Tempo de leitura: 7 minutos

José Nazal Pacheco Soub | nazalsoub@gmail.com
 

Continuarei com a esperança de um dia ver a cidade ser governada por alguém que realmente pense nos interesses de Ilhéus e não do próprio ou de outrem. Como já estou no amiudar da vida, talvez não veja. Porém, vive em mim a certeza de que meus filhos verão e meus netos desfrutarão de uma Ilhéus melhor. 

 
Hoje Ilhéus completa 137 anos de Cidadania, conferida pela Lei Provincial nº 2187 de junho de 1881, tendo sido instalada somente a 14 de agosto, quarenta e sete dias depois da elevação à categoria de cidade. Cidade mãe deste chão sul-baiano, de lá para cá temos diminuído, tanto no aspecto territorial quanto no político. 
Participo formalmente da vida política da Cidade desde 1º de fevereiro de 1977, quando exerci o cargo de Oficial de Gabinete no primeiro mandato de Antônio Olímpio. Naquele tempo, todos tinham a Carteira Profissional assinada. Daí em diante exerci funções comissionadas nos governos seguintes, com exceção para o segundo mandato de Antônio Olímpio, o de Valderico Reis e o último de Jabes. Aprendi muito com todos e com as experiências vividas, aumentando a cada dia o meu amor pela terra onde nasci. 
Lancei pré-candidatura a prefeito no ano de 2016 e, como é do conhecimento de todos, compus uma aliança com Mário Alexandre, colocando-me como candidato a vice-prefeito com total apoio do meu partido, a Rede Sustentabilidade. Não me contentando em ser apenas vice, assumi uma secretaria no intuito de poder colaborar na administração, sobretudo para tentar implantar uma nova política, exigência dos tempos de hoje. Deixei o cargo de secretário há sessenta dias, afastando-me completamente dos processos decisórios do atual Governo, dos quais de minha parte acabaram por ser mais de natureza administrativa e quase nenhuma política. 
Minha última participação no governo foi a de materializar a lei que delimita o território ilheense, identificando os locais indicados legalmente, onde deverão ser colocados os marcos definitivos e eu espero que sejam colocados. Vou entregar o Termo de Referência e a solicitação para a execução, juntamente com o projeto de lei para atualização dos limites distritais e ajuste dos bairros. Entendo que essa ação resguarda nosso pertencimento territorial em relevância política e administrativa, tanto para o momento atual como para momentos futuros. 
Faço esse preâmbulo para questionar a grande festa do Dia da Cidade. O que comemorar? Em minha última conversa pessoal com Mário, há uns quarenta e cinco dias, ele me afirmou que não faria festividades em razão da situação financeira. “Ótimo! Parabéns pela decisão”, foi minha resposta. Na verdade, havia uma sinalização negativa do apoio estadual, face às mudanças no quadro político, permitindo que o governo estadual fizesse um esforço menor, ante ao pleito eleitoral que se aproxima. E fiquei surpreso com o anúncio da festa. 
Convém ressaltar que não sou contra comemorações e festas, porém só faz festa quem pode pagar a conta. A Bahiatursa está ajudando, no entanto, a conta que ficará para o município arcar é igual ou maior. Mesmo que seja um pouco menor, é muito para quem não está com as contas em dia. 
Como fazer festa com a maioria dos aluguéis dos imóveis locados em atraso? Como fazer festa com o setor de atendimento aos tuberculosos faltando “copinho para exame do escarro”? Esse problema foi resolvido com empréstimo por parte da administração do Hospital Regional Luís Viana Filho. 
Como fazer festa se a Escola Municipal de Tibina está sem telhado há cinco anos e meio? Quatro anos do governo passado e um e meio desse governo. E por dever de justiça, afirmo aqui que foi o pedido prioritário da secretária de Educação. Ninguém se importou! 
Como fazer festa sabendo que a Prefeitura de Uruçuca construiu (estou dizendo construiu) uma escola na região do Lajedão, no distrito de Banco Central? Como fazer festa com o município de Uruçuca administrando uma escola na fazenda vizinha à Vila de Castelo Novo? Como fazer festa com a escola Cecília Novaes, administrada por Uruçuca dentro do território de Ilhéus? Como fazer festa com a evasão escolar e a administração de uma escola dentro de Ilhéus sob a responsabilidade do município de Itajuípe? E a repetição desse fato em Buerarema, Itabuna, Coaraci e Una?  
Ninguém se importa! Os governantes em geral não têm noção alguma de quantos alunos de Ilhéus estão sendo contados nos Censos Escolares dos municípios vizinhos. É a comodidade?! Mais fácil o outro tomar conta? Resultado: na próxima revisão territorial perderemos mais chão e, com isso, cada vez mais recursos para cuidar de nossa população! Estive em Banco Central há dez dias e me surpreendi com a quantidade de pedidos para entregarmos o distrito para Uruçuca. Não é demagogia, basta ir e conferir. 
Como fazer festa sabendo que as estradas municipais estão sem receber manutenção e conservação? E não adianta culpar qualquer um dos secretários. Deve ser uma decisão conjunta do governo, com ampliação da frota e patrulha mecânica. A exemplo de optar por não fazer festa e comprar uma motoniveladora ou um caminhão ou um rolo compressor! Um de cada vez. Aí daríamos oportunidade para o morador do campo, para o produtor, evitando inclusive o êxodo rural, com o inchaço da cidade e seus problemas correlatos! 
Como fazer festa, se as estradas não permitem um transporte escolar decente, evitando inclusive a lei ser burlada com o uso de camionetes inadequadas ao transporte, principalmente para a segurança das crianças? É ruim a qualidade do serviço prestado pela empresa contratada. Quem quiser vá conferir. Ônibus velhos e da pior qualidade. 
Como fazer festa, se cheguei a Castelo Novo e as professoras afirmaram que a merenda era biscoito e suco artificial, porque não tem água potável para servir às crianças? Ninguém sequer discute o problema. E esse fato se repete em vários locais do interior. 
Como comemorar, se o atendimento da Atenção Básica à Saúde está deficiente e insuficiente, tanto na cidade como no interior? Houve melhora? Sim, porém, muito pouca face às demandas postas. Comemorar com reforma? Fazer reforma e manutenção é obrigação, não motivo para inauguração e festividade. É básico de um governo que se envergonhe! 
Nunca na história de Ilhéus tivemos o apoio por parte do Estado na área de Saúde. Causou ciúme em gestores passados. Sabe o que aconteceu? Perdemos esse apoio. O que está sendo feito e será feito é apenas o pactuado. O que era extra e espontâneo, nós perdemos. A Unidade de Pronto Atendimento que será “inaugurada” hoje, no prédio da antiga Policlínica Halil Medauar, que já tem quase duas décadas, era para ter iniciado as atividades desde abril, absorvendo os servidores do Hospital Geral Luís Vianna Filho, que encerrou as atividades no início de março deste ano. 
Como fazer festa, se não levamos a sério a questão da coleta e destinação dos resíduos sólidos, obrigando o município a uma despesa volumosa, que poderia ser aplicada em outros serviços essenciais e na melhoria da qualidade de vida da população? Não temos Plano de Saneamento Básico, não temos Plano de Resíduos Sólidos, instrumentos legais obrigatórios para o município. Ninguém se preocupa, ninguém discute. A discussão que se iniciará após a festa da cidade é decidir quantos milhares de pessoas serão anunciadas nos releases, seguido de como será o Réveillon? Depois, como será o Carnaval? A cidade precisa de uma discussão séria, analisando os problemas de fundo, inclusive com a absoluta participação da sociedade, que na maioria das vezes se omite. 
Como fazer festa, se nada se faz para que o município possa receber as pedras que serão retiradas da obra da ponte, para serem colocadas na Sapetinga, São Miguel e São Domingos? É imperativo que os locais estejam ambientalmente licenciados. Mas não se discute o projeto. 
Não fiz campanha e não andei pedindo voto para depois ver o governo deixar de lado os verdadeiros interesses de Ilhéus. Não fiz campanha para encher os cargos de confiança com pessoas de fora, sem compromisso com Ilhéus. Para não ser injusto e por ter sido testemunha do esforço dispensado, excluo dessa lista Gilson Nascimento, que tenho visto sua dedicação exclusiva, sem medir esforços para melhorar nossos problemas no trânsito e mobilidade. Não fiz campanha para ver pessoas ocuparem os mais altos cargos e manterem compromissos com empresas que continuam ligados.
Não fiz campanha para ver uma servidora que ocupava o cargo de Tesoureira ser substituída por um indicado do ex-prefeito de Itabuna, com a alegação de que será feito “um planejamento financeiro para Ilhéus”. Não fiz campanha para ver ex-candidato de outro município ocupar cargo importante sem conhecer os verdadeiros problemas de Ilhéus. Falo isso com conhecimento de causa, pois ocupei durante três anos e meio o cargo de secretário em Uruçuca, tendo dedicado todo tempo que passei por lá a estudar e trabalhar em benefício daquela comunidade. Tenho certeza, sem falsa modéstia, que sai de lá de cabeça erguida, respeitando e sendo respeitado. Quando vou lá sou muito bem recebido. Respeitei e conquistei o respeito até da oposição ao então governo. Aqui é diferente. Quem de Ilhéus conhece os que não são daqui? Quem os vê no dia a dia da cidade? 
Quando me afastei politicamente de Jabes, externei-lhe o que mais me incomodava: governar apenas ele e mais dois. Com Newton assisti ao mesmo filme no segundo governo. Agora, revendo novamente isso acontecer, não posso aceitar. 
Para finalizar, como poderia ir à festa da Cidade, depois de ouvir essa semana (por inconfidência involuntária de um secretário) que o prefeito ia dar ponto facultativo na sexta-feira (29), emendando os feriados de hoje até segunda-feira (2) para passar uns dias nos Estados Unidos com a família? Eu pensei que a cidade seria governada pelos dois homens fortes do governo na ausência do prefeito, porém, ao terminar de escrever esse texto, recebi a informação de que haveria transmissão do cargo. O ato de transmissão foi encerrado há pouco. Informei, de frente, que este artigo estava pronto e que faria esta alteração antes de publicar. Disse também que não procederia a nenhuma exoneração, ainda que desejasse. Meu pensamento é o de que apenas exonerar por três dias não terá o efeito que desejo; se assim fosse, procederia sem titubear. 
Continuarei com a esperança de um dia ver a cidade ser governada por alguém que realmente pense nos interesses de Ilhéus e não do próprio ou de outrem. Como já estou no amiudar da vida, talvez não veja. Porém, vive em mim a certeza de que meus filhos verão e meus netos desfrutarão de uma Ilhéus melhor. 
Saúdo a todos os ilheenses, a todas e todos os que votaram em Mário e em mim, acreditando em dias melhores, saúdo de forma especial àqueles que desejam e lutam para alcançarmos um patamar de governança, cidadania e participação social, comprometidos com o verdadeiro interesse público da cidade e seu povo. 
Salve São Jorge dos Ilhéus!
José Nazal Pacheco Soub é vice-prefeito de Ilhéus.

0 resposta

  1. Concordo com vc. Conte comigo por uma cidade mais justa, voltada para o nosso povo. Nós ainda veremos isso, não estamos no amiudar da vida, estamos na plenitude, cabe a nós reverter essa tragédia.

  2. Hoje término Bom dia Brasil,Chico Pinheiro parabenizou Ilhéus pelo aniversário!
    É uma pena que esta bela cidade vive as traças, se fosse bem cuidada estaria entre as melhores cidades do mundo para viver.
    O sorvete do Ponto Chic,é o melhor sorvete do Brasil,tá do lado do Vesúvio,lugar delicioso,plausível que provoca um bem estar indelével em seus visitantes,almoço
    delícia,iguarias hummmm! Nem falar nos drinques observando fotos clássicas da doce Ilhéus sentindo a briza olhando o Azul do mar.
    Doada pelo rei de Portugal em 1534 a Capitania São Jorge dos Ilhéus a Jorge de Figueiredo Correia,este fidalgo não quis sair da Metrópole e passou a sesmaria
    ao seu amigo,Chico Romero,após desembarcar nesta terra do sem sem fim,que ia até
    o Espirito Santo,fundou a primitiva Vila, São Jorge dos Ilhéus, em 1536.
    Os forasteiros se entenderam muito bem com os Tupiniquins e a Vila prosperou-se
    nas plantações da cana de açúcar e construiu uma Capela de Nossa Senhora de Santana, em 1537,a mesma encontra-se,bem conservada. Contudo,o desenvolvimento da Vila chamou atenção do governador Geral do Brasil,Mé de Sá,que logo edificou uma Fazenda de Engenho nas margens do Riacho de Santana, com mão de obra cativa.
    Nestes 5OO anos houve grandes transformações,porém,ainda resistes as raízes primitivas no seio de Ilhéus,são essas raízes que atrapalham Ilhéus ganhar voos
    próprios, alçar desenvolvimento e fazer da doce Ilhéus melhor cidade do mundo.
    Ilhéus,mesmo precária, tu és a cidade mais linda do Brasil,pela passagem do seu aniversário, Parabéns! Doce Ilhéus!

  3. Nazal amigo, estou sentindo em suas palavras verdadeiras o quanto esta sentindo por tudo que esta acontecendo em nossa Cidade. fizemos na época da campanha andadas juntos conversamos muito e presenciamos a necessidades que nossa Cidade tem, em função de administradores que nunca tiveram esse amor e comprometimentos, temos conhecimento de tudo que estas falando ai do fundo do seu coração. esse seu desabafo tem todo o respeito e meu apoio e te conheço como uma pessoa honesta, ética, integra e de uma responsabilidade muito grande amigo. Sei de sua dor por dentro porque tudo que foi combinado no apoio a este Prefeito, o mesmo virou as costas e nada cumpri-o. Fazendo as coisas a sua revelia como se não precisa dar satisfação a ninguém, fazendo da coisa publica o quintal de sua casa. Mais tenha certeza os dias desse cidadão como Prefeito estão contados. Portanto amigo, parabéns por suas palavras de indignação com o caos que se instalou em nossa Cidade e com fé em Deus, verei vc ainda comandando nossa Cidade e fazendo as coisas certas como deseja. A minha linda e querida Cidade de São Jorge dos Ilhéus, meus parabéns pela passagem de mais um aniversario, mesmo sofrendo como nos estamos sofrendo nas mãos de incompetentes Abraços

  4. Sobre os aprovados no concurso. Qual sua opinião????
    Diante do que descreveu sobre pessoas comissionadas etc, vejo um dos motivos de não quererem chamar os aprovados… cargos políticos ocupam vaga de pessoas que têm DIREITO DE SEREM CHAMADAS.
    Mas a justiça vai ser feita!!!

  5. Acho que vc na qualidade de vice prefeito e sabedor das bagaceiras que acontecem aí dentro deveria ser mais incisivo nas críticas. É um absurdo ver a nossa cidade ser administrada por esses incompetentes de fora, que foram nomeados só porque são cabos eleitorais da Deputada cargueira.Veja o setor de licitações que é comandado por uma cabo eleitoral de Una e é o campeão do superfaturamento na prefeitura. A polícia federal deveria visitar a parte de licitação.

  6. Do que adianta tanta indignação se na hora que tem a oportunidade de fazer a coisa certa, não faz, talvez por covardia ou conveniência. saber que existe erros e pode ser a única pessoa que pode tentar consertar estes erros e não o faz, qual a diferença com quem erra? Palavras, palavras sem ação não significam nada.

  7. Vice prefeito se o Sr. deseja continuar na política já que existe um rompimento político com o prefeito, esse é o momento de fazer política de oposição para esse governo desacreditado, só assim o Sr. terá a simpatia e a credibilidade junto a população. Agora se o seu caminho político é outro, desista da política porque não vai encontrar apoio da população por não saber agir como político. A população já está saturada ao longo desses 40 anos, com as mazelas desses governos,

  8. Que moral tem Carlos Freitas para falar Marão? Participou da eleição dele e do governo de Newton. Certamente tá magoado porque o prefeito não lhe deu uma boquinha.

  9. Que moral tem Carlos Freitas pra falar do governo atual? Ajudou eleger o mesmo , participou da gestão desastrosa de Nilton voneca. Pensando ter popularidade saiu candidato a vereador , obtendo 72 votos.. uma coisa ele tem… Uma família numerosa que lhe rendeu esses votos

  10. Diante da materia e do teor dos comentários, deduz-se que vivemos numa cidade de terra arrasada.
    Por muito menos Valderico foi defenestrado do cargo.
    Vejo em tudo um grande negativismo da população.
    Esta população, perdeu a capacidade de se indignar.
    Fernando

Deixe aqui seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *