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ENTREVISTA QUE PARECE FRATURA EXPOSTA

Ousarme Citoaian | ousarmecitoaian@yahoo.com.br

1 ECAUm programa de tevê usou (é literal o termo) uma criança para entrevistar, comprometer e constranger o deputado José Genoíno – criando uma grande polêmica sobre se houve ou não arranhões ao direito da criança, definido em lei. Como este espaço fala de jornalismo, mesmo que ninguém haja pedido minha opinião, dou-a, ainda assim. Deixo a criança ao juizado competente e atenho-me à outra face, o “entrevistado”, para dizer que “arranhão” é muito pouco: o que percebi foi a ética gravemente traumatizada, algo comparável a uma fratura exposta. Genoíno, condenado pelo Supremo Tribunal, não é santo, mas não cabe à mídia fazer-se de carrasco e executar penas.

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Chegaremos à tortura de entrevistados?
Diria aos jovens repórteres que o recurso da câmera escondida, comum nas tevês, me cheira a jornalismo policialesco, um segmento que me ocorreu inventar agora, e que nada tem de bom: tapeia-se o entrevistado para lhe “arrancar” o que ele não quer dizer. Se todos os meios são válidos para obter declarações (até explorar a inocência de crianças), daqui a pouco teremos “repórteres” torturando entrevistados, só para saber o que estes têm a declarar. Se o entrevistado não quer falar, precisamos respeitar seu direito (lembrem-se de que os tribunais, que têm a força, respeitam essa prerrogativa). Se Genoíno não quer falar à imprensa, está no direito dele.
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A lição que toda mãe pode transmitir
3Código de éticaEncerrando, uma observação para os repórteres que ainda raciocinam fora dos padrões em voga: todo entrevistado tem o sagrado direito de, em frente à mídia, saber com quem está falando e a que veículo pertence quem o entrevista. Se esse contato não for feito às claras, estaremos empregando truques e artimanhas que não pertencem à profissão, e tampouco a engrandecem. No mais, se alguém achar que esta coluna defendeu o deputado não terá entendido nada. Aproveitando, uma “lição” sobre ética, que qualquer mãe é capaz de transmitir ao filho (e que serve não só para o jornalismo, mas para a vida): trate os outros da forma como gostaria de ser tratado.
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(ENTRE PARÊNTESES)

Com nada menos do que três e-mails (supostos) leitores desta coluna perguntam onde e como adquirir o livrinho Estória de facão e chuva, do qual a Editus/UESC fez recentemente a segunda edição. Creio que, em sendo a leitura artigo de quarta necessidade, toda uma trinca de leitores potencialmente interessados já ascende o autor ao seleto panteão dos best-sellers regionais, e para atender a tanto interesse esta nota foi feita: Estória… está à venda (além da loja de varejo da Editus, na UESC) na Livraria Nobel, no Shopping, Itabuna, e na Livraria Papirus, na Dois de Julho, Ilhéus.

AUTOR “BRITÂNICA” DIVULGA OBRA DE MARX

David HarveyLeio, com alguma surpresa, este título de primeira página (os inventores de desnecessidades agora chamam primeira página de… “capa”!) num dos principais jornais de Salvador (um que antigamente se gabava de só “dar” verdades): Britânica explica obra de Marx. “Britânica”?  – me interrogo, olhando a cara barbadíssima e nada feminina do geógrafo britânico David Harvey, especialista no pensador alemão que remexeu o mundo e até hoje provoca insônia e urticária na sociedade capitalista. E retornei à antiga dúvida: as razões que levam a mídia a erros tão grosseiros (no caso, uma expressão com cinco palavras, que passou pelas vistas de várias pessoas na redação).
“Poucos se arriscaram a chegar perto”
Mas deixemos de lado o que não tem conserto e, parece, nunca terá. Importante é que o estudioso, com o livro Para entender O Capital (que está à minha cabeceira) incita o público a (re) visitar um dos autores mais importantes da humanidade, um de quem, nas palavras de Harvey, “todos já ouviram falar, mas poucos se arriscaram a chegar perto”.  Aos que, movidos por mercantis filosofias, trombeteiam “o marxismo acabou!”, o analista “britânica”, com 40 anos falando do tema em universidades americanas, afirma que o pensamento daquele barbudo com cara de Jorge Araujo pode ser usado para entender o mundo de hoje – e aponta condições de trabalho (China, Tunísia e México) “similares ao que Marx previu”.

WILSON SIMONAL E O TEMPO DAS CINZAS

7Simonal-SarahUm jovem cantor negro brasileiro dialoga com uma das divas do jazz, tratam-se como iguais e ele até a leva a pronunciar, em português, bobagens como “vou deixar cair” (uma gíria da época). O cantor é Wilson Simonal, aos 30 anos; a diva é Sarah Vaughan, com 45; o ano, 1970. Em outro momento, no Maracanãzinho lotado, ele transformou o público num imenso coral e pôs todos a cantar Meu limão, meu limoeiro em duas vozes, afinados, no tempo certo. Era o “Coro dos 30 mil”, regido por Simonal, que estava com tudo e não estava prosa, até vendia “Para, Pedro!” na França (alguém se lembra?), rivalizava em popularidade com Roberto Carlos. Mas como não há bem que seja eterno, veio o tempo cinzento.
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A queda tão rápida quanto a ascensão
Simonal sumiu das paradas, deixou de fazer shows, ninguém queria gravá-lo mais. Seu crime? Divulgou-se que ele era dedo-duro do DOPS, a entidade que investigava, prendia, torturava e matava os inimigos da ditadura militar. A queda foi rápida como a subida: em 1975, na RCA Victor, a todo vapor, em 1980 grava na Copacabana e vende pouco, em seguida o mesmo resultado na Ariola, vai de déu em déu, até seu último registro, na Happy  Sound (?) em 1998. Em 2000, esquecido e execrado, morreu de cirrose, provocada pelo alcoolismo em que mergulhou. Calava-se uma das mais esmeradas vozes da MPB. A familiares, o cantor dissera, pouco antes: “Eu não existo na história da música brasileira”. No vídeo, Simonal antes da queda, durante show em Lisboa.


(O.C.)

7 respostas

  1. Wilson Simonal foi vítima sórdida,assim como Ubaldo Dantas,aqui em Itabuna!
    (…)
    Wilson Simonal,na década de 60 e 70 rivalizava com Roberto Carlos e por ser negro e de origem humildes causara muita inveja,o que uma oportunidade suje é um prato aos algozes. Óbvio que houve erro por parte do Simonal, se um contador dar um desfalque,o caminho não seria o que o cantor tomou,era prestar uma queixa na delegacia e entrar na justiça.
    Se o artista fosse um agente do Dops (polícia Política que patrulhava a sociedade),certamente o mesmo não seria condenado.
    O que eu penso é que o Simonal foi vítima de um viés da banda podre dos agentes do Dops,os mesmos se aproximara do artista para tirar quaisquer informações,não obstante,Wilson Simonal,deve ter ficado deslumbrado por falta de malícia,o que
    veio causar e sujar sua biografia.
    Ambas vítimas acima citadas,calúnias de jornalistas!
    “No Brasil o sucesso é ofensa pessoal” Tom Jobim.1927-1994.

  2. Professor (O.C.), você é uma ótima companhia. Aguardo você, todos os domingos nesse espaço azul; azul da cor do mar, do Jazz, MPB, e de ricos comentários. Como velho jornalista, você protesta sutilmente, sobre a liberdade de imprensa, no caso Genoíno, eu também! Simonal: ainda bem que ele nos deixou o Simoninha e Marx de Castro. Confesso, ele foi infeliz ao tratar de um suposto desvio econômico, levando o caso para o subterrâneos da ditadura. Ele perdeu, MPB perdeu; todos perdemos. Sobre o professor inglês e Marx, vou aguardar mais noticias desse universo!

  3. O grupo do PASQUIM, Ziraldo e cia que foram os autores da campanha contra Simonal. Covardes como foram os milicos que mataram a muitos.
    Vergonha. a justiça inocentou a Simonal de que nunca delatou ninguém. So porque ele deu uma dura no contator que o roubava há anos.

  4. Ilustre professor, no episódio Genuino, não vou entrar no mérito do certo ou errado, se o CQC foi ou não leviano, cada um pensa aquilo que achar mais lógico é óbvio. Em relação se o texto CQC x GENOÍNO é ou não uma defesa do deputado, eu acho que é sim, a defesa ficou caracterizada com a inclusão do episódio “SIMONAL”, o que fizeram com o deputado, fazem a todo momento com pessoas detidas nas delegacias e nas ruas, mesmo sem nenhuma prova o detido é logo achincalhado pelo tem com um microfone empurrado guela abaixo, e ainda é até hoje não tive notícia de que a OAB e ABI se pronunciassem a respeito.
    Wilson Simonal:
    Ali sim, houve uma um verdadeiro massacre e não um simples achincalhamento, tenho quase 70 anos e me lembro muito bem daquela covardia, não teve nada de perseguição por que o cara era negro ou outras baboseiras, sobre estilo musical, seus piores e principais algoses foram, em primeiro lugar êle próprio depois Ziraldo e Jaguar, com “O PASQUIM” eles decidiam quem era do bem ou do mal, para quem não sabe, Simonal foi julgado e condenado pelo crime contra seu ex-contador, na época seu acusador foi o promotor Antonio Biscaia, que décadas depois se filiou ao PT, aos mais jóvens, os artistas que ficaram no muro e não defenderam Simonal, fizeram por medo do patrulhamento do PASQUIM e dos terroristas da época, o processo policial durou de 72 a 76, praticamente todo no governo Médici e a perseguição feita pelo PASQUIM não dava trégua ao cara, foi após sair a sentença e êle ser preso que as gravadoras e as casas de espetáculos se afastaram.
    CURIOSAMENTE, O PASQUIM FOI FUNDADO POR Jaguar EM 69 NO GOVERNO Médici, NA PIOR FASE DA DITADURA, UM SEMANÁRIO COMBATIVO QUE SOBREVIVEU ATÉ 1991. A DITADURA SÓ FOI ATÉ 1985. NO ENTANTO Jaguar E Ziraldo RECEBERAM UMA GORDA INDENIZAÇÃO E MENSALMENTE RECEBEM SUAS BELAS PENSÕES, VIU S´PO COMO A COISA FUNCIONA Filho de Mutuns.

  5. Nessa guerra entre políticos e imprensa creio que as casamatas estão lotadas de canalhas. Não vejo inocentes nem vítimas nesse embate, e também não identifiquei nenhum desrrespeito ao estatuto da criança e do adolescente pelo CQC.
    Considero que, mesmo o garoto não tendo consciência da natureza da sua ação no CQC, existe um aspecto lúdico no ato. E já que ná há inocentes nessas trincheiras, coloquemos um pouco da inocência brincalhona do garoto.
    Não vejo nenhum mal na ação da criança.
    E, viu Ricardo Ribeiro, se devemos considerar fascista a postura do CQC em relação a Genoíno, também devemos condenar as ações contra Marco Feliciano, Renam Calheiros, José Sarney etcaterva.
    Viva a liberdade de expressão. Abaixo a corrupçaõ e qualquer tentativa de controle da imprensa.

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