No fim das contas, a pouco mais de 4 meses de 2022, a saída de Vilas-Boas abre uma janela de oportunidade para a repactuação das forças governistas.
Thiago Dias
Depois de quase 7 anos à frente da Secretaria da Saúde do Estado, o médico Fábio Vilas-Boas deixa o cargo de forma melancólica. Ofendida pelo então secretário, a chefe de cozinha Angeluci Figueiredo deu-lhe uma resposta didática sobre os valores civilizatórios em disputa no nosso tempo. Ao publicar a lição, Angeluci tornou insustentável a permanência do cardiologista no governo Rui Costa. Contra a palavra bárbara, o decoro.
Fábio, pelo menos, pediu desculpas, que pareceram sinceras. Estava visivelmente abatido no vídeo em que se pronunciou sobre o caso. Apesar da melancolia da saída, serve-lhe de consolo um legado de expansão dos serviços de saúde na Bahia, com grande volume de investimento público em infraestrutura, foco na gestão terceirizada e incentivo de consórcios intermunicipais.
A resposta do governo estadual à pandemia de Covid-19 também merece reconhecimento. A Bahia tem a segunda menor taxa de mortos por 100 mil habitantes entre todos os estados brasileiros. Só o Maranhão registra taxa menor. Impossível não atribuir ao ex-secretário um papel importante nesse trabalho.
No mais, se a exoneração parece uma pena branda aos olhos de muitos, cabe lembrar que se trata de um cargo poderoso e central em tempos de pandemia.
Esse poder, é claro, interessa aos partidos que integram a base do governo estadual. No fim das contas, a pouco mais de 4 meses de 2022, a saída de Vilas-Boas abre uma janela de oportunidade para a repactuação das forças governistas.
Engajado na missão de voltar ao Palácio de Ondina, o ex-governador Jaques Wagner (PT) ganhou novas perspectivas para dialogar com os partidos aliados. Era a cadeira que faltava às acomodações da coalizão.
Thiago Dias é repórter e comentarista do PIMENTA.