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Celina Santos | celinasantos2@gmail.com

E o pior: esta entidade abstrata chamada Sistema Informatizado do INSS, que não tem rosto, nem cheiro, nem história de vida, simplesmente determina que um rapaz pobre vá fazer perícia em Vitória (ES).

Utilizo este espaço para relatar uma história que urge por um final feliz. O protagonista da triste novela real chama-se Adriano Barbosa Ferreira, de 26 anos, morador do bairro Nova Ferradas, em Itabuna. Ele é epiléptico, tem focos e coágulo no cérebro. Conseguiu apenas dois empregos em toda a vida. No último deles, era ajudante de cozinha num restaurante, mas foi demitido ao ter uma crise e cair em cima do tacho de comida.

Desde 2006, o rapaz tenta obter um benefício junto ao INSS. Quando tentou trabalhar em Campinas-SP, sofreu um acidente e uma alma generosa lhe pagou um ano de contribuição. Mas ele decidiu voltar para a Bahia, onde estava sua família. Aí começou uma humilhante peregrinação. Já fez “n” perícias, condição imprescindível para obter o benefício. Todas as tentativas foram frustradas, para desolação do pobre jovem.

E o pior: esta entidade abstrata chamada Sistema Informatizado do INSS, que não tem rosto, nem cheiro, nem história de vida, simplesmente determina que um rapaz pobre vá fazer perícia em Vitória-ES. Ainda que não tenha dinheiro para custear a passagem e hospedagem, e precise da caridade alheia para dormir numa caçamba fria e empoeirada. Essa é uma das amargas histórias que conta Adriano. Além de reunir uma série de testemunhas que ajudam com passagens.

O tal Sistema também já agendou para ele perícias em Foz do Iguaçu-PR, Salvador e São Paulo, sem falar das poucas vezes em que se sentou diante do Senhor Perito (outro que não parece ser humano) em Itabuna e Ilhéus. A última tentativa frustrada foi dia 4 de abril de 2011, em Salvador. Ele conseguiu chegar até lá graças às contribuições de pessoas que cruzam seu caminho.

Chegando Adriano Barbosa à perícia na capital, o Senhor Perito não quis sequer ver a ressonância, laudos e receitas que atestavam sua incapacidade para o trabalho. Simplesmente, mais uma vez, negou-lhe o benefício e abortou o caminhão de sonhos que o jovem levava em sua pasta de documentos transparente e surrada.

A cada perícia marcada, Adriano via renovada a esperança de ter um terreninho para plantar e colher, já que não é aceito no mercado de trabalho formal; sonha em comprar seu remédio (que muitas vezes falta na farmácia da Dires – não se sabe o porquê, já que o Ministério da Saúde é legalmente obrigado a fornecer a medicação para todo aquele que fizer dela uso continuado. Isso é lei!).

O mais simples de tudo (mas para Adriano e sua família é complicado): ele sonha em comprar o pão de cada dia. Aquele feijão-com-arroz que certamente nunca faltou na mesa do Senhor Perito do INSS. Assim como nunca faltou na mesa daquele que inventou o frio sistema do órgão.

Celina Santos é pós-graduada em Jornalismo e Mídia, e chefe de redação da revista CONTUDO.

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