Por enquanto, ninguém está gargalhando das sandices ou mesmo rindo, comedidamente. Enfezados, arrogantes e ameaçadores, seus áulicos repetem grosserias sobre grosserias a cada microfone aberto, câmera, luz, ação.
Luiz Conceição
A tarifação desmedida do líder estadunidense de cabelo exótico merece uma reflexão séria. Há cinco décadas, as indústrias e empresas americanas do norte globalizaram suas atividades para valer. O valor da hora no chão de fábrica impedia, criava obstáculos para ganhar mais para si e seus acionistas.
Pode-se dizer que o que pagavam a um de seus trabalhadores por hora era mais que suficiente para remunerar inúmeros operários com ganhos menores em outros continentes, especialmente no Império do Meio. Em uma simplória comparação, a história do presidente do tarifaço é similar àquela do personagem Benjamin Button do cinema, que nasce idoso e à medida que o tempo passa rejuvenesce.
Os empresários bilionários que cercam o presidente do inacreditável tarifaço não devem ter visto o filme do diretor David Fischer, lançado em 2009, ganhador do Oscar de Melhores Efeitos Visuais. Também não tinham e não têm tempo para a cultura ou mesmo para conhecer ou estudar filosofia, arte, geografia e história, principalmente a econômica. Pode-se dizer o mesmo para os políticos.
Na película, decorridos 12 anos do seu nascimento, Button conhece Daisy, uma criança que cresce para ser dançarina. A sua relação com ela o faz acreditar que os dois se encontrarão no momento certo da vida. Como se fosse possível o tempo voltar. É um filme marcante até por sua semelhança com um personagem real.
No caso do tarifaço, não. A sua megalomania o leva a imaginar que impor exorbitantes tarifas em economias concorrentes fará ressurgir a outrora fulgurante indústria americana de parte do século XX, cujo orgulho estava em Detroit, no Michigan, endeusada como a Capital do Automóvel, em 1950, com população superior a dois milhões de habitantes. Pelo que se publicou, em 8 de julho de 2013, a cidade declarou falência, com dívida de bilhões de dólares, tornando-se a maior cidade dos EUA a declarar falência.
Ou quem sabe, o Cinturão da Ferrugem (Rust Belt, em inglês), conhecido até meados dos anos 1970 como Cinturão da Manufatura, que abrange estados do Nordeste, dos Grandes Lagos e do Meio-Oeste. Talvez, pelo sucesso econômico e tecnológico do Vale do Silício, o presidente imagina ser possível parar o relógio inexorável do tempo para fazer seu país grande novamente por meio de decretos, imitando outros presidentes em vários continentes que o fazem quando imaginam barrar a economia e seus contratempos.
Por enquanto, ninguém está gargalhando das sandices ou mesmo rindo, comedidamente. Enfezados, arrogantes e ameaçadores, seus áulicos repetem grosserias sobre grosserias a cada microfone aberto, câmera, luz, ação. Será que era uma vez a…?
Quem sabe empresários, intelectuais e exportadores do agronegócio ainda não infectados o acordem desse sonho maluco que a todos empobrece, envergonha e é motivo de piada. Pela incerteza para todos nós e os americanos de que, ao despertar, ele aperte o botão errado e… bum!!!. Já fomos…
Luiz Conceição é bacharel em Direito (1994) pela Uesc, leitor de temas econômicos e jornalista desde 1975 (época em que era muito feliz!).