Obra de Glicéria Tupinambá é destaque na Bienal de Veneza || Foto Rafa Jacinto, da Fundação Bienal de São Paulo
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Um projeto que reúne obras de artistas indígenas do sul da Bahia é um dos destaques na Bienal de Veneza, na Itália.  A 60ª Exposição Internacional de Arte fica em cartaz até 24 de novembro. É a Foreigners Everywhere, a Estrangeiros em Todos os Lugares numa tradução livre. O evento conta com obras de 332 artistas de vários países.

Composto por obras como Okará Assojaba e Dobra do tempo infinito, de Glicéria Tupinambá, também conhecida como Célia Tupinambá; e Equilíbrio, de Olinda Tupinambá, o projeto baiano é destaque no Pavilhão Hãhãwpuá, destinado aos artistas brasileiros. O Pavilhão tem a curadoria de Arissana Pataxó, Denilson Baniwa e Gustavo Caboco Wapichana.

Os indígenas do sul da Bahia estão na Bienal de Veneza com o Projeto Ka’a Pûera, que significa “Nós Somos Pássaros Que Andam”.  Ka’a Pûera também que dizer: um lugar, uma floresta desmatada, mas que se regenera depois de um tempo, segundo afirmam indígenas.

Com as obras Okará Assojaba e Dobra do tempo infinito, Glicéria Tupinambá compartilha suas visões sobre a relação entre humanidade, natureza e memória. A Dobra do tempo infinito é uma videoinstalação onde são transmitidos saberes por meio de processo de produção de redes de arrasto e outras atividades cotidianas indígenas. “A obra inclui a produção de seis vídeos, um trabalho desenvolvido pelos próprios indígenas”, conta o itabunense Augusto Santos, que se denomina artista de Imagem Digital.

A outra obra  é composta por um manto tupinambá e redes de arrasto. O manto (foto abaixo) é considerado símbolo sagrado. Ele é utilizado em rituais por pajés, majés e caciques. A vestimenta disponibilizada na exposição na Itália é a terceira confeccionada por Glicéria.  A primeira foi produzida em 2006 e doada para o Museu Nacional. A segunda foi confeccionada em 2021 para Funarte, em São Paulo.

 

Glicéria Tupinambá tem obra exposta na Bienal de Veneza || Foto Fundação Bienal de São Paulo

Augusto Santos participou do processo de uma das obras exibidas da Bienal de Veneza, promovendo oficinas para que os indígenas fizessem as filmagens das atividades de transmissão de saberes e das entrevistas com personagens da comunidade. O itabunense relata ainda que fez a produção e edição dos vídeos que estão sendo exibidos na amostra.

Outra obra indígena que está impactando quem visita o Pavilhão Hãhãwpuá, na Itália, é a Kaapora- o chamado das matas, entidade que também é mobilizada na videoinstalação “Equilíbrio”. De autoria de Olinda Tupinambá, a obra apresenta um retrato da condição humana na terra e uma discussão crítica da relação destrutiva da civilização com o planeta do qual depende.

Olinda Tupinambá ajuda a contar a história do povo indígena brasileiro || Foto Maurício Requião

Entre os visitantes da amostra está o ex-vice-prefeito de Itabuna e Superintendente de Economia Solidária da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte da Bahia, Wenceslau Junior, que está de férias com a família na Itália.  “Estamos aqui nesta sexta-feira, 3 maio, na Bienal de Veneza, eu e Márcia (Márcia Rosely Oliveira, esposa), visitando o Pavilhão do Brasil. É muito importante esse resgate da história tupinambá, do povo da Serra do Padeiro e de Olivença. Parabenizar Célia Tupinambá por resgatar essa cultura ancestral. Essa arte de construir esse manto sagrado”.

De acordo com Wenceslau Junior,  é muito importante resgatar a dívida histórica que o Brasil tem com o povo indígena tupinambá. “Sobretudo no que diz respeito a demarcação imediata das terras das comunidades de Olivença e Serra do Padeiro.  A luta continua. Demarcação já”,  defende em vídeo enviado ao PIMENTA. Ele também destacou o trabalho feito por Augusto Santos, que promoveu as oficinas e editou os vídeos.

 

Casal Wencelau Júnior e MárciaRoseli visita exposição com obras de indígenas na Itália || Foto Divulgação

QUEM SÃO AS ARTISTAS

Glicéria Tupinambá nasceu em 1982, na Serra do Padeiro. Ela está fazendo mestrado no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O projeto Nós Somos Pássaros Que Andam, que está na Bienal de Veneza, garantiu à artista a 10ª edição da Bolsa de Fotografia ZUM/IMS. Ela também foi vencedora do Prêmio Pipa 2023.

Olinda Tupinambá é artista, jornalista, documentarista, cineasta e ativista ambiental. Ela é da terra indígena Tupinambá de Olivença, em Ilhéus, mas atua na comunidade Pataxó Hã-hã-hãe, na aldeia Caramuru-Paraguaçu, em Pau Brasil, onde mora. Em 2020, Olinda participou, na Pinacoteca de São Paulo, da exposição Véxoa: nós sabemos.

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