LUIZ GONZAGA FAZIA ACORDES, NÃO VERSOS
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Os grandes letristas quase esquecidos
“Era excelente musicista”, atesta o respeitável especialista em Direito Municipal (e ex-roqueiro de igual respeito) Adylson Machado. As comemorações deixaram Humberto Teixeira em quase completo esquecimento, o que me pareceu grande injustiça com quem escreveu um monte de “clássicos” cantados pelo Rei. Cito de memória (além de Asa branca) várias outras, algumas delas obras-primas do gênero, no meu modesto entender: Juazeiro, Qui nem jiló, Estrada de Canindé, Paraíba, Assum preto, Respeita Januário, Mangaratiba, No meu pé de serra, Lorota boa… De Zé Dantas falei em outras colunas: Vozes da seca, A volta da asa branca, Letra i, Riacho do Navio, Cintura fina, Paulo Afonso. A ignorância vigente na mídia é de espantar.
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SEM MISÉRIA, NÃO HÁ JAZZ “DE VERDADE”
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“Num quarto sujo, cheio de percevejos”
Este raciocínio, segundo Ruy Castro (no livro Tempestade de ritmos), foi montado pelos franceses, lá pelos anos trinta/quarenta, e de forma eficiente, “porque até hoje há quem acredite nele”. A teoria tenta preservar o músico de jazz como o tipo “bom selvagem” de Rousseau: negro, pobre, injustiçado, escravo do jazz, do álcool e da heroína, mas firme e incorruptível. Diante das “concessões” que levam à boa vida, escolhe vegetar num quarto sujo, cheio de percevejos (vide os filmes ´Round midnight e Bird, já referidos nesta coluna). “Duke Ellington, a caminho do seu alfaiate, tremia de medo dessa teoria”, ironiza Ruy Castro. Confesso que esse tipo me fascina – creio que fui formado nessa escola romântica.
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No fim, boleros derramados, em espanhol
Para ficar apenas num nome (que o espaço é tão pequeno para tanto amor), citemos o velho Nathaniel Adams Coles (1919-1965): pianista, tornou clássica a formação piano-guitarra-baixo, era cultuado pelo seu trio de jazz “autêntico”. Foi assim até resolver cantar canções “comerciais”, quando passou a ser execrado pela crítica. Esta jamais o perdoou por gravar e vender Mona Lisa, Unforgettable, Blue Gardenia e (aí nem eu aguentei!) uma enxurrada de boleros derramados, em espanhol. De ternos bem cortados, e dono de muitos dólares, Nat King Cole era discriminado no bairro rico onde residia. A gorda conta bancária não foi bastante para ofuscar o racismo, contra o qual ele era combatente.
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(ENTRE PARÊNTESES)
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EU VOLTAREI TÃO LOGO A NOITE ACABE
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Feridas abertas e sangue derramado
Em A vida quer é coragem (do jornalista Ricardo Amaral), biografia da presidenta Dilma, surge a uruguaia Maria Cristina no capítulo intitulado “Tão logo a noite acabe”. Amaral conta que Cristina ligou-se à guerrilha no Brasil, devido à paixão que tinha pelo militante Tarzan de Castro, do PCdoB, preso em 1969, e amigo do ex-marido de Dilma, Carlos Araújo. As duas dividiram a mesma cela, em São Paulo, por oito meses. Quando a uruguaia, levada para as sessões de tortura, retornava, Dilma tratava das dores e lhe chamava a atenção para a letra de Paulinho, como uma espécie de bálsamo, ao cantar “Fechar a ferida e estancar o sangue”. Sentiam-se menos sós e desamparadas: lá fora, uma voz lírica dizia que a iniquidade não era eterna.
(O.C.)
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É, meu caro Ousarme, já vão longe os tempos em que o jornalismo se fazia com talento e conhecimento dos assuntos enfocados. O tempo da Última Hora, onde você teve o privilégio de trabalhar guarda esse passado.
Fico imaginando a efervencência daqueles cérebros e o frenesi das teclas da máquinas de datilografia, envolta em cortina de fumaça dos cigarros na redação.
Todas às vezes em que converso com jornalistas e lhes pergunto se já leram “minha Razão de Viver”, Samuel Wainer, fico surpreso com o fato de que alguns confundem com livros de autoajuda, outros simplesmente dão de ombros.
Uma indigência mental de doer combale esses sujeitos. Presas fáceis de patrões inescrupulosos.
“…tempos difíceis para os sonhadores…”pois é . Às vezes perece que estamos dentro de um PESADELO, do qual fica difícil escapar. Lembra aquele no qual as pernas não obedecem ao pânico, à vontade de correr???