Orlando Cardoso está no ar há 64 anos, ininterruptos
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Os locais destinados aos visitantes eram em espaços exíguos e junto às torcidas adversárias, intimidando-os o jogo inteiro. Algumas vezes foi obrigado a transmitir os jogos em cima do teto da Kombi da Rádio Difusora.

 

Walmir Rosário 

Sem sombras de dúvida, o radialista Orlando Cardoso é um ícone da comunicação radiofônica de Itabuna. Não apenas pelos 64 anos ininterruptos à frente do microfone, mas pelo conceito adquirido junto aos ouvintes da região cacaueira. É preciso competência, carisma e credibilidade junto ao público – cativo – por longos anos.

E uma das marcas de Orlando Cardoso é ter responsabilidade em tudo que leva ao ouvinte, com o apoio de boa música e os comentários dos fatos no dia a dia de seus programas. E não é pra menos, pois a credibilidade do comunicador garante uma audiência cativa, com reflexos positivos na área comercial, com anúncios nos programas.

E a simplicidade de Orlando Cardoso não permite que ele fale sobre a publicidade no seu programa diário (matinal) Panorama 640 (meia quatro zero), sem espaços vazios na grade de comerciais. E cheios de orgulho, alguns colegas e amigos dizem que é o único programa a recusar novas publicidades, por um fator inédito: não existe espaço disponível.

Com toda a tranquilidade Orlando revela que o rádio lhe deu muita experiência de vida, a chance de conhecer parte do país, o que jamais teria em outras profissões. E não economiza elogios ao dizer que o rádio sempre foi tudo pra ele, depois de Deus e a família. E em seguida emenda que nunca foi metido a besta, o que lhe ajudou também na política.

Orlando Cardoso trabalhou nas três emissoras AMs de Itabuna – Difusora, Clube e Jornal – sempre disputando o primeiro lugar em audiência, com a mesma tranquilidade, focando sempre na sua comunicação. Numa conversa nossa há algum tempo ele disse que tem muita gente boa de audiência no rádio, mas que não conseguiu se eleger na política por não ser popular, simpático, e que a política não perdoa.

Mas os ouvintes não têm a menor ideia da trabalheira que é ser líder de audiência. E pra começo de conversa, exige um projeto que caia no gosto do ouvinte, acompanhado de músicas e boas informações. No esporte não é diferente e ele mesmo já passou muitos dissabores em estádios onde transmitia jogos da Seleção de Itabuna, a Hexacampeã Baiana de Amadores.

Em muitos desses jogos, os radialistas eram também tratados como adversários e tinham que ter muito jogo de cintura para realizar uma transmissão de qualidade. Os locais destinados aos visitantes eram em espaços exíguos e junto às torcidas adversárias, intimidando-os o jogo inteiro. Algumas vezes foi obrigado a transmitir os jogos em cima do teto da Kombi da Rádio Difusora.

E Orlando Cardoso não nega que era um apaixonado pela Seleção de Itabuna, e os torcedores apaixonados por ele. Nas transmissões sua vibração era transmitida pelo rádio e a torcida acompanhava, a exemplo do gol do Hexacampeonato, em Alagoinhas, quando ele narrou com toda a força dos pulmões o bordão: “É gol Itabunense, torcida grapiúna!”.

E nessa hora balançaram tanto a Kombi que ele não pode ver quem teria marcado o gol, muito menos ouvir o repórter Ramiro Aquino dar os detalhes do gol de cabeça do centroavante Pinga. “Acabou o jogo, entramos na Kombi e voltamos para Itabuna, e somente aí é que fui informado que o gol teria sido de Pinga, mas pouco importava, pois já éramos Hexacampeões”, ainda comemora Orlando.

A primeira participação de Orlando Cardoso no microfone foi na Rádio Clube de Itabuna, indicado pelo radialista e publicitário Cristóvão Colombo Crispim de Carvalho, por volta de 1960, quando narrou um jogo imaginário. Em seguida narrou outro jogo, este de verdade, no Campo da Desportiva, mas não continuou. Em seguida narra outro jogo imaginário na Rádio Difusora, a pedido de Romilton Teles, e é chamado para um teste na emissora, a qual trabalha.

E prestes a chegar aos 83 anos continua firme e forte na condução do Programa Panorama 640 (meia quatro zero) para a alegria de milhares de ouvintes. Vida longa na existência física e radiofônica, Orlando Cardoso!

Walmir Rosário é  radialista, jornalista e advogado, além de autor de livros como Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

Orlando Cardoso, de azul e na foto com Jorge Braga e Silmara Souza, foi dirigido por Lourival Ferreira
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De volta a Itabuna, Lourival Ferreira soube por ouvintes a falha humorística e pegou o rolo da fita do programa para ouvir a gravação. Para não deixar de graça, deu um esporro em cada um.

 

Walmir Rosário

Lourival de Jesus Ferreira era um técnico em eletricidade e eletrônica que montou as três emissoras de rádio AM de Itabuna – Clube, Difusora e Jornal, nas décadas de 1950 e 60. Também foi redator, apresentador de programas e diretor de emissoras, um faz tudo conceituado e suas criações e produções eram respeitadas. Todas campeãs de audiência.

Apesar de pessoa de bom trato, educado, Lourival era muito exigente e cobrava qualidade dos colegas que dirigia. Na Rádio Difusora Sul da Bahia, do empresário e deputado estadual Paulo Nunes, tinha o aval dos filhos do parlamentar, sobretudo Paulo Nunes Filho e Hercílio Nunes, este o administrador da emissora.

Lourival Ferreira era o “homem de sete instrumentos” e suas recomendações deveriam ser cumpridas à risca, sob pena de um olhar mais duro, reclamação, suspensão e até demissão. Com o passar do tempo, Lourival estudou direito, advogou em Itabuna, prestou concurso para a magistratura, foi juiz em Una, Itabuna, Salvador e chegou ao cargo de desembargador.

Assim que foi trabalhar no setor esportivo na Rádio Difusora, o “olhar clínico” de Lourival Ferreira identificou outras qualidades no narrador Orlando Cardoso, como apresentador de programas e noticiarista. De início, passou a trabalhar em parceria com Romilton (Teles dos) Santos, já “cascudo” no microfone e que encarnava o personagem “Martelo”, no programa Martelo e Martelinho (Eurípedes).

Como Orlando Cardoso já tinha ganhado a confiança, numa de suas muitas viagens, Lourival Ferreira indica Orlando para substituí-lo na apresentação da Resenha Esportiva que ia ao ar das 18h45min às 19 horas. Na produção o sisudo Raimundo Galvão, e na apresentação Romilton Santos e Orlando. Antes da viagem, as recomendações de praxe: “Era um programa em que as brincadeiras não eram toleradas, daí a escolha”.

E a Resenha Esportiva continuou no padrão de antes, até que um dia, ao noticiar sobre o novo material esportivo do Itabuna amador (ainda o amarelo e preto), Orlando abre o microfone e diz: O Itabuna acabou de receber o seu novo material esportivo, vindo de Santa Catarina. E Romilton complementa: O material do Itabuna consta de maiôs, camisas e chuteiras.

Diante da falha de Romilton, que trocou a palavra meiões por maiôs, Orlando Cardoso não se contém, cai na gargalhada e não consegue se recompor. Aí Romilton empurra Orlando da cadeira e toma a frente, tentando consertar: Aliás, quer dizer, meiões, camisas e chuteiras. Em seguida pede um comercial e lembra o que Lourival Ferreira teria recomendado: “Nada de brincadeiras”. Recompostos, os dois disseram que imaginaram os pesados atletas do Itabuna com as genitálias dentro de um maiô.

De volta a Itabuna, Lourival Ferreira soube por ouvintes a falha humorística e pegou o rolo da fita do programa para ouvir a gravação. Para não deixar de graça, deu um esporro em cada um. Depois caíram na gargalhada. Tapinhas nas costas de Romilton e Orlando, o que seria a recomendação de continuarem, porém sempre observando os textos com atenção.

Outro grande locutor e apresentador da Rádio Difusora foi Germano da Silva. Crooner do Lord Ritmos (se não me engano o nome) e que culminou no Lordão anos depois, Germano foi locutor comercial e apresentador de programas e shows de auditório e praças. Dono de um vozeirão impecável, o locutor gostava sempre de falar palavras difíceis e com sotaque carioca.

Numa manhã, enquanto Germano faz a locução de um texto comercial, ressalta a palavra gratuito por “gratuíto”, em alto e bom som, caprichando na separação do ditongo “ui”, pronunciando “gra-tu-í-to”. E isso justamente quando Lourival Ferreira ia chegando à sala da técnica de som. Pela cara que fez, deu a impressão que tinham estourados os tímpanos do diretor.

Imediatamente, chamou Germano da Silva em sua sala e impôs como castigo ao apresentador Germano da Silva a compra imediata de um caderno de 100 folhas e que escrevesse a frase “a palavra correta é gratuita”, por três mil vezes. Germano tentava se explicar, mas não sabia como consertar. E Lourival Ferreira foi categórico: “Só me volte aqui quando tiver escrito tudo e aprendido a pronúncia correta”.

E assim foi feito. Como era uma sexta-feira, deixou a sede da emissora, passou numa papelaria, adquiriu o caderno recomendado, e passou o fim de semana escrevendo. Na segunda-feira se apresentou, mostrou a escrita e pronunciou a frase por diversas vez, por exigência do diretor. Foi reconduzido ao programa e continuou o showman no microfone.

Germano da Silva passou a atuar também na política, foi assessor de imprensa da Prefeitura de Itabuna por vários anos e apresentador de shows. Cursou Direito e passou a advogar em toda a região, atuando em várias áreas da advocacia. Germano Lopes da Silva é Patrono da Cadeira nº 11 da Academia de Letras Jurídicas do Sul da Bahia.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado, além de autor de livros como Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

Walmir Rosário transforma entrevista em aula de jornalismo
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Walmir Rosário é um contador de histórias, no melhor sentido da expressão. Radialista, jornalista, escritor e advogado, faz da palavra instrumento de trabalho. Com cinco décadas na estrada, sua trajetória se confunde com a história recente do jornalismo no sul da Bahia. Tudo começou no rádio. “Por acaso”, recorda Walmir ao PIMENTA. Estreou com participações em programas religiosos da Rádio Sociedade de Feira de Santana, dos Capuchinhos.

Nascido em Ibirataia, em 1950, viveu em Itabuna desde os dois anos. Deixou o município cedo para estudar nos seminários dos Capuchinhos, em Vitória da Conquista e Feira de Santana. Quando a ordem de inspiração franciscana assumiu a Rádio Clube de Itabuna, sob o comando de Frei Hermenegildo, Walmir voltou para a cidade, manteve as participações em programas religiosos e foi contratado pela emissora.

Nos tempos áureos do cacau, integrou a equipe de comunicação da Ceplac. Também apresentou o programa De Fazenda em Fazenda, na Rádio Difusora de Itabuna. Na imprensa escrita, foi editor dos jornais A Região e Agora e repórter do Correio da Bahia – hoje Correio 24h. Prestou serviços, como freelancer, a jornais de Salvador e das regiões Sudeste e Sul do Brasil.

Ainda na comunicação, atuou em campanhas eleitorais e foi assessor e secretário das prefeituras de Itabuna, Ilhéus, Itajuípe, Floresta Azul e Canavieiras. Com a persona de advogado, militou em Itabuna (inclusive, como procurador do município), Ilhéus e Canavieiras, onde mora atualmente.

Já publicou livros como Josias Miguel – 70 anos de história; Crônicas de Boteco, um guia sem ordem; Como sobreviver à pandemia; Os Grandes craques que eu vi jogar – nos estádios de Itabuna e Canavieiras; O Berimbau, valhacouto de boêmios. Tem mais quatro obras no prelo e escreve crônicas semanais no blog que leva seu nome. e que também é reproduzido por este site.

Nesta entrevista ao PIMENTA, Walmir Rosário recupera os grandes nomes das redações grapiúnas e conta momentos pitorescos e tensos que viveu na cobertura da política. Também analisa o exercício da profissão no sul da Bahia e compara a dinâmica entre a sociedade civil organizada e a imprensa nas cidades de Ilhéus e Itabuna. Leia.

PIMENTA – Quais são as características elementares de uma boa história?

WALMIR ROSÁRIO – Todas as histórias são boas, dependendo de como são contadas. Basta ter começo, meio e fim bem definidos que agradará. Claro que um personagem forte, por si só, se garantirá. É preciso que o comunicador compreenda a mensagem que o personagem carrega e a transmita para o texto. O personagem pode ser político, empresário, médico, engenheiro, policial, infrator, cumprindo pena ou não, padre, pastor, ou o chamado “alguém do povo”. Basta que tenha uma história verdadeira para contar. E todas as histórias são boas, volto a dizer, a depender do ponto de vista, pois pouco se conhece da vida de uma pessoa, desde a mais simples até as que ocupam os altos cargos, os poderosos. Cada um tem o que dizer.

E as de um bom narrador?

Saber ouvir, apurar, ter paciência e senso de desconfiança quando não conhece o personagem. Não pode deixar o personagem correr solto, falar à vontade. É bom interromper a entrevista quando acredita que a fala não tem sentido. Se for verdadeira, ele retomará sem problemas. Um bom narrador tem que ter um bom ouvido, anotar tudo que considere importante e, se possível, gravar. Na gravação dá para sentir a emoção do entrevistado, se fala a verdade ou não, a depender da segurança – não confundir com nervosismo. O comunicador tem que ser um profissional especialista em conhecimentos gerais, saber concatenar a história, ligar um fato a outro, conhecer lógica, mesmo de forma rudimentar, e ter raciocínio rápido. É esse feeling que vai tornar a narrativa agradável, texto simples e de fácil leitura, e, sobretudo, verdadeira. E isso é tudo que agradará a um leitor, não importando o seu nível de escolaridade. Escrever para todos é o ideal e mais inteligente.

É possível comparar a qualidade do jornalismo de 40 anos atrás com a do atual? Evoluiu?

Apesar de saudosista, as comparações nem sempre são verdadeiras, pois é preciso situar o tempo, o espaço, os costumes. No século passado, até o início da década de 1950, boa parte dos jornais eram veículos de propaganda de partidos e governo. Em Itabuna este fato está bem documentado por Ramiro Aquino no seu livro De Taboca a Itabuna, 100 anos de jornalismo. A partir de 1960, houve uma mudança na forma da apresentação dos textos e diagramação. Dessa época pra cá muito se falou em jornalismo com isenção, e até que chegou a ser praticado pela direção dos principais veículos, embora muitos pequenos também tenham feito o dever de casa. Do ano 2000 para cá, a militância política voltou em cheio aos meios de comunicação, só que agora com o engajamento da direção.

Falta isenção?

Briguei muito nos veículos de comunicação para manter a democracia, dividindo os espaços com a sociedade. Muitas vezes, fui incompreendido. Cada um tem sua ideologia, mas não pode ser vendida se sobrepondo aos fatos. Se o jornalista quer expressar opinião, que assine seu pensamento. Não pode é influenciar numa matéria substantiva, adjetivando-a, distorcendo os fatos. Há algum tempo os comunicadores se revestem de policiais, representantes do ministério público, juízes, sem os poderes conferidos. Muitas vezes, causam prejuízos irreparáveis e o mea-culpa não é feito com o destaque do dano. Sempre dei espaço a todos os segmentos. Vez ou outra, no mesmo número do jornal, assinava um artigo contrário àquela posição. Então, posso afirmar, houve uma perda de qualidade, embora tenhamos bons veículos e excelentes profissionais.

Poderia citar profissionais em quem se inspirou no jornalismo?

Minha infância e adolescência foi bastante rica na comunicação, pois ouvíamos e líamos grandes profissionais. Em Itabuna, em frente ao Colégio Estadual, ficava a sede do Intransigente, para onde eu ia ver formatar o texto do jornal em tipos frios, conversar com os redatores. No Diário de Itabuna, ainda na Paulino Vieira, ficava horas conversando com Milton Rosário, o editor da época. Na publicidade, me encantava com as sacadas rápidas de Cristóvão Colombo Crispim de Carvalho (CCCC); o mesmo com Nelito Carvalho, os editoriais do poeta santamarense Plínio de Almeida no rádio e nos jornais; o poder da lábia de Titio Brandão, Germano da Silva, Pedro Lemos, Gonzales Pereira, Orlando Cardoso, Geraldo Santos (Borges), Edson Almeida, Iedo Nogueira. E, nos jornais do sul, Carlos Castelo Branco, Nélson Rodrigues, Waldir Amaral, Rui Porto e tantos outros.

O jornalismo do sul da Bahia conseguiu estabelecer identidade e marcas próprias? Ele tem (teve) expoentes no patamar da nossa literatura, por exemplo?

O poeta e escritor Plínio de Almeida é um deles. Alguns jornais, muitos deles de vida efêmera, trouxeram grandes nomes. Um desses veículos foi o SB – Informações e Negócios, uma maternidade do jornalismo e literatura de Itabuna, capitaneado por Nelito Carvalho. Época de Jorge Araújo, Manoel Lins, Hélio e Célio Nunes, Firmino Rocha, Antônio Lopes, Kleber Torres. Quase esqueci de dois monstros sagrados, Telmo Padilha e Hélio Pólvora.

Qual foi o episódio mais pitoresco que viveu na comunicação política?

Walmir relembra episódio pitoresco ao lado de José Adervan

No jornal Agora, fazíamos constantes matérias sobre os serviços públicos nos bairros. Numa delas, recebemos reclamações da Prefeitura de Itabuna, de que não seriam verdadeiras. Como confiava na repórter, resolvi convidar o diretor José Advervan para ir constatar a veracidade. Quando chegamos lá, a situação era pior do que a narrada. Quando voltávamos, Adervan recebeu uma ligação do prefeito para dizer que era tudo mentira, no que o diretor revela que ele estava justamente vindo de lá e que teria comprovado as denúncias já publicadas e outras várias. E tudo acabou em risadas.

Tem mais?

Eu era editor do jornal A Região e repórter do Correio da Bahia. A Região não era bem-vista pelo governo municipal e eu fui atender a um convite da assessoria para elaborar um caderno especial de 32 páginas para a Prefeitura de Ilhéus. Época de festas juninas, inauguração de obras, apresentação de um novo futuro com a vinda de empreendimentos. Cheguei, fui anunciado e me pediram para aguardar numa antessala, até que fosse encerrada uma reunião com os profissionais. De onde eu estava, ouvia tudo que falavam. De repente, o assunto da reunião deles foi a elaboração de um caderno vibrante sobre Ilhéus, que eles comparavam com uma edição de A Região. Isto até que fui visto, quando passaram a esculhambar o jornal A Região. Tranquilo, continuei sentado, aguardando ser chamado para a pauta do especial do Correio da Bahia.

E o momento mais tenso que já enfrentou?

O jornalismo é sempre tenso, desde a entrevista, a apuração, a redação e o fechamento do jornal – escrito, falado e televisado. Imagine quando alguém se sente contrariado em seus interesses. Já recebi a visita de pessoas que já chegam prometendo bater, matar. Como editor, sempre tinha que comprar a briga, por telefone ou pessoalmente. Nunca me intimidei e, de início, busquei uma conversa franca e educada, o que quase sempre conseguíamos.

Já teve ameaça?

Várias. A primeira no caso da venda da Sulba, em que fiz uma série de reportagens para o Agora; de outra feita prometeram me matar quando estivesse em um bar; que poderia ser preso em flagrante por posse de drogas em meu carro. Nesse caso sugeri que melhor seria colocar litros de whisky ou cachaça, do contrário ninguém acreditaria. Mas continuo vivo.

Os movimentos sociais, as entidades de classe e a imprensa de Itabuna têm mais influência nas disputas eleitorais do que em Ilhéus?

Infelizmente, os jornais perderam espaço em Itabuna e Ilhéus. Os que continuam sobrevivem como podem e bem-feitos. Há uma grande diferença na comunicação entre Itabuna e Ilhéus, e uma distinção é a sede dos canais de TV. De certa forma, em Itabuna, a comunicação sempre foi mais incisiva, e as entidades de classe sempre souberam utilizar os veículos de comunicação em causa própria. Esse poder ficou maior com as mídias sociais, de maior agilidade e sem filtros. Os políticos que sabem interagir com a dita imprensa e as redes sociais levam grande vantagem. Mas, nos últimos anos, Ilhéus avançou no poder da mídia tradicional e da rede social, não só com as notícias corriqueiras, como também das analíticas, influenciando mais eleitores. Desde os anos 1980 que o sociólogo Agenor Gasparetto costuma dizer que a eleição em Ilhéus é decidida um ano antes. Como exemplo mais antigo, a eleição de Valderico Reis, em 2004. Duas cidades, pesos diferentes, mas que passam a ficar com a mesma cara, pelo trabalho de alguns dos comunicadores ilheenses.

Jorge Caetano entrevista o Rei Pelé || Foto Arquivo Pessoal
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– Jorge Caetano, você viu que cacete? – pergunta o narrador Paulo Kruschewsky.

Até hoje não se sabe ao certo a informação de Jorge Caetano, mas segundo a galera do radinho de pilha colado ao ouvido, ele teria dito:

– Vi, sim, Paulo Kruschewsky, estava em cima dele!

Walmir Rosário

Itabuna e Ilhéus possuíam vários times, todos recheados de craques. Isto quase todos sabem. Entretanto, poucos conhecem os craques dos microfones esportivos daquela época. Eram muitos e bons, afirmo com toda a tranquilidade. E um deles era (e é) Jorge José Caetano Neto, ou simplesmente Jorge Caetano, que atuou durante anos na reportagem de campo e na narração de jogos, o que ainda faz até os dias de hoje.

E pra começo de conversa, Jorge Caetano foi revelado em Ilhéus, onde morava, e passou a integrar a equipe da Rádio Bahiana, inicialmente como plantonista, depois como repórter. E o início foi obra do acaso e das boas amizades. Um belo dia, o empresário Moisés Bohana, que tinha sido colega de escola, perguntou se queria trabalhar na emissora. Não deu outra, começou no dia seguinte, para ganhar experiência.

Com o traquejo, pouco tempo depois passou para a Rádio Jornal de Ilhéus (hoje Santa Cruz), de Osvaldo Bernardes, já como repórter esportivo. E por lá foi ampliando os conhecimentos, tanto que em pouco tempo já era um disk joquei. Nessa época conheceu o radialista Seara Costa, com quem passou a formar dupla. E o rádio ilheense parecia um zoológico, dada a quantidade de “feras” no microfone.

Djalma e o irmão Fernando Costa Lino, Armando Oliveira, o futuro governador Paulo Souto, Juarez Oliveira, Paulo Kruschewsky, eram as figurinhas carimbadas com os quais passou a dialogar no rádio esportivo ilheense. Em 1970 é aprovado num concurso da Ceplac e conhece o radialista Geraldo Santos (Borges), que lhe abriu caminho no rádio itabunense, onde predominavam profissionais de altíssimo nível.

Nessa época se transfere para a Rádio Jornal de Itabuna e o diretor Waldeny Andrade o escala para substituir Geraldo Santos, ocupado com o mestrado no Rio de Janeiro. De início, como era costume, passou a narrar em companhia de Cordier, cada qual um dos tempos dos jogos. E nesta época trabalhou lado ao lado de Nílson Rocha, Lucílio Bastos, Lima Galo, Orlando Cardoso, Ramiro Aquino e outros craques do microfone esportivo.

E Jorge Caetano viveu muitas histórias nas transmissões esportivas nos campos do interior baiano. Certa feita, em Maracás, foi transmitir o jogo das seleções de Itabuna e a local. Sem saber, o sinal da rádio Difusora, para quem narrava, estava sendo retransmitido para o serviço de sonorização da cidade. De repente, o céu escurece e cai um toró. Como a chuva não parava, o campo se transformou num imenso lamaçal.

Desconhecendo que toda a cidade o escutava pelo serviço de som, passou a falar das péssimas condições do campo. De repente, ouve o pipocar de fogos. E Jorge Caetano pensava que a torcida apenas comemorava a entrada de sua seleção em campo. Mas como os fogos vinham na direção da equipe da Rádio Difusora, se deu conta que seus comentários sobre o gramado mexeu nos brios da população local.

Jorge Caetano em seu estúdio em Itajuípe || Foto Walmir Rosário

Após se casar, Jorge Caetano passa a residir em Itajuípe e continua a trabalhar no rádio esportivo. Com o tempo, se elege vereador, se torna presidente do Legislativo e passa a ser tratado pelos colegas – no ar – como o Repórter Presidente. Certa feita, viaja a Santo Antônio de Jesus com o narrador Orlando Cardoso, para transmitir uma partida entre o Leônico e Itabuna pelo Torneio de Acesso.

Só que o ônibus em que viajaram não entrava na cidade e desembarcaram na BR-101, com enormes sacolas de equipamentos. Aquela seria a última narração esportiva de Orlando Cardoso. Enquanto caminhavam em direção à cidade, comentavam a cena que viviam: dois radialistas e vereadores tendo que transportar aquela bagagem, por não atentarem para o itinerário do ônibus, até que uma providencial carona os salvaram dos fardos.

As transmissões do Campeonato Intermunicipal eram antecedidas por verdadeiras batalhas radiofônicas, insuflando a rivalidade entre os torcedores. Certa feita, numa partida entre os selecionados de Itajuípe e Coaraci, a animosidade se agravou. E os torcedores de Coaraci prepararam a vingança jogando pedaços de melancia, sendo que um delas bate na cabeça de Jorge Caetano.

Noutra feita, num jogo entre Cachoeira e Itajuípe, ao chegar ao estádio, um torcedor grita: olha, seu “fdp” se você gritar um gol aqui eu te jogo dentro do rio. Quando Jorge Caetano se dá conta, estava localizado no final da arquibancada, quase em cima do muro e o rio logo abaixo. A Seleção de Itajuípe ganhou por três a zero ele teve que narrar o jogo bastante apreensivo.

Todo o radialista, ao se preparar para a área esportiva, um dos métodos mais fáceis é se inspirar nos colegas famosos. E com Jorge Caetano não foi diferente. Mesmo não gostando de imitar, ouvia com atenção José Carlos Araújo, César Rizzo, Edson Mauro, Orlando Cardoso e Geraldo Santos, e às vezes até puxava nuances do estilo de cada um deles para sedimentar um estilo próprio.

Já com bastante experiência, um lance deixou o repórter Jorge Caetano bastante famoso. Jogavam no estádio Mário Pessoa Flamengo e Colo-Colo de Ilhéus. E o atacante do Flamengo, Parará, dribla dois zagueiros do Colo-Colo e dá um chute violento em direção ao gol, que passa raspando a trave. E então o narrador Paulo Kruschewsky aciona o repórter Jorge Caetano para completar a informação.

– Jorge Caetano, você viu que cacete? – pergunta o narrador.

Até hoje não se sabe ao certo a informação de Jorge Caetano, mas segundo a galera do radinho de pilha colado ao ouvido, ele teria dito:

– Vi, sim, Paulo Kruschewsky, estava em cima dele!

Mas garante Jorge Caetano, que a frase correta teria sido:

– Vi, sim, Paulo Kruschewsky, estava em cima do lance!

E essa passagem notabilizou Jorge Caetano para o resto da vida, que se orgulha de ter entrevista Pelé e outros grandes jogadores brasileiros. Atualmente Jorge Caetano se divide entre o site http://www.webnewssul.com.br/; a apresentação de um programa às segundas-feiras, ao meio-dia, na FM 91,2; e o programa A Agenda da Cidade e transmissões esportivas na rádio web Pitangueiras FM.

Walmir Rosário é radialista, jornalista, advogado e autor d´Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

Orlando Cardoso, um exemplo sempre lembrado
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Orlando legislou por dois mandatos de 6 anos e se tornou um vereador conceituado nos 12 anos em que passou no legislativo. Não barganhou votos, não negociou favores, mas se empenhou nas reivindicações da população.

 

Walmir Rosário

Se o sucesso do narrador esportivo Orlando Cardoso multiplicava a cada dia, assim que passou a criar e apresentar programas de músicas e variedades, então, crescia exponencialmente. E a cada vitória da magnífica Seleção de Itabuna no Campeonato Intermunicipal seu prestígio aumentava, em função do seu amor pela equipe e forma apaixonada de transmitir as partidas e apresentar os programas.

Orlando Cardoso não apenas narrava o caminho percorrido pela bola e os jogadores, ele sabia transmitir emoção ao ouvinte, sentimento que se tornava comoção com os gols marcados pelos craques que comandavam o ataque do selecionado itabunense. Nos programas de músicas e variedades não era diferente, pois sabia tocar o coração, o fundo da alma dos ouvintes, com palavras de conforto, carinho e alegria.

Comunicador de palavra fácil (não confundir com Luiz Mendes, o comentarista da palavra fácil), não precisava empolar o texto, engrossar a voz, forçar o grave. Bastava falar ao ouvinte como fazia em sua vida normal, manter sua identidade. E assim tocava uma música, contava uma piada, mandava um alô com bastante intimidade ao amigo. Com isso ganhou cadeira cativa nas residências, nas empresas, onde quer que estivesse o ouvinte.

E Orlando Cardoso passou a ser um membro das famílias, e não raro recebia convites para almoços, aniversários, festas em geral. E passou a visitar essas pessoas com mais frequência, como retribuição ao carinho que era tratado. Certa feita, ao visitar uma pequena comunidade na área rural, foi recebido por quase toda a população, que fazia questão de ver pessoalmente o amigo que chegava diariamente pelas ondas do rádio.

Sua popularidade era tamanha que era tratado nas ruas com os bordões que utilizava. Em vez do tradicional bom dia, era cumprimentado de forma carinhosa: “É gol itabunense, torcida grapiúna”, ou “O barbante estufou, o escore mudou”. Foi aconselhado a postular uma vaga na câmara municipal, pois teria mais condições de solucionar os problemas da comunidade, muito deles reivindicados pelo rádio.

E Orlando Cardoso aceitou o encargo, mas pautou sua campanha de forma diametralmente oposta aos outros candidatos, sem as costumeiras promessas de fazer e acontecer, como se fosse o guardião do cofre municipal. De maneira singela, dizia não prometer nada, a não ser o empenho político, pois como nunca tinha sido vereador, não sabia com precisão o que poderia realizar, cumprir as promessas.

Os parcos recursos da campanha se destinaram à confecção de santinhos, dentre outras pequenas despesas inerentes. O sucesso e a confiança obtida no rádio foi transmitida à campanha vitoriosa. Legislou por dois mandatos de 6 anos e se tornou um vereador conceituado nos 12 anos em que passou no legislativo. Não barganhou votos, não negociou favores, mas se empenhou nas reivindicações da população.

Enquanto exerceu os mandatos continuou narrando partidas de futebol, apresentando seu programa radiofônico com a mesma desenvoltura de antes, distinguindo e separando as obrigações assumidas com os ouvintes e eleitores. E fazia questão de revelar sua conduta antes de depois de eleito, com a mesma seriedade que sempre pautou sua vida. Continuou sendo o Orlando Cardoso alegre, festeiro, atencioso de sempre.

Certa feita o vereador Orlando Cardoso foi procurado por uma pessoa do bairro da Conceição, onde morava e mora, solicitando seus préstimos no legislativo para propor um projeto de lei de mudança de nome de rua. Coisa simples, um parente – também amigo de Orlando e com prestígio no bairro – teria morrido e poderia ser homenageado emprestando seu nome na rua em que morou por muitos anos.

Sem querer desagradar a pessoa, o vereador Orlando Cardoso agradeceu e disse que se sentia honrado pela sua escolha e com toda a sinceridade que Deus lhe deu, propôs uma simples condição. Como a rua já homenageava outra pessoa, ele sugeriu que a proponente elaborasse um abaixo-assinado subscrito por todos os moradores endossando a mudança do nome da rua, que ele apresentaria o projeto.

Dois dias depois foi procurado pela mesma pessoa, que agradeceu a atenção do vereador e pediu que não desse andamento à proposição, pois na primeira casa em que ela teria visitado era justamente a da família do atual homenageado. E mais, teria tratado a proponente com aspereza e prometeu ir às vias de fato caso houvesse a mudança no nome da daquela rua. E não se falou mais nisso.

Nas votações de projetos importantes a Câmara de Vereadores se transformava num fervedouro, com a movimentação de políticos dos mais variados partidos e bancadas, representantes do Executivo cabalando votos para a aprovação ou rejeição. Na maioria das vezes com vantagens eleitoreiras. Nessas ocasiões, o vereador Orlando Cardoso ouvia a todos com atenção e manifestava seu voto de acordo com a importância do projeto e sua consciência, sem qualquer alarde.

Ao deixar a política continuou exercendo seu trabalho diário na apresentação de seu programa, a gravação de publicidade e a divulgação por meio de carro de som, gozando do mesmo respeito de antes. Até hoje, sempre que no meio político ou na comunicação alguém tece comentários sobre o comportamento dos vereadores, seu nome é lembrado como um exemplo a ser seguido.

Walmir Rosário é radialista, jornalista, advogado e autor de Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

Ao lado de Silmara Sousa, Orlando Cardoso entrevista Jorge Braga, ex-presidente da CDL Itabuna
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Era 26 de fevereiro de 1961. Em meados de abril, o diretor de Broadcast da Rádio Difusora, Lourival Ferreira, o convoca para assumir o comando das narrações, e sozinho.

 

Walmir Rosário

Dizem os estudiosos em física e matemática que o raio não cai duas vezes no mesmo lugar. Até que poderia, mas as probabilidades seriam remotas, ínfimas. Não concordo, mesmo tendo consciência de que sou, cientificamente, um ignorante nesses assuntos. E rebato essa tese apresentando prova em contrário, reconhecida e testada em todos os lugares em que as ondas do rádio de Itabuna alcançaram e fizeram sucesso.

E minha tese, como disse, tem nome e sobrenome, Orlando Cardoso Melo, com 62 anos dedicados ao rádio. Pelas minhas contas, seriam 63, mas como ele não coloca sua primeira experiência no currículo, acato a idade radiofônica em questão. E Orlando desempenha, ainda, com maestria tudo o que criou e fez no rádio, como transmissões esportivas, apresentação de resenhas, programas musicais, informativos e o que mais apareça.

E ele chegou ao rádio por acaso. A primeira vez em que o raio (do rádio) caiu foi em 1960, na antiga Rádio Clube de Itabuna, por obra e graça de Cristóvão Colombo Crispim de Carvalho, o CCCC, que solicita para que Orlando Cardoso gravasse um jogo imaginário em seu gravador (de Crispim). Feito o teste, aprovado, foi convidado a narrar uma partida preliminar do Campeonato de Itabuna. Perfeito para a primeira vez.

Foi convidado a fazer parte da equipe comandada por José Maria Gottschalk, com Gérson Souza, Crispim, dentre outros. Aceitou. A emissora estava ampliando o quadro do esporte, com Leovaldo Almeida, Edson Almeida, Geraldo Santos, e Leovaldo e o designou para a redação da resenha. Perguntou se “batia a máquina”, como a resposta foi negativa, ordenou que se matriculasse numa escola de datilografia.

Orlando não deu as caras na emissora e continuou seu trabalho na Loja Osgonçalves, esqueceu a quase nova profissão de radialista, para desgosto de Crispim. Vida que segue, em 1961 inicia o serviço militar no Tiro de Guerra, sob o comando do então sargento Paulo. Num desses domingos, ao encerrar a instrução, o sargento anuncia que o radialista Romilton Teles teria convidado a todos para participarem do programa Show da Alegria, na Rádio Difusora.

E o raio tornou a cair no mesmo lugar. Romilton Teles anuncia que os atiradores podem se apresentar com o que sabem fazer de melhor: cantar, dançar, recitar poesia. Um colega engrena a música Esmeralda e incentiva a apresentação dos demais. Para surpresa da plateia, Orlando Cardoso se candidata a narrar um jogo entre o Vasco da Gama e o Real Madri, pois tinha escutado esse jogo no meio da semana, com o gol de Delem.

Assim que recebeu o microfone das mãos de Romilton, Orlando pede a ajuda da galera e botou o tom fora, até anunciar o gol do Vasco. Se junta aos demais e em seguida é convocado para voltar à emissora na quarta-feira, para se encontrar com o diretor-geral Hercílio Nunes. Se apresenta, mas como o diretor estava numa reunião, pede que ele vá no domingo ao Campo da Desportiva e que chegue mais cedo, pois narrará uma partida.

Chega cedo como aprazado e Hercílio abre a transmissão, anuncia o novo contratado, que narrará o jogo em conjunto com o titular, Luiz Alves. E cada um narraria o jogo numa metade do campo, como faziam Jorge Curi e Antônio Cordeiro na Rádio Nacional. Era 26 de fevereiro de 1961. Em meados de abril, o diretor de Broadcast da Rádio Difusora, Lourival Ferreira, o convoca para assumir o comando das narrações, e sozinho.

No próximo domingo já estreou no Estádio Mário Pessoa, em Ilhéus, transmitindo Seleção de Ilhéus e Bonsucesso, do Rio de Janeiro. E não parou mais. Apresentou resenhas e inovou ao criar e apresentar um programa com músicas de Carnaval, só que fora do Carnaval. Mesmo contra a opinião de Hercílio Nunes, apresentava aos domingos, das 7 às 9 horas, Carnaval Toda a Vida, e a primeira música tocada foi Roubei a mulher do rei.

Enquanto isso, fazia de tudo para continuar nas duas ocupações, a Osgonçalves e a Difusora, até quando não deu mais e deixou a loja. Assim que avisou a Hercílio que estava “desempregado” da loja, recebeu a proposta para apresentar um novo programa, à tarde. Descansou merecidos 15 dias e passou a apresentar o programa Discoteca Jovem de Ontem, com músicas passadas, que caiu, imediatamente, no gosto dos ouvintes.

E Orlando Cardoso se consolidou no rádio itabunense e regional pela alegria em que narrava as partidas de futebol e as apresentações dos programas musicais, contando piadas e mandando os alôs para os ouvintes. Nas ruas e estádios era cumprimentado com os bordões que criava, era convidado a ir às casas dos ouvintes, e sempre chegava com a mesma alegria do rádio.

No futebol, criou bordões que fizeram muito sucesso e são lembrados e imitados até hoje. E os ouvintes iam ao delírio quando ouviam Orlando gritar: “Abrem-se as cortinas e começa o espetáculo do futebol”, subtraído da ideia de Fiori Gigliotti; “Gol itabunense, torcida grapiúna”; “O barbante estufou, o escore mudou”; “Ora, ora, ora, agora, (para informar o horário,”, dentre outros. “Eles apareciam e eu incorporava ao repertório”, conta.

Após vários anos na Rádio Difusora, passa pela Rádio Nacional (ex-Clube) e Rádio Jornal de Itabuna, até retornar à Difusora, onde até hoje lidera a audiência com o Programa Panorama 640 (meia quatro zero). Comentam os colegas radialistas, que o programa não tem mais espaço algum para novas publicidades, o que configura o estrondoso sucesso de Orlando na Difusora e nas emissoras em que passou.

Em 1984 Orlando Cardoso finaliza sua participação como narrador esportivo, apesar dos constantes apelos dos ouvintes e colegas para que permanecesse por mais tempo. Narrou grandes partidas da Seleção Brasileira no Maracanã e no Maranhão; do Flamengo (3) na decisão do Campeonato Brasileiro contra o Atlético Mineiro (1); e em Campinas, na vitória do Guarani sobre o Itabuna por 7X1.

E Orlando Cardoso, torcedor do América carioca, sempre foi um eterno apaixonado pelo bom futebol da Seleção de Itabuna. Foi eleito vereador para dois mandatos de seis anos (cada) e é uma das pessoas mais populares de Itabuna e região. Aos 81 anos de idade e 62 de radialismo (63 se contar com a pequena passagem pela Rádio Clube), se considera um homem feliz e realizado com sua família.

Um homem com grandes histórias e que aqui serão contadas em muito breve.

Walmir Rosário é radialista, jornalista, advogado e autor de Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

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Seleção do Rádio no início da década de 80, na antiga Desportiva (Foto Arquivo Aleilton Oliveira).
Seleção do Rádio no início da década de 80, na antiga Desportiva (Foto Arquivo Eilton Oliveira).

Funcionário aposentado do Banco do Brasil, Eilton Oliveira coleciona fotos raras dos tempos em que atuava no rádio grapiúna, junto com figuras como o hoje publicitário Sílvio Roberto. Uma dessas raridades é a imagem acima. Foi clicada no início dos anos 80, na antiga Desportiva, segundo o jornalista Valdenor Ferreira. Nela, estão grandes craques do rádio itabunense.

“O uniforme é da equipe da Rádio Jornal, mas reunia colegas de outras emissoras. Formávamos a Seleção do Rádio”, diz Sílvio Roberto, que não aparece na foto, mas jura que jogava um bolão.

A ordem dos craques (da comunicação) na foto é a seguinte:

Em pé, a partir da esquerda, aparecem Jorge Eduardo, Orlando Cardoso, Lucílio Bastos, Nivaldo Reis, Cacá Ferreira, Eduardo José e Welington Oliveira.

Agachados, a partir da esquerda, estão Valdenor Ferreira, Valter Barbosa, Jota Borges, Henrique Queiroz, Eilton Oliveira (o colecionador de raridades e hoje em Brasília) e o grande Biro-Biro.

Muitos deles já estão em um outro plano, mas deixaram exemplo de profissionalismo e de domínio do microfone, a exemplo de Lucílio Bastos e Jorge Eduardo.

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marivalguedesMarival Guedes | marivalguedes@gmail.com

 

Aos 72 anos, Orlando comanda um dos programas de maior audiência, o Panorama 640. Ele confirma a história, mas se esquiva quando indagado sobre os detalhes: “Vamos esquecer, deixa isso pra lá,” diz educadamente.

 

Eleito prefeito de Itabuna em 1976, pelo MDB, Fernando Gomes começou as manobras para eleger a Mesa Diretora da Câmara. Pediu ao assessor político, jornalista Eduardo da Anunciação, que fosse até a residência do vereador e radialista Orlando Cardoso (Arena) conquistar este voto. O argumento estava dentro de um saco de papel do Supermercado Messias.

Eduardo foi ao encontro de Orlando, mas não conseguiu convencê-lo. Pelo contrário, o vereador irritou-se e não reagiu grosseiramente porque, além de amigos, compreendeu que o assessor cumpria ordens. O “presente” foi devolvido ao prefeito. Um colega perguntou a Anunciação porque ele não ficou com a grana. “Dinheiro não é tudo,” respondeu.

Duda morreu em fevereiro de 2013 aos 67 anos. Nos textos, adotou estilo singular e seu último compromisso profissional foi a coluna Política, Gente e Poder, no Diário Bahia.

Orlando Cardoso completou 53 anos de atividades no rádio ano passado, recebendo homenagens pela conduta. Aos 72 anos, comanda um dos programas de maior audiência, o Panorama 640. Ele confirma a história, mas se esquiva quando indagado sobre os detalhes: “Vamos esquecer, deixa isso pra lá,” diz educadamente.

No entanto, numa das homenagens, lembrou que foi vereador por dois mandatos e não gostou da experiência. Admitiu que foram várias as ofertas, porém nunca negociou um voto, refutou todas. E desafia: “Se alguém disser que me comprou, mesmo com um saquinho de pipocas, pode declarar que eu tornarei público dentro de meu programa.” No seu entendimento, “quem é honesto, não merece aplausos. É obrigação.”

Fernando Gomes, eleito quatro vezes prefeito de Itabuna e três deputado, após a gestão 2005/2008, decidiu morar em Vitória da Conquista. Em discurso na Rádio Difusora, à época sua propriedade, anunciou fim de carreira e desabafou: “A política está fazendo vergonha, com tanta corrupção”.

Marival Guedes é jornalista e retoma as (elogiadas!) crônicas das sextas-feiras no Pimenta.

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A revista Contudo chega às bancas neste sábado, 12, com sua oitava edição e toda cor-de-rosa. Na capa, destaque para a comunista Alice “Rebele-se” Portugal, a única baiana na Câmara dos Deputados.

A presença de Alice no legislativo federal é o mote para uma matéria que enfoca a ainda incipiente participação feminina na política.

Outro assunto em destaque são 50 anos de rádio do mestre Orlando Cardoso, que foi entrevistado por Celina Santos. No bate-papo, Orlando conta histórias de seu meio século de microfone e revela porque desistiu da política após ter exercido dois mandatos como vereador.

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Orlando: 50 anos de rádio (Foto Marcos Soares).

Uma das vozes mais famosas do rádio baiano e a maior audiência do rádio AM do sul da Bahia, Orlando Cardoso completou 50 anos de microfone neste sábado (26). Com passagens por todas as AMs de Itabuna, Orlando está há mais de 20 anos na rádio Difusora. Na emissora, produz e apresenta o Panorama 640, das 7h às 9h, de segunda a sábado.

Orlando é do tempo em que o rádio AM era principal referência em informação. Os anos se passaram (cinquentinha!!!) e o radialista fez da credibilidade a sua marca. Sorte dos repórteres Oziel Aragão, Hélio Fonseca e Silmara Souza, que acompanham o mestre em sua jornada diária.