Criado em Ilhéus, cineasta revisita a Princesinha do Sul com filme sobre família devastada pela ditatura militar
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O cineasta Henrique Dantas vai ambientar a maior parte do seu próximo filme, Silêncio, no Sul da Bahia e quer o apoio de empresários e governos da região para conseguir realizar o projeto, que teve seu financiamento prejudicado pelo declínio da Agência Nacional do Cinema (Ancine).

Nascido em Salvador, onde vive hoje, Henrique morou em Ilhéus na infância e adolescência. No filme, pretende usar uma fazenda de cacau e a Lagoa Encantada como cenários. No entanto, enfatiza que Silêncio não é sobre os temas consagrados da lavoura cacaueira. “É um filme que fala sobre a morte. Não vou falar da Saga do Cacau, não tem nada a ver, mas o cenário que escolhi e algumas questões que vou trazer, sim”, explicou o cineasta, em conversa com o PIMENTA no início de fevereiro.

Silêncio vai apresentar tipos raros no Sul da Bahia, um médico e um fazendeiro negros. Henrique defendeu a escolha. “Eu nunca fui atendido por um médico negro na minha vida inteira em Ilhéus. Existia a família de Espírito Santo, mas eu não fui atendido por ele. Eu vou colocar também um fazendeiro negro, que eu também nunca conheci. Sei que até existe, porque alguns amigos me falaram, mas eu, que conheci muitos fazendeiros, não conheço”.

O elenco reúne grandes nomes da dramaturgia nacional, a exemplo de Antonio Pitanga, Helena Ignez e Fabrício Boliveira, que formam o núcleo familiar da trama. O fazendeiro, militar da reserva, será vivido por Pitanga.

Fabrício será o neto do fazendeiro, que estudou medicina na Holanda, onde sua mãe se exilou fugindo da ditadura militar. “Ela foi torturada e seu marido, assassinado”, antecipa o cineasta, que também é roteirista da história.

A escolha da morte como assunto remete a 2011, quando o cineasta perdeu quatorze amigos e parentes. “Eu estava montando o filme Sinais de Cinzas e morreu um amigo meu, numa segunda-feira, Rodrigo Selman, grande cantor e dançarino”, lembra.

“A partir dessa morte, foi uma coisa absurda. Foram quatorze mortes de pessoas próximas em quatro meses, inclusive o irmão do meu pai, a avó da minha companheira, amigos próximos, o filho de uma grande amiga. Uma coisa muito doida. Eu fiquei meio assustado. Deneguei o filme; parei de montar. Passei a ter insônia. Dormia meia-noite, acordava 1 hora da manhã e fritava. Não conseguia dormir. Depois da quinta morte, não consegui mais chorar. Não consegui mais sentir nada, como se tivesse uma droga, uma doideira dessa aí que você toma para ficar letárgico. Aquilo me incomodou muito. Como é que você não vai chorar a morte de uma pessoa querida?”, questionou-se Henrique, que hoje interpreta esse esgotamento da sensibilidade como um mecanismo psíquico de autoproteção.

Ele estima que a gravação do longa-metragem, ainda sem data para ser iniciada, vai se estender por três meses. A produção envolve muitos custos com equipe e maquinário. Daí a busca por apoio público e privado. Empresas podem patrocinar o filme por meio do programa FazCultura ou da Lei Rouanet, que garantem incentivos fiscais do Estado e da União, respectivamente. Interessados em conhecer melhor as possibilidades de parceria com o projeto podem contatar os produtores pelo telefone (71) 9 9335-2126.

FILMES ANTERIORES

Henrique Dantas tem carreira sólida e premiada. É dele o documentário Filhos de João – Admirável Mundo Novo Baiano. Produzida ao longo de uma década, a obra de 2009 mergulha fundo nas memórias, vivências e musicalidade dos Novos Baianos. Foi o melhor filme (voto popular) e recebeu o prêmio especial do júri do Festival de Brasília.

Também dirigiu A noite escura da alma, em 2015. O documentário poético sobre a ditatura militar venceu o Festival Internacional de Cinema Político na Argentina e o Festival de Cinema de Vitória.

Outro longa  do cineasta, Dorivando Saravá – o preto que virou mar, retrata vida e obra de Dorival Caymmi a partir de depoimentos do próprio músico e de outros artistas, a exemplo de Gilberto Gil, Tom Zé, Jussara Silveira e Adriana Calcanhotto.

3 respostas

  1. Sou suspeita em elogiar mais contra fatos não há argumento já dizia os antigos e será um grande filme com certeza é muito trabalho e pesquisa felicidade vc já conseguiu

  2. Henrique sempre foi sensível, observador e amante das artes e experiências que lhe valessem à pena aprender algo.
    Estou feliz para que ele tenha muito sussesso pois sempre lutou no que acredita.
    Jacy

    1. Henrique sempre foi sensível, observador e amante das artes e experiências que lhe valessem à pena aprender algo.
      Estou feliz para que ele tenha muito sucesso pois sempre lutou pelo que acredita.
      Jacy

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