O teatro do Complexo Integrado de Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Ciebtec), em Itabuna, se transformou em uma sala de cinema e reflexão com a estreia da Mostra Cineclubista Itinerante – Cinema Negro em Foco. O projeto, que é gratuito, exibiu quatro produções brasileiras de forte impacto social: o curta metragem de ficção Ecos da Caveira de Burro, do produtor Sebáh Villas-Bôas; Até as Pedras se Encantam, de Ana Diamante; Confinados, em suas Vidas, de Isidoro Cruz Neto; e o documentário Contragolpe, de Victor Uchôa.
A atividade do último dia 4 levou à plateia alunos e professores do Ensino Médio, que mergulharam nas narrativas e participaram ativamente de um bate-papo após as exibições. Temas como desigualdade, ancestralidade, política e identidade ecoaram nas falas de quem assistiu e se reconheceu nas telas. Alguns estudantes demonstraram interesse em entender o processo de produção dos filmes, revelando um despertar criativo e um novo olhar sobre o audiovisual como ferramenta de expressão.
A estudante Maria Fernanda Marques Barreto, de 16 anos, se identificou com o filme Contragolpe, que narra o jeito de luta do povo da periferia de Salvador, por meio do boxe, esporte que ela pratica. “Esse filme reflete a minha realidade, porque também faço parte de um programa que tem o mesmo foco: tirar a ideia de que as pessoas da periferia são criminosas. Gostei muito”, conta a jovem entusiasmada.
A mostra vai além da exibição de filmes, com duas oficinas pensadas para ampliar repertórios e estimular o protagonismo juvenil. A de Cineclubismo, ministrada pelo gestor cultural e coordenador do projeto, Cláudio Lyrio, apresenta a história dos cineclubes e ensina como criar um dentro da escola. Os estudantes aprendem a escolher filmes, promover debates e fazer do cinema um espaço de construção coletiva.
Já a oficina de Introdução à Produção Audiovisual com Celular é ministrada pelo produtor cultural Sebáh Villas-Bôas, que ensina técnicas práticas de roteiro, gravação e edição usando apenas o celular. A proposta é mostrar que todos podem contar suas histórias, mesmo com poucos recursos.
PROVOCAÇÕES
Para o coordenador do projeto, Cláudio Lyrio, essas atividades são uma forma de provocar as escolas para que elas utilizem a linguagem audiovisual como instrumento pedagógico. “É importante sair um pouco da rotina da sala de aula para que os alunos tenham contato com o mundo audiovisual e façam a leitura do que está por trás na produção dos filmes. Eu acredito que, dessa forma, eles vão ter uma perspectiva diferente ao assistir a filmes”, disse em entrevista à TV Santa Cruz.
O professor de Ciências Humanas, Rafael Gama, incentivou os jovens a refletirem sobre o contexto social das obras e a importância de ocupar espaços. “Os profissionais estão aqui apresentando esse projeto como resultado de políticas públicas, de muita luta dos movimentos populares em torno da arte. Pra isso, é importante que vocês, jovens, participem de ações como essas para que mais recursos sejam destinados a projetos dessa importância”, explicou.
PRÓXIMAS ATIVIDADES
Todas as atividades têm acessibilidade garantida pela intérprete de Libras Roberta Brandão/InLibras. As próximas já tem datas marcadas.
No dia 23, estudantes do Colégio Estadual em Tempo Integral Professor Adeum Hilário Sauer vão ter a oportunidade de participar da sessão cineclubista com exibição do documentário Trem do Soul, de Clementino Júnior, além do debate que será mediado por Richard Santos, escritor, pesquisador, docente e extensionista da Universidade Federal do Sul da Bahia. No período da tarde, as atividades estarão concentradas nas duas oficinas de cineclubismo e de produção audiovisual.
No dia 30, o projeto vai oferecer sessão cineclubista no Centro de Cultura Adonias Filho, aberta ao público, com exibição de 5 filmes, a partir das 14h.
A Mostra é produzida pelo Ponto de Cultura OCA (Centro de Agroecologia e Educação da Mata Atlântica), por meio do Cineclube Mocamba. Com incentivo do Ministério da Cultura (via Lei Paulo Gustavo), da Fundação Itabunense de Cultura e Cidadania (FICC) e da Prefeitura de Itabuna, o projeto segue em abril com novas ações.
Uma resposta
Fico feliz em fazer parte desse projeto tão necessário para a nossa região Sul da Bahia. A juventude precisa despertar o senso crítico, ocupar espaços e se tornar protagonista, e a linguagem audiovisual é uma excelente ferramenta pedagógica, social e cultural pra isso.