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Curar a mãe dentro de você é conciliar-se consigo mesmo. Porque, queira ou não, goste ou não, essa mãe vive em você.

 

Rava Midlej Duque || ravaduque@gmail.com

O nosso movimento na vida e para a vida está diretamente relacionado aos nossos pais. Na Psicologia Sistêmica e nas Constelações familiares gostamos de dizer: a mãe é a vida, o pai é o mundo.

Mas hoje, em específico, quero falar da mãe. Não só por ser o mês oficial de celebração às mães, mas também por ser a mãe a primeira estrutura para onde olhamos quando estamos buscando a nós mesmos. Ou pelo menos, deveria ser.

Mas agora você pode estar a perguntar, mas por que a mãe, Rava?

Eu gostaria muito de aprofundar essa explicação aqui, mas não é possível. Porque só esse assunto me rendeu um livro. Mas vou te contar algo suficiente para que gire uma chave importante em você.

A nossa mãe é a nossa grande professora. Professora do quê, Rava? Da nossa alma. É ela quem nos traz (isso acontece de forma inconsciente) os aprendizados necessários para crescermos e evoluirmos.

Tenha em mente que nossa família é um campo funcional. Cada pessoa ocupa um lugar único nesse campo e é somente quando cada um ocupa o seu lugar: sua mãe, seu pai, seus avós, os pais deles, o pai dos pais deles, e assim desde a origem, é que a vida se faz para você. Concorda comigo? Afinal você precisou de uma mãe, um pai, os seus pais precisaram dos pais deles e assim desse a primeira semente da sua árvore genealógica.

A clareza sobre o nosso lugar no mundo é estabelecida a partir da nossa relação com a nossa família, a começar da mãe e do pai. Mas como avisei lá no começo do texto, hoje vamos direcionar a nossa atenção a mãe.

A ausência da mãe (física ou emocional) na vida da pessoa pode causar feridas profundas, com cicatrizes e dores por toda uma vida. Um conflito relacionado à nossa mãe afeta a relação que temos com nós mesmos, com os outros e com o mundo, porque a mãe é a primeira relação que temos na vida e, por isso, a base de todas as outras que estabelecemos ao longo da nossa vida.

Mas calma, não é uma sentença. O trabalho com a terapia sistêmica e a própria constelação familiar existem justamente para restaurar essas relações, não no sentido de reaproximação física, mas no apaziguamento interno, na liberação e ressignificação da dor.

O relacionamento dos filhos(as) com os pais está intrinsecamente ligado ao seu próprio movimento na vida e em direção à vida. Todo filho(a) é constituído com 50% da mãe e 50% do pai. Quando, por exemplo, por algum motivo a mãe é excluída, apontada, criticada, julgada excessivamente por esse filho(a), todo o sistema familiar entra em desordem.

O vínculo da mãe e do filho(a) é muito forte, independente se a criança foi abandonada pós nascimento, ou se a mãe morreu nos primeiros anos de vida da criança, ou se a relação entre as parte é ruim, a criança sempre ama a mãe incondicionalmente e quando se vê na impossibilidade de dar esse amor, sofre, boicota a sua própria vida.

O convite que as constelações nos traz é justamente esse lugar de olhar para o essencial: olhar para essa mãe – independente de como ela – como representação da vida, e por isso, força de vida. Quando, por algum motivo, esse reconhecimento não acontece, se olha para a mãe e acha que o que ela entregou foi pouco e insuficiente, a sensação de nunca ser suficiente vai estar presente na sua vida, nas suas relações, no seu campo profissional e assim por diante. É a mesma origem da dificuldade da pessoa em se valorizar, em sentir-se segura diante da vida, a necessidade de sempre achar que tem que dar mais para ser aceita ou amada, a vergonha de se expor, o medo do julgamento. Por que se a mãe não foi suficiente, a vida que chegou para você também não vai ser.

É importante o alinhamento com a figura materna e reconhecer a força que ela representa. Além de qualquer julgamento pessoal, é necessário percorrer um caminho em direção essa mãe para conseguir reconhecer a mãe como um ser humano que, assim como todos nós, tem falhas e está carregando seus próprios conflitos, bloqueios, traumas, medos, dores. Afinal, essa mãe, que sobretudo é uma mulher, também já foi uma criança, também já foi filha da mãe dela.

Se foi “somente” a vida que ele lhe deu, agradeça e faça algo de bom com a vida que recebeu. Só conseguimos olhar para frente com ânimo, vitalidade, disposição e brilho nos olhos, quando saímos do lugar das exigências, e olhamos para trás, reconhecendo que aquilo que recebemos da nossa mãe, foi o suficiente: recebemos a vida! Todo o resto é acréscimo.

Sim, é isso mesmo que você leu: todo o ‘resto’ que recebemos ou achamos que deveríamos ter recebido, é acréscimo.

Aceitar e dar um lugar no coração para a mãe, sendo ela do jeito x ou y, a ou b, ausente ou presente na maioria das vezes, não é fácil. E não é mesmo para ser fácil, porque então não seria um desafio. E sabe o que os desafios nos trazem? Aprendizados! E sabe qual a função dos aprendizados? Nos tornar melhores. Melhores para nós e para tudo à nossa volta.

O que você tem aprendido a partir da relação com a sua mãe? Como tem aprendido a ser? Como tem aprendido a NÃO ser?

É importante ressaltar que: aqui não estou dizendo como você deve agir com a sua mãe, estou trazendo uma visão à luz das sistêmicas e das constelações sobre a relação entre filho(a) e mãe. O que você vai fazer a partir disso é escolha sua.

Mas lembre-se: curar a mãe dentro de você é conciliar-se consigo mesmo. Porque, queira ou não, goste ou não, essa mãe vive em você. E não importante o quão longe você vá, ela está presente. Porque ela é você.

Rava Midlej Duque é comunicadora, mestra, terapeuta sistêmica, consteladora familiar e especialista em Psicologia Gestacional.

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