Tempo de leitura: 2 minutosPirataria é crime, todo mundo sabe. Mas entre nós ela se tornou quase como o jogo do bicho, que é contravenção (eufemismo de crime), porém aceita pela sociedade e pela polícia, com a qual chega a colaborar, dando inclusive uma ajudazinha para as viaturas rodarem. Neste último caso, os contraventores são até mais generosos que o Estado.
Com a morte e ressurreição de Michael Jackson (que está bem mais vivo agora do que antes), o dinheiro está caindo em cascata nas grandes empresas, como a Amazon, e em quantidades infinitamente menores (mas muito festejadas) nos camelôs da Cinquentenário. Estão lá nos tabuleiros e até no chão dos passeios todos os álbuns do filho de Joe Jackson, os clips e, dentro em breve, o DVD com o funeral-show do rei do pop. Aguardem!
Os vendedores de CDs e DVDs piratas de vez em quando recebem a visita da polícia, mas nem sempre é para apreender os produtos e sim para adquirir a última novidade, que ainda está nas telas dos cinemas. É a velha hipocrisia e nosso caráter duvidoso, que nos permitem condenar em público o que fazemos tranquilamente em privado.
Afinal, quem nunca cedeu à tentação de comprar um “legítimo” pirata? Alguns até aceleram a imagem na hora em que aparece aquele VT da família onde tudo é pirata, do DVD comprado pelo pai até as notas do filho na escola. E a advertência gravada nos filmes evangélicos é ainda mais radical, pois praticamente condena o incentivador da pirataria ao fogo do inferno. O crente pede perdão e vai em frente.
Por que a nossa sociedade aceita esse crime? Em parte, porque ela é formada em sua maioria por trabalhadores que ganham mal e, diante da opção entre pagar 31 reais para ir ao cinema (ingressos para o casal + pipoca + refrigerante) e desembolsar 2,00 para comprar o mesmo filme no camelódromo, o peão obviamente fica com a segunda. Mas por que gente que ganha melhor salário também é adepta da pirataria? Aí já é descaração mesmo, atributo indissociável do brasileiro médio.
Está comprovado que não resvolve demonizar a pirataria e fazer uma associação forçada entre ela e o narcotráfico, o crime organizado e os mujahidins de Bin Laden. Todos os jeitinhos se consolidam quando a forma correta de agir não se encaixa em uma sociedade torta. Ou seja, faz-se necessário – e isso não é novidade – consertar a nossa sociedade e acabar com a corrupção, para que os bilhões desviados sobrem para as políticas sociais, a educação, o incentivo à geração de emprego. Enquanto nada disso acontece, temos que engolir o que outro dia me disse um pirata inveterado: “pirataria é crime, original é roubo”.