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Cerca de 900 mil pessoas no Brasil são portadoras de glaucoma, segunda maior causa de cegueira no mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo as projeções, o glaucoma afetará 80 milhões de pessoas em 2020 e 111,5 milhões em 2040. Trata-se de uma doença grave, cuja perda – irreversível – do campo visual somente é percebida em estado avançado, quando pode já ter comprometido entre 40% e 50% da visão.

Por ser um vilão silencioso, o diagnóstico e o tratamento precoce são fundamentais para conter o desenvolvimento dessa patologia. Pensando nisso, a causa mobiliza profissionais e instituições de saúde na campanha Maio Verde, que tem seu dia D, o Dia Nacional de Combate ao Glaucoma, em 26 de maio.

“Sem uma rotina de consulta oftalmológica, a doença se instala e progride lentamente, podendo demorar meses ou anos para que o paciente perceba”, explica a médica Monica Mayoral, especialista em glaucoma do DayHorc. A oftalmologista responde, abaixo, as dúvidas mais comuns em relação ao glaucoma, explicando suas causas, manifestações, tratamentos e novidades no combate à doença. Confira:

O que é glaucoma e de que forma ele se manifesta?

É uma neuropatia no nervo óptico que pode causar perda progressiva da visão. Infelizmente trata-se de uma condição silenciosa, ou seja, assintomática.

Qual a gravidade dessa doença?

No estágio avançado, culmina com a perda de visão. O glaucoma pode levar a cegueira irreversível, se não tratado.

Quais pessoas estão mais suscetíveis ao problema? Quais causas e fatores influenciam a doença?

Afrodescendentes são mais suscetíveis ao glaucoma, inclusive às formas de mais difícil controle. Entre os fatores de risco para a doença estão: maiores que 40 anos, histórico familiar de glaucoma, algumas condições oftalmológicas (como altos míopes, pessoas que sofreram trauma ocular, alguns tipos de processos inflamatório e descolamento de retina), uso de medicações (corticoides e antidepressivos) e condições sistêmicas (diabéticos).

Existem tipos diferentes de glaucoma?

Sim, há dois tipos. Mais comum, o glaucoma de ângulo aberto ocorre quando a capacidade de produção de humor aquoso (líquido presente no interior do olho) é superior à capacidade de absorção. Esse fenômeno aumenta o volume de líquido presente no olho e, consequentemente, eleva a pressão intraocular. Esse tipo é o glaucoma silencioso, em que o paciente demora a perceber a perda visual. Mais raro, o glaucoma de ângulo fechado ou agudo ocorre quando a produção de humor aquoso no interior do olho é normal, mas o globo ocular não consegue absorver adequadamente o líquido. Apresenta sintomas como dor intensa nos olhos, embaçamento visual, visualização de círculos coloridos em volta das luzes, vermelhidão ocular, dor de cabeça e náuseas. Clique no Leia Mais e confira a íntegra da entrevista.

E o glaucoma congênito? De alguma forma, os sintomas, causas e tratamentos se diferem do glaucoma em adultos?

Glaucoma congênito é uma condição rara, que afeta recém-nascidos e crianças nas primeiras fases de vida e tem indicação cirúrgica. O Teste do Olhinho, ainda na maternidade, é muito importante para o seu diagnóstico precoce. Ao contrário do glaucoma juvenil e adulto, tem grande chance de cura com a cirurgia angular, se bem indicada e se efetuada com brevidade. Claro que a resposta da cirurgia varia com o quadro clínico da criança e sua gravidade. Na maioria das vezes, o glaucoma congênito vem acompanhado com outras condições sistêmicas ou genéticas que podem dificultar o tratamento.

Os sintomas são percebidos pelo paciente?

Não. A doença é silenciosa. Inicia-se com a perda de campo visual da periferia para o centro, sem comprometer a visão central. Nos estágios mais avançados, há a percepção da perda de campo periférica e existe a dificuldade de se localizar e locomover espacialmente. Com a progressão da patologia, ocorre a baixa visual gradativa até a completa perda da visão, se a doença não for tratada.

De que forma a pressão ocular se relaciona com essa doença? Algumas pessoas confundem: afinal, há alguma relação com a hipertensão arterial e a pressão ocular?

Na grande maioria das vezes, a pressão intraocular encontra-se alta, e controlá-la contribui com o controle da doença – essa medida indica a tensão no interior do olho e tem valor médio de 16 mmHg, mas até 21 mmHg ainda é considerada dentro do limite da normalidade. Embora não exista relação entre a hipertensão arterial e a pressão intraocular, observa-se que muitos pacientes com glaucoma apresentam essa condição.

Quais os exames realizados para o diagnóstico da doença?

Alguns exames são importantes para detectar o glaucoma: tonometria (mede a pressão intraocular), fundoscopia (avalia o disco óptico), gonioscopia (avalia o ângulo camerular, o ângulo entre a superfície posterior da córnea e a anterior da íris). Esses exames são determinantes para o diagnóstico de glaucoma no consultório médico. A partir daí, se os achados clínicos aumentarem a suspeita, parte-se para exames mais complexos.

Quais são os tratamentos possíveis? Qual a eficácia? Glaucoma tem cura?

Existem tratamentos clínico (colírios) e cirúrgico (laser, cirurgia fistulizante, cirurgias angulares, implantes de drenagem e procedimentos ciclo destrutivos). Em ambos os casos, o objetivo é controlar a pressão intraocular, e não curar a doença. O glaucoma não tem cura, tem controle.

Atualmente, existe alguma novidade em termos de tecnologia ou tratamento específico para essa doença?

Sim. A tecnologia tem evoluído na área do glaucoma. Existe o laser seletivo indicado para primeiro tratamento, ou para pacientes com glaucoma leve a moderado. E o i-stent, um implante de drenagem angular indicado para glaucomas leves a moderados, em pacientes já operados de catarata ou que têm indicação de cirurgia combinada (catarata e glaucoma).

Existe algo, algum cuidado, que possa ser feito preventivamente, antes da doença se manifestar?

Fazer avaliação oftalmológica regularmente e não usar medicação sem orientação medica são os melhores métodos preventivos.

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