"Longe do Cerrado onde Lázaro se esconde da polícia, a imagem do "maníaco baiano" é a do espetáculo que furou o tédio asfaltado das mortes silenciosas da pandemia"
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Talvez o ódio seja o único sentimento capaz de dar dimensão coletiva à tragédia brasileira, ao menos, enquanto durar a caçada.

Thiago Dias

Acordei com a imagem de Lázaro na cabeça. Ela estava na tevê também, em memes nas redes e numa mensagem viral defendendo o porte de arma para todo mundo.

Aqui, no litoral do Brasil, longe do Cerrado onde Lázaro se esconde da polícia, a imagem do “maníaco baiano” – expressão usada num telejornal matutino – é a do espetáculo que furou o tédio asfaltado das mortes silenciosas da pandemia, que só comovem o círculo mais próximo de quem partiu. E são tantas as partidas que nos falta tempo para chorar todas.

Somos um país de maricas com lágrimas secas, mas um homem perigoso e armado, que mata pessoas a sangue frio e talvez seja louco, finalmente nos comove. Peguem-no! Deem ao Lázaro da Pátria o fim que até a poesia fatalista dos anjos desconhece.

Afinal, parafraseando Rogerinho do Ingá, talvez o ódio seja o único sentimento capaz de dar dimensão coletiva à tragédia brasileira, ao menos, enquanto durar a caçada.

Thiago Dias é repórter e comentarista do PIMENTA.

Uma resposta

  1. Lázaro é a mais nova cria do nossos governantes! Uma hora dessa vai aparecer novos Lázaros que vão invadir Brasília ! Isso é se já não estão lá!

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