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rpmRosivaldo Pinheiro | [email protected]

 

A grande maioria das vítimas é jovem, negra e vive nas periferias, sinalizando ao estado brasileiro necessidade de fazer investimento na geração de oportunidades para esse segmento da população.

 

Estamos experimentando um momento difícil da convivência humana, que não é um comportamento restrito ao nosso país. A intolerância tem sido manifestada mundo afora, basta uma rápida vasculhada na programação dos canais televisivos e radiofônicos ou uma rápida passagem na internet e nos impressos para percebermos o quanto de agressividade o ser humano tem produzido em todo o planeta.

O animal humano se diferencia dos demais pelo uso da racionalidade, mas parece que abriu mão desta ao agir de maneiras que nos rebaixam às últimas posições da cadeia alimentar, causando danos irreversíveis ao habitat e degeneração da nossa própria espécie. O ódio manifestado por alguns pode ser medido a partir das reações a simples opiniões postadas nas redes sociais, no confronto das torcidas opostas após grandes clássicos de futebol, das contradições e ataques oriundos do posicionamento político-ideológico, religião ou diferença de gênero.

Essa baixa na qualidade das atitudes humanas vai de encontro ao avanço do conhecimento e da própria expansão socioeconômica e tecnológica no pós-globalização. Esperava-se que o advento das aproximações culturais e a quebra das fronteiras físicas dos países possibilitassem uma nova roupagem na organização do homem. No entanto, por questões de intolerância, estamos assistindo um comportamento que nos redireciona à barbárie.

No Brasil, a face da violência pode ser melhor percebida observando os números de mortes por arma de fogo: foram mais de 45 mil mortes em 2014, segundo o levantamento feito neste ano (Mapa da Violência, Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais), que também aponta que esse número tem crescido a cada ano. Nenhum conflito bélico hoje tem esse grau de letalidade. A grande maioria das vítimas é jovem, negra e vive nas periferias, sinalizando ao estado brasileiro necessidade de fazer investimento na geração de oportunidades para esse segmento da população, além de melhoria na legislação e investimentos na estrutura policial para o enfrentamento desse fenômeno que nos envergonha enquanto sociedade. Não podemos assistir passivamente, achando que não seremos atingidos.

A repercussão da intolerância registrada no mundo e a violência no país também são vistas de forma mais perceptível e direta no cotidiano de Itabuna e de outras cidades, por isso se faz necessário um pacote de investimentos em cultura, lazer, esporte e educação, com perspectivas de geração de oportunidades para crianças e jovens. Programas de acompanhamento familiar se inserem nesse pacote de ações. Não podemos achar que esses fatos estão circunscritos geograficamente a determinadas áreas da cidade. Estamos diretamente impactados pelos registros diários desses acontecimentos, perdemos investimentos econômicos e contabilizamos custos públicos e privados crescentes em decorrência desses números.

Precisamos superar a perda de vidas e resgatar a autoestima da nossa cidade; firmar um urgente e bem estruturado pacto pela vida. A discussão tem que levar em consideração as múltiplas explicações das causas da violência e a necessidade de superação de suas potencialidades. Sabemos que com isso não extirparemos a cultura do mal pelo homem, mas necessitamos estabelecer medidas que permitam números menos alarmantes. Esse é mais um desafio para os poderes públicos e que deve estar na pauta da sociedade civil. Estamos vivenciando um caos e devemos nos unir para buscar alternativas e superar a violência, que em nível local tem nos aterrorizado.

Rosivaldo Pinheiro é economista, com especialização em Planejamento e Gestão de Cidades

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