Se vivo estivesse, Jorge Amado completaria hoje 109 anos || Foto Editora Todavia
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Jorge Amado merece muito mais. Merece uma casa melhor em Ilhéus para guardar sua memória e ser um centro de referência permanente. Merece ações em Itabuna. Merece uma Ilhéus zelosa com a memória de seu escritor maior.

Efson Lima

Jorge Amado,  nosso autor sul-baiano mais destacado da literatura nacional, completa 109 anos neste 10 de agosto de 2021. Imortalizado na Academia de Letras de Ilhéus, Academia de Letras da Bahia e Academia Brasileira de Letras, ele permanece vivo na literatura mundial. Certamente, ele continuará povoando nossas cabeças, nosso imaginário e seduzindo milhares de pessoas para a literatura, assim como eu fui atraído pela obras Capitães da Areia Gabriela, Cravo e Canela, entre outros clássicos.

Em Ilhéus, Jorge Amado se somou a Abel Pereira,  Nelson Schaun, Wilde Oliveira Lima e Plínio de Almeida, os quatro últimos foram membros da Comissão de Iniciativa, para fundar a Academia de Letras de Ilhéus, em 1959.  Na Academia de Letras de Ilhéus, o escritor pertenceu à cadeira de n° 13, cujo patrono, Castro Alves, o influenciou na produção literária.  A cadeira de n°13  também acolheu a sua companheira, Zélia Gattai e, agora, tem como titular o escritor Pawlo Cidade.

Para a Academia Brasileira de Letras, Jorge Amado foi eleito, em 6 de abril de 1961, para a cadeira n° 23, que tem por patrono José de Alencar e  primeiro ocupante Machado de Assis. Jorge Amado foi um crítico das academias, mas na fase adulta fez revisão de seus posicionamentos, como assinalou em seu discurso de posse na ABL:  “Chego à vossa ilustre companhia com a tranquila satisfação de ter sido intransigente adversário dessa instituição, naquela fase da vida, um que devemos ser, necessária e obrigatoriamente, contra o assentado e o definitivo, quando a nossa ânsia de construir encontra sua melhor aplicação na tentativa de liquidar, sem dó nem piedade, o que as gerações anteriores conceberam e construíram.”

O tempo é senhor de nossas razões. E como é.

No início deste texto, eu disse “nosso autor”, força de expressão para ressaltar a origem. O escritor pertence mesmo é ao mundo. É símbolo de nossa terra, nascido em Ferradas, em Itabuna, não só se imortalizou, mas imortalizou-nos na literatura universal. As suas obras de cunho regionalista conseguiram ter sentido no Chile, na França, em Portugal, na Itália, na antiga URSS. Conseguiu orgulhar a nação grapiúna e colocar a literatura brasileira em um patamar privilegiado. Acabou não sendo agraciado com o Prêmio Nobel, mas seu nome sempre foi forte candidato. Por sua petulância, acabou sendo preterido.

Geralmente, as pratas de suas casas não são vistas. São normalizadas. Agora, entre as duas cidades, sem dúvida, Ilhéus é quem melhor poderia ganhar com a imagem desse célebre escritor.

A passagem do tempo não apaga as memórias amadianas. As suas obras continuam atuais. Foram crônicas daquele momento e proféticas para o presente. Certamente, continuarão evidenciando o futuro.  Jorge Amado será sempre lembrado pela atual geração e pelas gerações futuras. Talvez, Ilhéus e Itabuna ainda não tenham percebido a importância desse escritor. Geralmente, as pratas de suas casas não são vistas. São normalizadas. Agora, entre as duas cidades, sem dúvida, Ilhéus é quem melhor poderia ganhar com a imagem desse célebre escritor. Infelizmente, a cidade pouco aproveita a difusão turística feita pelas obras amadianas. Gente boa na cidade não falta para colaborar e implantar projetos. Mas são pratas da casa, não servem. Até quando vamos manter esse raciocínio?

O escritor Jorge Amado, que recebeu diversas críticas, marginalizado pela crítica do Sul, continua vivo em nossas memórias e provocando críticas de diversos movimentos. Também continuará sendo lembrado em sua data de nascimento e em eventos acadêmicos, mas só essas ações não bastam. Jorge Amado merece muito mais. Merece uma casa melhor em Ilhéus para guardar sua memória e ser um centro de referência permanente. Merece ações em Itabuna. Merece uma Ilhéus zelosa com a memória de seu escritor maior. Merece um tratamento melhor pelas instituições universitárias e pelas escolas. É possível uma cultura amadiana. AMADO sejamos cada um de nós!

Efson Lima é advogado, professor universitário e mestre e doutor em Direito pela Ufba.

2 respostas

  1. Tenho hoje 46 anos de idade. Desde os meus seis anos ou menos eu já era um fã de Jorge Amado. Aos 12 anos assisti Dona Flor e Seus Dois Maridos na TV. E no encarte do jornal A Tarde, nos dias de sábado, lia artigos memoráveis de poetas, escritores, professores a respeito de nosso amado Jorge. Certa vez eu passei em frente a casa na Rua Lagoinha no Rio Vermelho, que vergonha tive em não entrar. As histórias de vida dele e de Zélia são fantásticas. Li Navegação de Cabotagem, uma biografia sem compromisso com a cronologia, li os livros infantis quando o Colégio Divina Providência ( nos tempos idílicos dos anos 80) nos dava para fazer estudos e exercícios, a história da Andorinha Sinhá… A vida de Jorge Amado merece um filme digno de sua verve. Salve mestre Jorge, salve Menino Grapiúna!

  2. Texto celebrativo e no mesmo um brado para valorização do nosso imortal Jorge Amado. Plausíveis colocações meu amigo, afinal é satisfatório arrotar aos sete ventos a origem dele sem dar o respaldo devido; ainda bem que a sua lucidez nos recobra a razão. “Amado sejamos cada um de nós”

    Abraços!

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