Voluntário do Redome, Ceceu Meneses doou medula óssea a desconhecido
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Thiago Dias

Maciel não lembra exatamente quando deparou com a van do Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome), na Praça Adami, no centro de Itabuna, no sul da Bahia. “Já faz uns dez anos”, estima Ceceu, como é mais conhecido, em entrevista ao PIMENTA. “Eram poucas pessoas [na fila] e me voluntariei”.

Naquele dia, a equipe do serviço ligado ao Instituto Nacional do Câncer (Inca) colheu amostra de sangue do advogado itabunense, que passou a integrar o banco de dados de doadores voluntários.

Também foi por acaso que Carlos Maciel Meneses, 33, lembrou de atualizar seu cadastro no Redome, assistindo matéria do Encontro com Fátima Bernardes, da TV Globo, numa manhã de dezembro passado. No mesmo dia em que atualizou as informações, recebeu telefonema da instituição pública. “Era o pessoal do Redome”, recorda. “Eles estavam me falando que tinha dado uma possível compatibilidade e perguntaram se eu tinha disponibilidade para fazer novos exames”.

A chance de se achar doador compatível de medula óssea é de um evento a cada 100 mil análises. No início deste ano, Ceceu foi à Santa Casa de Misericórdia de Itabuna e fez os novos exames. Os resultados confirmaram a compatibilidade.

Um mês depois, o Redome providenciou sua viagem à capital paulista e hospedagem. “Eles me encaminharam para São Paulo. Fiz um procedimento num hospital. Foram oito dias. Primeiro, fizeram exames. Após constatar que estava tudo bem com minha saúde, me deram uma medicação para aumentar a produção de células-tronco”, conta o advogado.

MÉTODO

As células-tronco são as mais importantes em um transplante de medula óssea, segundo informativo no site oficial do Inca. Espécies de coringas, são capazes de se diferenciar em células de tecidos específicos. Daí sua importância no tratamento de diferentes tipos de leucemia, câncer que adoece o tecido sanguíneo em seu ponto central, a medula-óssea, responsável pela produção das células do sangue. Também podem ser usadas no tratamento de síndromes de imunodeficiência e de aplasia medular.

A equipe médica responsável pela doação de Ceceu escolheu o método chamado coleta por aférese. “Ou seja, você tira o sangue por uma veia, passa por uma máquina, eles colhem o material, as células-tronco e o plasma, e o sangue retorna pra mim”, explica o itabunense, que concluiu a doação ao final de fevereiro, pouco antes do início da agressão russa à soberania do povo ucraniano.

Ele afirma que o procedimento não dói nada além de uma picada de agulha. No período de maior produção das células-tronco, sentiu leves tensões musculares, que comparou à sensação de quem volta a malhar depois de longo período de sedentarismo. Já de volta ao sul da Bahia, recupera-se bem. “Não deixa sequelas, nada. Me sinto até mais forte”.

Ceceu diz que pensou nos filhos quando recebeu telefonema para fazer doação || Fotos Arquivo Pessoal

SIGILO

Na condição de doador voluntário, Ceceu não sabe nada sobre a pessoa beneficiada, inclusive a doença que a aflige. Soube apenas que havia a necessidade de que o procedimento fosse feito com urgência.

Para não prejudicar o sigilo da outra parte, doador e reportagem entraram em acordo para que omitíssemos informações, como o nome do hospital responsável pela coleta do material doado e as datas exatas de cada etapa do procedimento.

Conforme as regras do Redome, dentro de seis meses, caso queira, o doador poderá saber sobre o estado de saúde do ou da paciente. Depois de um ano e oito meses, caso Ceceu e a outra pessoa manifestem o desejo de se conhecer, poderão fazê-lo.

EXEMPLO

Se foi ao acaso que o itabunense conheceu o Redome, voluntariar-se foi decisão consciente. Por quê? “A pessoa que recebeu não sei quem. Não sei onde mora. Não sei se é adulto ou criança. Só fiz porque, além do intuito de ajudar, tenho um filho de 4 anos e outro de 6. Pensei que, se fosse um filho meu que estivesse precisando e alguém do Brasil ou de qualquer lugar do mundo pudesse ajudar, eu ia ficar muito feliz e muito grato”.

Depois de hesitar, Carlos Maciel aceitou falar com a reportagem. Queria evitar a impressão de que seu ato solidário seria tentativa de autopromoção.

Para convencê-lo, argumentamos que o exemplo poderia inspirar outras pessoas a fazer o cadastro para doação voluntária, o que já ocorre no seu círculo de amizades. “Muitos amigos se sensibilizaram e também querem ser doadores”, relata. Por isso, pensa em contatar a Redome para conseguir nova visita do programa a Itabuna. “Já faz algum tempo que vieram”.

7 respostas

  1. Gostaria de me cadastrar, pois sou doadora e ninguém nunca me perguntou se queria ser doadora de medula. Com isso eu acho que é falta de informações por isso não tem mais doadores.

  2. Lindo exemplo de humanidade. Acabei de perder um sobrinho que recebeu medulas de doadores americanos. Foram duas tentativas com doadores americanos. A primeira em outubro.mas por contrair uma bacteria no hospital perdeu.a segunda foi agora em fevereiro . Mas devido a infecção anterior que comprometeu outros órgãos ele não resistiu vindo a falecer agora no dia 24/02.?Que tenhamos muito mais doadores de medula.

  3. Bom dia, Ceceu muito lindo sua atitude, sou doadora de sangue daqui de itabuna, a cada 3 meses vou na Sta casa doar, qdo perguntei a equipe lá como poderia ser tmb doadora de medula óssea,disseram que só em Salvador,que nem o cadastro aqui em Itabuna eles não fazem,fiquei triste,pois a medicina tão avançada, a Sta casa (Calixto) equipado e não podem nem cadastrar? Se tivesse nas minhas condições iria até Salvador, mas fica aqui meus PARABÉNS a vc,e indignação a Saúde de itabuna, enquanto há milhares de pessoas precisando ter a sua cura.

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