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(4) Luiz      ConceiçãoLuiz Conceição | jornalistaluizconceicao2@gmail.com

 

Vivíamos anos de chumbo, depois de mais uma quartelada no país em nome do combate à corrupção e do comunismo e em defesa da família e de Deus! Mas o “santinho” com a foto do então candidato do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) fazia referências à sua insana luta em favor do direito das pessoas a uma vida digna e à Democracia que a todos iguala, sem privilégios.

 

Ainda bestializado com a pândega sessão da Câmara dos Deputados de 17 de abril de 2016, Dia da Infâmia da Democracia brasileira, que aprovou por mais de dois terços dos votos – 367 favoráveis, 137 contrários e 7 abstenções – a abertura de procedimento para interrupção de mandado da Presidenta da República, Dilma Rousseff, não me deixei corromper pelo sentimento afrontoso do medo. Antes de me deprimir com tão vergonhoso resultado da votação, procurei avaliar a que nível de representação chegamos em parte do parlamento!

Imerso nas lembranças de lutas de inúmeros brasileiros, muitos cuja vida foi de perseguição, massacres e mortes, lembrei-me do primeiro voto em uma eleição proporcional a um Deputado Federal, em 1978. Não entendia como um candidato sertanejo, destemido e corajoso poderia pleitear votos, 14 anos depois de ter sido encarcerado 50 dias, no Quartel do Barbalho, em Salvador. E também vítima do escarnio dos seus detratores da então conhecida direita.

Não o conhecia, é verdade. Mas a estrondosa votação que obteve – 120 mil votos – demonstrou o acerto daquela opção. Mesmo que nada soubesse de política partidária. Aliás, vivíamos anos de chumbo, depois de mais uma quartelada no país em nome do combate à corrupção e do comunismo e em defesa da família e de Deus! Mas o “santinho” com a foto do então candidato do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) fazia referências à sua insana luta em favor do direito das pessoas a uma vida digna e à Democracia que a todos iguala, sem privilégios.

Nascido em Feira de Santana, o brasileiro Francisco José Pinto dos Santos, mais conhecido como Chico Pinto, continua vivo e proferindo inflamados discursos na memória daqueles que defendem o atual Estado de Democrático de Direito e no coração de muita gente que odeia a traição e os traidores desse ideal. Certamente, o parlamentar irrequieto e autêntico, teria morrido novamente, mas dessa vez sem a glória que viveu no seu tempo, depois que a legenda e os políticos que o sucederam fizeram tombar as bandeiras que sempre defendeu.

Que pena que a juventude, os estudantes e as pessoas que foram às ruas protestar contra o descalabro do golpe institucional contra a Democracia não lhe conheçam a História. Senão, saberiam como se comporta um líder de massas, um democrata por excelência e um Cidadão de honestidade à toda prova.

Os suplícios que sofreu por suas opiniões da Tribuna da Câmara dos Deputados, praticados pelos adversários de então, lhe enterneceram a alma e lhe garantiram destaque na vida pública. O que deveria ser obrigatoriamente máxima da vida parlamentar da legenda que ao MDB sucedeu.

Como dito em oportunidade anterior assistimos à chacota na mídia mundial quanto aos 367 votos favoráveis proferidos pelos representantes de suas famílias, suas cidades e seu deus na sessão da Câmara dos Deputados naquele fatídico domingo. Uma verdade emergiu em horário nobre e mais caro da TV: o povo brasileiro não se reconheceu naquela gente alegre e festiva. Faltou a legitimidade dos cidadãos honrados e comuns dos mais distantes rincões deste pais que, mesmo pobres, desdentados e vestindo roupas rotas têm dignidade e sabem respeitar cerimoniosamente, à sua maneira, o Brasil. Que saudades de Chico Pinto, um representante do povo. Um Deputado Federal.

Luiz Conceição é jornalista e bacharel em Direito.

P.S. Para saber mais sobre Chico Pinto, acesse o catálogo da Coletânea Gente da Bahia promovida e, em boa hora patrocinada, pela Assembleia Legislativa da Bahia para tentar adquirir o exemplar. Pena que não esteja disponível em pdf. A jornalista Ana Teresa Baptista escreveu memorável biografia sobre o parlamentar feirense barbudo e irrequieto.

http://www.alba.ba.gov.br/servicos/Publicacoes-Interna.php?id=126&edicao=138

6 respostas

  1. Realmente foi uma pândega, de alegria, democracia, fogos de artifício, choro de felicidade. Devemos continuar com essa pândega todos os dias, para que o povo não se esqueça da pândega de roubos e desvios de $$$$ Público. Vamos continuar com essa pândega para comemorar, talvez o começo do fim do governo PeTralha.

  2. Parabéns Conceição. Nesse momento em que a Democracia Brasileira sofre um duro golpe, lembrar de figuras como Chico Pinto, Ulisses Guimarães e outros, é mais do que necessario para diferenciar a postura dos que usam siglas partidarias, sem compromisso ideologico e nenhum conhecimento historico.

  3. A juventude pode não conhecer o passado mas o presente eles conhecem, pois está sendo mostrado a todo momento os atos e fatos desse governo PT, pelo amor de Deus acorda gente.
    O erro do passado não justifica os erros do presente!
    Acorda gente,acorda!

  4. Luiz, muito bem colocado. Foi realmente um grande retrocesso no nosso pais. Onde é permitido a um “REPRESENTANTE DO POVO” fazer homenagens a um torturador, e ainda ser aplaudido pelos seus pares. Nós realmente estamos numa republiqueta.

  5. Parabéns Conceição pelo excelente texto, lembrando de um grande político que lutou junto a grandes políticos brasileiro pela nossa democracia, não me arrependo pelas vezes q votei em Chico, sempre foi um guerreiro nos tempos difíceis que passamos. Vida longa a ti Chicão.

  6. Zelão diz: – Pândega causada por 137 inconsequentes

    om todo o respeito e admiração que nutro pelo jornalista e amigo Luiz Conceição, me permito divergir do seu artigo, por considerar, que o mesmo foi influenciado por uma “distorção doutrinária,” causada pelas suas relações partidárias com o PT.

    Em “dita defesa da democracia,” esquecem, que um dos seus principais fundamentos é justamente, a “expressão da vontade da maioria,” mesmo que em contradito com a vontade da minoria, mesmo que isso, venha de encontro com os seus interesses ou doutrinas.

    Se houve um “verdadeiro massacre,” da vontade representativa do povo, através dos seus representantes no Congresso Nacional – Câmara dos Deputados – isso não invalida ou macula o veredicto proferido, em nome da democracia.

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