Denizar ou Agnaldo Limas Dias? O homem fica revoltado quando chamado pelo próprio nome || Foto Silas Silva/PIMENTA
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É num pequeno box, na Rua F, no Centro Comercial de Itabuna, que o cabeleireiro Denizar, como se tornou conhecido e faz questão de ser chamado, trabalha há mais de 30 anos, de segunda a sábado. Pai de uma filha e avô de duas netas, o profissional escapou de entrar para as estatísticas da criminalidade depois de morar nas ruas de municípios do sul e do extremo-sul da Bahia. Ele é um homem resenhista, flamenguista, carismático e,  fã do Chiclete com Banana, mas que odeia o próprio nome. Mais para final do texto revelaremos o porquê.

Registrado com o nome de Agnaldo Lima Dias (neste momento, provavelmente, ele está dizendo uns desaforos a um conhecido que passou e o chamou assim), nasceu na pequena cidade de Jussari. Filho de pais dependentes de bebidas alcoólicas, Denizar fugiu de casa quando tinha de 12 para 13 anos para, segundo ele, ficar longe da violência doméstica. Estava cansado de presenciar o pai espancando a sua mãe. Preferiu sair de casa a atacar o próprio pai.

De carona com um desconhecido, chegou a Itamaraju, no extremo-sul do estado, no final da década de 80. Morou nas ruas. Sobreviveu os primeiros meses alimentando-se com resto de comida resgatado do lixo e dormia na rodoviária da cidade. Ganhava uns trocados fazendo carrego e engraxando sapatos. A esperança de mudar de vida apareceu quando encontrou, por acaso, um tio, dono de salão de beleza.

Denizar foi trabalhar e morar com o tio achando que teria vida fácil. “Ele me ensinou a profissão de cabeleireiro, mas, antes disso, sofri muito. Sabe como é uma pessoa com pensamento de 50 anos atrás? Ele era muito severo. Me batia muito, por qualquer besteira. Era muito ignorante. Eu era castigado quando chegava atrasado porque parava no caminho para assistir a um desenho animado na primeira casa que via aberta. Chegava a me castigar com 12 bolos de palmatória”, recorda-se.

MAIS UMA FUGA

O cabeleireiro decidiu que estava na hora de deixar Itamaraju para buscar novos desafios, mas o tio foi contrário a partida. Havia completado 19 anos quando decidiu viajar para Itabuna, onde não conhecia absolutamente ninguém.

Dormiu quase um mês na rodoviária, sempre da meia noite às 5h da manhã. Durante o dia, tentava encontrar emprego, mas os salões de beleza exigiam o diploma de prático, o que o jovem não possuía, pois havia aprendido a profissão com o parente. Nesse período, as refeições eram mortadela com pão e refrigerante.

Depois de muitas andanças pelas ruas do centro da cidade, Denizar conseguiu a primeira chance em um salão de beleza na Rua F, a poucos metros de onde trabalha hoje e há mais de 30 anos garante o sustento da família. Foi a intervenção de um cliente que garantiu ao jovem insistente a primeira chance de trabalho em Itabuna.

“O rapaz viu meu apelo e pediu ao dono salão para que eu tivesse a chance. Desconfiado da minha capacidade, ele resistiu. Foi aí que o cliente perguntou: posso cortar com ele?. A partir daí que minha vida mudou”, relata.

A REVOLTA COM O NOME DE BATISMO

O cabeleireiro gagueja, xinga, roda de um lado para outro, ameaça partir para a violência (nessas mais de 3 décadas foram somente ameaças ) quando passa alguém pela porta do estabelecimento chamando-o por Agnaldo Lima Dias, o nome de registro. Ou liga para zoar com o nome que os pais lhe deram. Ele nunca gostou de ser Agnaldo, mas tomou raiva mesmo quando um amigo lhe disse que o nome era o mesmo de um artista com opção sexual diferente da sua. Os sobrenomes também são os mesmos.

Agnaldo Lima Dias assegura que não é preconceituoso, mas que não aceita ter a sua masculinidade colocada em dúvida pelos amigos. O fato concreto é que Denizar recebe telefonemas de diferentes regiões do país. O intuito é apenas um: zoá-lo.

Às vezes, é uma ligação atrás da outra.  Quando acontece, o cabeleireiro vai de um lado para o outro, no interior do salão, nervoso, gritando um monte de palavrões, no ritmo frenético. São  palavras como brega, mãe, partes íntimas da genitora do interlocutor, cita distritos de Mascote (São João do Paraíso e Teixeira do Progresso) e de Ilhéus (Pimenteira). Assista à entrevista de Agnaldo Lima Dias (calma, Denizar!) concedida aos jornalistas Ailton Silva e Silas Silva.

Uma resposta

  1. VELHO 3 dedos, aí ele gosta! Tenho a honra de ser seu camarada há longos anos,onde fomos vizinhos,e até hoje quando posso uso seus serviços de qualidade e primor pela profissão, gente da melhor qualidade,um forte abraço DENI TIMÓTEO KKKKKKKK AI JA ME XINGOU TODO… UM FORTE ABRAÇO DO AMIGO WILLIAM

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