é hábito comê-la de relepa!
Parabéns!Ao visualizar a imagem me reportei a mesma pessoa que descreve .A arte de escrever que nos possibilita falar de sentimentos compatilhados por seres “desconhecidos”.
Ana Moraes,
Itabuna-Bahia