FICAR DIANTE DA TEVÊ É LEVAR “PEDRADA”
“Com a bandeira a meio mastro…” – assim a repórter da Globo iniciou, no Jornal Nacional do dia 29 de março, a matéria sobre a morte do ex-vice-presidente José Alencar. É impressionante como não posso permanecer uns poucos minutos diante da tevê sem levar alguma pedrada: a expressão “a meio mastro” inexiste na língua portuguesa ou na fala brasileira, seja no coloquial, seja abrigada na dita norma culta. É invenção descabida, artificial, dispensável, ociosa, inútil. A velha expressão, consagrada em todos os níveis da linguagem (para indicar que a bandeira, em sinal de luto, foi hasteada pela metade) é “a meio pau”. Que o digam os dicionários.
SANDICE QUE JÁ VAI COMPLETAR SETE ANOS
Antigos ou modernos, os dicionários da língua portuguesa anotam, para a situação referida, “a meio pau” (no verbete pau), nunca “a meio mastro” (que deveria guardar-se no verbete mastro). A sandice foi ouvida pela primeira em 11 de novembro de 2004 (Marcos de Castro – A imprensa e o caos na ortografia), quando o correspondente da Globo em Jerusalém, a propósito do luto pela morte de Arafat, falou em bandeira hasteada “a meio mastro”. Quase sete anos depois (abril de 2011), percebo que a agressão se mantém – certamente sob a justificativa de que “a meio mastro” é expressão mais bonita do que “a meio pau” (isto é usado para récorde e recorde).
FALTA DE LEITURA, EXCESSO DE REPETIÇÃO
Todo professor de cursinho intensivo de redação aprendeu a fórmula que deve ser passada aos alunos: “”Leiam, leiam, leiam…” – mas que pouco resultado dá. O leitor sem maior conhecimento da área de comunicação tende a pensar que os operadores do setor lemos muito. Pura falácia. Nas redações, lê-se pouco, tendo como motivo a falta de tempo, não sendo raros os casos de indivíduos que abriram o último livro há alguns anos, ainda na escola, por insistência de um professor chato. Em consequência, não se pensa, repete-se muito, sobretudo asneiras avalizadas pela Globo – a exemplo dessa injustificável “bandeira a meio mastro”, já a caminho da consagração.
PISTOLEIROS NÃO ENXERGAM BEM NO ESCURO
![(4) Duelo ao sol](https://157.230.186.12/wp-content/uploads/4-Duelo-ao-sol-.jpg)
TRAGÉDIA GREGA NAS PRADARIAS DO OESTE
![(5) O último pôr do sol](https://157.230.186.12/wp-content/uploads/5-O-último-pôr-do-sol-214x300.jpg)
UM GÊNERO FEITO DE GRANDEZA E HEROÍSMO
Diante desse aparente empate, eu me volto para O último pôr do sol, que os críticos apontam como um filme menor de Aldrich, talvez um nota 7 entre seus mais de 30 trabalhos, alguns nota dez, como Os doze condenados/1967. Já se vê que minha opinião é pessoal, intransferível e nada técnica. O western é feito de tipos impregnados de grandeza e heroísmo, ética, bravura e nobreza; o caráter dos personagens de Jones e Peck me desagrada, a sordidez do mocinho bandido não me atrai: não vejo cinema como reflexo do real, mas como fuga, uma forma de escapismo romântico. Talvez seja por isso que Tropa de elite não me empolga. De cruel já me basta o dia a dia.
A BAHIA E NOSSAS “VOCALISTAS ANÔNIMAS”
![(7) Clécia Queiroz](https://157.230.186.12/wp-content/uploads/7-Clécia-Queiroz-278x300.jpg)
TERRA DO GARAGEM E DO CAMISA DE VÊNUS
![(8) Camisa](https://157.230.186.12/wp-content/uploads/8-Camisa-300x300.jpg)
ALOBÊNED, O FURACÃO NEGRO DE ITABUNA
E para dizer que não falei de flores itabunenses, afirmo me faltar engenho e arte para saber se Alobêned é ou não uma grande cantora (dúvida que mantenho quanto a Maria Betânia, mas nunca tive a respeito de Gal). Sei é que esse furacão negro (assim como Betânia é uma estrela acima de qualquer suspeita) é uma força da natureza, uma rainha além da preferência de meros mortais como este colunista. Se querem compará-la, não sugiro as três cantoras brancas xodó da mídia, mas outra monarca africana: Margareth Menezes. Findo meu espaço, provoco: Quem sabe a razão do nome Alobêned?
NA POLÊMICA, VOU DE VIRGÍNIA RODRIGUES
Quando o Carnaval da Bahia entra em discussão, vou de Virgínia Rodrigues, uma das grandes vocalistas baianas “malditas”: lançou seu primeiro CD em 1997 (Sol negro), tendo as bênçãos de Caetano Veloso (direção), Gilberto Gil, Milton Nascimento e Djavan (participações) – e ainda assim se mantém quase “ilustre desconhecida”. É “uma das mais impressionantes cantoras que surgiram no Brasil nos últimos anos” – isto não foi dito pela crítica brasileira, mas pelo The New York Times. Na minha modesta cedeteca há ainda Mares profundos (com temas de Baden Powell) – “importado”, évidemment. Clique.
(O.C.)