“SE A MONTANHA NÃO VAI A MAOMÉ…”
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“Sou apenas um pobre homem de Itabuna”
No belo poema “Cacau, canto, clamor”, do livro Poesia reunida e inéditos, Florisvaldo Mattos escreve sobre a ascensão e queda da agricultura regional: “…livres de turbantes, burkas e sandálias,/ outros mais, mais outros, enfim dezenas,/ vieram, por desejo de erguer e construir/ o que a alma na carne gravara como dívida”. É evidente a citação de “As pombas”, de Raimundo Correia (em itálico) – e eu, de propósito, citei Ascensão e queda do terceiro reich, de William Shirer. Hélio Pólvora, um dos poucos para quem vale o lugar-comum “dispensa apresentação”, costuma autointitular-se “apenas um pobre homem de Itabuna” – Eça de Queirós (1845-1900) se disse “apenas um pobre homem de Póvoa de Varzim”.
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Voltaire é citado em diário de Itabuna
Em artigo recente em importante jornal diário, o autor diz que o povo de Itabuna não vive “no melhor dos mundos” – empregando, bem, uma expressão tirada de Voltaire (1694-1778), em Cândido ou O otimismo. Machado de Assis, com sua vasta cultura, usou muito a citação, às vezes em língua estrangeira: Et nunc et semper (do latim, “nunca e sempre”), no conto O anel de Polícrates, é de São Mateus, 5:9; “… como a esposa que desce do Líbano”, no conto Último capítulo, vem do Cântico dos Cânticos. E é impossível não lembrar que Hemingway tirou do livro de Salomão um dos títulos mais importantes da literatura mundial: O sol também se levanta. A citação, sobre ser prova de conhecimento e bom gosto, é homenagem ao citado e ao leitor perspicaz.
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(ENTRE PARÊNTESES)
ALIENAÇÃO E CONCEITOS POR EMPRÉSTIMO
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O alienado não influi nem contribui, é um inocente inútil; o outro, também inocente (mas útil), é perigoso, pois anda a espalhar “verdades” sob encomenda. É por esse caminho do “pouco conhecimento” que elegemos candidatos inadequados (para empregar um eufemismo) ou transformamos em herói qualquer pessoa que, a exemplo do jurista Joaquim Barbosa, desempenhe razoavelmente bem suas funções. Tentei evitar Brecht, mas não pude: “Triste do povo que precisa de heróis”. A ideia de fazer de JB presidente da República seria hilariante, se não fosse infeliz. Mas eu confesso que gostei quando ele disse que os três maiores jornais brasileiros são “mais ou menos” de direita. É óbvio, mas me fez bem ouvir.
A MELHOR “CAIPIRA” DE TODOS OS TEMPOS
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Tristeza no Jeca nasceu a 24 de maio de 1918, cantada em público pela primeira vez, pelo autor. Conta, portanto, 95 anos, e parece novinha em folha. Teve gravações de diversos artistas, antigos e novos, caipiras e “caipiras”, mas o registro fundamental é da dupla Tonico e Tinoco. A canção se baseia no livro de Monteiro Lobato, Urupês, que deu vida longa a Jeca Tatu, o tipo rural infeliz e doente, típico brasileiro excluído, morador dos grotões da Pátria. Aqui, a interpretação de Paula Fernandes, ao lado de Sérgio Reis e Renato Teixeira. A gentil leitora, exigente, questionará se a bela Paula já cursou ao menos um semestre de violão; o leitor, de olho rútilo, não questionará nada.
(O.C.)
Respostas de 3
Caro colunista da Velha Guarda do jornalismo brasileiro. Este comentário que “vosmicê” recebe agora fora escrito alguns dias atrás, naquela matéria em que tratava das “cotas raciais universitárias”. Por conta de minha indisciplina e estimulado pela figura do parnasiano Bilac que ilustra tua coluna, de quem eu, coincidentemente cito. Incitado, neste exato momento, à luz de tanta razão no Universo Paralelo, esta que atrai miríades e miríades de insetos de varias qualidades, lanço um pouco de breu na tão mal dissecada discussão.
Apresentei tua coluna para alguns amigos e, eles curtiram à beça. Todos eles, (poucos, evidente). Foram eles contaminados pelo “mal de Ousarme”, ao ponto de, semanalmente, um ou outro me reportar perguntando se li tua coluna. Eu, relapso leitor, cometo às vezes o tal pecado de não lê-la, e por conta do “dito cujo”, não devo ser perdoado de modo algum. Talvez, passe eu, uma temporada num dos condomínios de Dante Alighieri, melhor, nalgum canto do “Residencial Purgatório II”, numa Bacia das Almas, purgando minhas maldades cometidas contra as tuas crônicas políticas/históricas/culturais, e de outros nomes de nosso jornalismo literário. Talvez, depois desta quarentena, eu tome vergonha na cara e não mais deixe escapar estas leituras.
Observei também que tens arrebanhado uma legião de “serial killers” da última Flor do Lácio inculta e bela (como dizia o Bilac), para a tua seara de comentaristas. Porém, só os são, em função da pretensão e da presunção do que se arvoram ser, sabendo cultuá-las sem saber, (assim como eu), pois de outro modo, a linguagem tem ramificações que não podemos contê-la na caixa gramatical da própria língua. A expansão dela, um dia chegará ao máximo. O silêncio agudo e imortal que a humanidade está fadada.
Tenho tardes de domingos prazeirosas viajando pelas trilhas da Coluna.
Vida longa ao Universo Paralelo
Walter Vítima
Queres saber se um sujeito é alienado? perguntas a ele sobre as cotas nas universidades, sobre a reforma agrária, redução da maioridade penal, os novos dirigentes da América Latina, casamento entre pessoas do mesmo sexo,sobre literatura etc…
Observes que a resposta do alienado vai ser a mesma da mídia hegemônica. Pensar, que devia ser um exercício diário, é um esforço hercúleo para um idivídio desses.
Ele já tem seus pensadores: o médico cuida do seu corpo, o pastor ou o padre, cuida da sua alma,o político canalha, das leis, os best sellers, quando lê, e os colunistas conservadores são seus formadores de opinião. Réquiem pra eles!
Cem anos para a História, é pouquíssima coisa: uma página um rodapé, sem querer plagiar o professor e ex-roqueiro Adylson Machado, amigo público desse camarada, também professor de jornalismo (O.C). No mais, W. Vítima e R. Seixas, fazem comentário pertinentes. Que falta faz, uma pequena pilha de livros ao lado do teu sofá, da tua cama, no banco do carro… enfim, na estante não vale! Mas por falar em tempo, só hoje, após uma dia, atrasadíssimos, faço esse comentário!