Fachada de casarão centenário desabou na Av. Dois de Julho || Foto PIMENTA
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O Coletivo Preserva Ilhéus afirmou, em nota pública, que outros prédios históricos do município podem ter o mesmo destino da antiga sede da Sociedade União Protetora dos Artistas e Operários de Ilhéus, cuja fachada desmoronou na última terça-feira (veja aqui).

Segundo o grupo, a lista de patrimônios arquitetônicos ameaçados abrange o antigo Colégio General Osório, na Praça Castro Alves; e o casarão que abrigou a Marinha Mercante, na Rua Conselheiro Dantas. No caso do segundo prédio, a União o cedeu à Prefeitura de Ilhéus para que o município instalasse a Secretaria de Meio Ambiente. Como o imóvel continua abandonado, a União o requisitou de volta, conforme o Coletivo.

Para o Preserva Ilhéus, a atual gestão da Prefeitura negligencia o patrimônio arquitetônico do município.  “O Coletivo já havia denunciado aos Ministérios Público Estadual e Federal, mais precisamente em abril de 2021, o abandono do patrimônio arquitetônico e histórico da cidade e espera que os agentes políticos envolvidos sejam devidamente responsabilizados por Improbidade Administrativa”, diz a nota pública.

Antiga sede da Marinha Mercante também pode desabar, segundo Coletivo || Foto PIMENTA

RISCO À POPULAÇÃO

Ainda de acordo com o Preserva Ilhéus, a queda da fachada do prédio da União Protetora dos Artistas e Operários poderia ter ceifado vidas. “A população de Ilhéus corre risco com a iminência de desabamento dos outros prédios históricos também abandonados pela atual gestão municipal”, alerta o Coletivo.

O QUE DIZ A PREFEITURA 

Antigo Colégio General Osório está em risco, segundo Coletivo || Foto Redes Sociais

A Prefeitura de Ilhéus afirmou que havia tentado assumir a conservação do prédio centenário da União Protetora, mas não conseguiu. “Aproveitamos para lamentar o ocorrido, que possivelmente foi resultado das condições climáticas adversas enfrentadas pelo município nos últimos dias e pelo estado de conservação do imóvel”, acrescentou o Governo Marão, em nota.

Conforme a Prefeitura, o Governo está empenhado “em adotar medidas rápidas e eficazes para evitar futuros incidentes e preservar o patrimônio histórico da cidade”.

Gerson e Magela divergem sobre responsabilidade do Governo em relação ao patrimônio de Ilhéus
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O cacauicultor e fabricante de chocolate Gerson Marques afirmou, em vídeo publicado nesta sexta-feira (24), que prédios históricos e espaços culturais de Ilhéus foram abandonados pela gestão do prefeito Mário Alexandre, Marão (PSD). Ele entrou no assunto ao se posicionar contra a entrega do prédio do antigo General Osório para a Polícia Militar.

– Eu fui um dos apoiadores do prefeito em sua primeira eleição [em 2016] e acreditava que as propostas dele contemplariam a recuperação do patrimônio histórico. Espero que o prefeito tenha um pouco mais de responsabilidade com o patrimônio histórico da cidade. O prefeito tem se caracterizado por um profundo desprezo à cultura. Os prédios históricos e espaços culturais da cidade estão todos abandonados – disparou.

Na declaração, também lembrou que apoiou o mandatário nas eleições de 2016, depois da qual viria a ocupar cargo de confiança no primeiro Governo Marão.

Para Gerson, o ex-aliado deu as costas ao rico patrimônio histórico de Ilhéus e citou como exemplos a Casa de Jorge Amado, a Concha Acústica, o General Osório e o Teatro Municipal.

“É de uma irresponsabilidade, de uma indelicadeza, de uma falta de sensibilidade com a cultura, com as artes, com um dos principais elementos da nossa vida, da vida social dessa cidade. Essa é a cidade de um dos maiores escritores do Brasil. Então, ter responsabilidade com a arte e com a cultura, aqui, é mais do que obrigação”, emendou, fazendo referência a Jorge Amado (1912-2001). Confira.

O QUE DIZ A PREFEITURA DE ILHÉUS

O PIMENTA entrou em contato com o secretário de Cultura de Ilhéus, Geraldo Magela, para obter posicionamento do Governo sobre as afirmações de Gerson Marques. Quando falou com a reportagem, Magela já havia assistido ao vídeo acima e se pôs a contestá-lo.

Conforme o secretário, Gerson omite a responsabilidade de gestões anteriores no que diz respeito à conservação do patrimônio público. “Ele não falou o que foi feito nos governos passados, que só pitaram [os prédios históricos]”.

Além disso, acrescentou Magela, o Governo Marão reformou o Teatro Municipal, a Casa de Jorge Amado, as esculturas do Cristo e da poetiza Sapho e o Obelisco ao Dois de Julho. Segundo o secretário, alguns equipamentos do Teatro não eram substituídos há mais de 30 anos. No entanto, sua reabertura ainda depende de testes do novo ar condicionado. A previsão é de que seja reaberto em março.

Já a Biblioteca Adonias Filho, ainda conhecida pelo nome do antigo Grupo Escolar General Osório, não será “militarizado” – expressão do secretário. Ele explicou que a Polícia Militar propôs que parte do prédio seja utilizada pela 68ª CIPM, responsável pelo policiamento do Centro. Contudo, disse que não há nada decidido sobre a proposta, que foi submetida ao Conselho de Cultura. O colegiado será consultado, mas não tem poder de veto.

Caso a PM venha a utilizar o prédio, assegura Magela, isso não inviabilizará a realização de atividades culturais naquele espaço, que também passaria a receber ações sociais da corporação. Outro destino possível para o patrimônio será transformá-lo em uma unidade da Escola Olodum, como as de Salvador. O próprio secretário considera essa segundo possibilidade remota, e a Secult oferecerá espaços alternativos ao grupo.

Ainda sobre o General Osório, Magela disse que o município não tem condições de arcar com uma reforma estruturante, orçada na casa dos milhões. O mesmo vale para o Palácio Paranaguá, antiga sede da Prefeitura. Nos dois casos, argumenta o secretário, Ilhéus precisa da ajuda dos governos Federal e do Estado.

Imagem de arquivo do antigo Colégio General Osório, atual Biblioteca Adonias Filho
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No seu primeiro pronunciamento à frente da Diocese de Ilhéus, Dom Giovanni Crippa falou que um povo que não conserva sua memória não tem história. A frase poderia ter passado despercebida, naquela tarde de outubro, se não tivesse sido pronunciada no salão nobre do Palácio Paranaguá. Inaugurada em 1907, a antiga sede da Prefeitura abriga o Museu da Capitania e o setor de tributos do município. O prédio esbanja beleza, história e, hoje, debilidades. O governo municipal tenta levantar recursos para revitalizá-lo, afirma Geraldo Magela, titular da Secretaria Especial de Cultura.

Biblioteca Adonias Filho, antigo Colégio General Osório

O Ministério do Turismo é uma das possíveis fontes dos R$ 4,5 milhões necessários para revitalizar o Palácio. Durante a visita do então ministro do Turismo Gilson Machado a Ilhéus, em junho de 2021, a Prefeitura solicitou recursos para obras, diz Magela.

– Na época, foi prometido justamente isso, a reforma dos quatro pilares do patrimônio público; Paranaguá, General Osório, Teatro e Casa Jorge Amado. Até agora não chegou recurso federal. Há uma promessa de chegar recurso para o Paranaguá, que é o mais caro. O projeto é de R$ 4,5 milhões para reformar ele todo e revitalizá-lo. É o termo correto. Não tem muita restauração, porque tem muito comprometimento já de estrutura.

Teatro será reaberto no aniversário de Ilhéus || Fotos Pimenta

Outra possibilidade é buscar ajuda da iniciativa privada. “Se o governo federal não mandar dinheiro para o Paranaguá, já tem duas empresas que se prontificaram a nos ajudar a fazer uma intervenção emergencial, pelo menos para que revitalize o prédio”, assegura.

Pela estimativa da Secretaria Especial de Cultura, que fez um levantamento da situação do patrimônio histórico material de Ilhéus, a recuperação da Biblioteca Adonias Filho (antigo Colégio General Osório) não exigirá menos de R$ 3,5 milhões. Se a conta incluir o Paranaguá, a Casa de Jorge Amado e o Teatro Municipal, chega a R$ 12 milhões.

Magela estima custo de R$ 12 mi para reformas

TEATRO REABERTO NA FESTA DA CIDADE

Segundo Magela, a Prefeitura faz reparos no Teatro Municipal com objetivo de reabri-lo no próximo dia 28 de junho, aniversário da cidade. A Secretaria Municipal de Infraestrutura consertou a subestação elétrica e o telhado do prédio, que ganhará aparelhos de ar condicionado provisórios para que possa ser reaberto antes da instalação do ar condicionado central.

Na Casa de Jorge Amado, a Prefeitura dividiu a reforma em três fases. A primeira, de pintura e reparos na fachada, já foi concluída. A segunda será a restauração interna e, por fim, a troca do piso.

O PIMENTA comentou que, ao longo da conversa, o secretário mencionou algumas vezes a necessidade de intervenções emergenciais nos pilares do patrimônio arquitetônico de Ilhéus. Perguntamos se o tom é mesmo de emergência. Ele concordou.