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Em resposta aos leitores, sobre questões metafísicas como “quem sou, o que sou, o que faço no mundo?”, o colunista Ousarme Citoaian (que assina a coluna UNIVERSO PARALELO, aqui no Pimenta) diz que “buscar-se é próprio do homem”. Como a querer provocar os filósofos, ele cita, a propósito, o “Conhece-te a ti mesmo”, de Sócrates (que teria vivido lá pelos anos 450 a. C.), para lembrar que Descartes, nascido mais de dois mil anos mais tarde, pregou um “Penso, logo, existo”. As duas frases, tão distanciadas no tempo, soam próximas, segundo o colunista, “no sentido de levar o indivíduo a investigar-se”.

Ele mesmo se confessa surpreso com essa proximidade entre dois pensamentos tão díspares, e conclui com uma brincadeira: “Eu imaginava que Descartes fosse… cartesiano!” O. C. ainda “conversa” com seus leitores sobre jazz, literatura (festeja o lançamento de uma pesquisa sobre Marighella, “o inimigo número um da ditadura militar”) e assuntos difusos, como os diabinhos (sorridentes e cheirando a enxofre) que se escondem dentro dos computadores.

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Em sua abordagem semanal dos comentários postados na coluna Universo Paralelo, Ousarme Citoaian, provocado por uma leitora, afirma que a má pronúncia fere os ouvidos, não os sentimentos. “Amores `naquela base do só vou se você for´ não são destruídos por sotaques”, prega o colunista, para quem “o cupim da intolerância só corrói madeira fraca” (e, retornando à veia satírica, diz que está com ideia de montar um consultório sentimental)…

O. C. ainda se diz “quase com inveja” do leitor que cita Os desvalidos, de J. C. Dantas (que um crítico chamou “o Faukner de Sergipe”), divide com uma leitora a glória vivida pela coluna ao falar da queridinha de Sócrates, a poetisa de Safo (com quem inauguraram a moda de queimar livros) e ainda lamenta que, mesmo no Recife, as pessoas comecem a falar  “Bêbêribe e “Ôlínda” – por nefasta influência da tevê.

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NÃO COMO BADÊJO NEM CARNE GRÊLHADA

Ousarme Citoaian | ousarmecitoaian@yahoo.com.br

É incrível como a mania das vogais fechadas, típica de paulistas mal informados, invade a mídia eletrônica, lá faz morada e termina sendo defendida por linguistas descuidados, em nome de um vago “dinamismo” da língua portuguesa. Há dias, com o “gancho” do jogo da seleção brasileira de futebol, cansei-me de ouvir narradores de tevê chamarem a capital da Suécia de Estocôlmo. Outros afirmam os milagres de uma tal vitamina Ê (dizem que, como afrodisíaco, é tiro e… queda!), assam carne na grêlha, fazem moqueca de badêjo, falam de um lugar longínquo da Grécia dito Peloponêso – e por aí vai.

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O regionalismo identifica certos locais

E não é difícil encontrar até gente “culta” que defenda tais prosódias despropositadas, como “regionalismos”. Deixemos em paz os regionalismos, que são perfeitamente defensáveis como parte da identidade de determinados lugares. Regionalismo é chamar tangerina de bergamota, laranja-cravo, poncã, mimosa etc. – mas chamar Estocólmo de Estocôlmo é ignorância mesmo. Lembro-me que, certa vez, ao avaliar um texto gravado para tevê, topei com a expressão “quadra pôliesportíva” : chamei a repórter e lhe pedi que gravasse outra vez. Ela, que devia me agradecer, ficou ressabiada por ter-lhe estragado a pronúncia “bonita”.

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A língua é viva, mas não exageremos

Entre os novidadeiros e os meramente ignorantes vamos mudando o que não é para ser mudado, introduzindo “novos” vocábulos e contribuindo para deseducar as atuais e futuras gerações. Que a língua é viva e dinâmica, não há dúvida; mas de que tudo demais é sobra também tenho certeza. A pessoas que escrevem (ou falam) nas mídias (aí incluídos os blogs, por que não?) há de ser imposta a dita norma culta – não lhes cabendo o direito a sair por aí chutando a sintaxe, dando pescoções na prosódia e matando de raiva a concordância e a regência.

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O DIA EM QUE ALCEU RECEBEU UM FORA DE SAFO

A poetisa Safo, nascida na ilha grega de Lesbos, por volta de 612 a. C., foi revolucionária, em vários aspectos. Diga-se que com cerca de 19 anos (já morando na capital, Mitilene), junto com outros militantes, conspirava contra Pitacos. Foi exilada na cidade de Pirra, de onde o ditador, temendo-lhe a escrita, mandou-a para local mais ermo: Pirra, na Sicília. Em Pirra, certo Alceu, apaixonado, mandou-lhe um convite amoroso: “Oh! pura Safo, de violetas coroada e de suave sorriso, queria dizer-te algo, mas a vergonha me impede.” Safo resistiu à cantada. Talvez porque Alceu pesou nas plumas e paetês, quando ela queria mais firmeza e menos frescura.

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A elegância que impressionou Sócrates

Durona e rápida no verso, Safo mandou Alceu pastar: “Se teus desejos fossem decentes e nobres e tua língua incapaz de proferir baixezas, não permitirias que a vergonha te nublasse os olhos – dirias claramente aquilo que desejasses”. Depois deste fora, o bom Alceu dedicou à amada muitas composições (odes e sertenatas) – mas se houve ou se não houve alguma coisa entre eles dois, ninguém soube até hoje explicar… Conta o professor e poeta mato-grossense (de Campo Grande) Ricardo Sérgio que Safo estava fora do padrão de beleza grega, por ser baixinha e magricela. Mas era de tão refinada elegância que ganhou do velho Sócrates, aquele mesmo, o título de “A bela”.

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A poesia sublime foi para a fogueira

Tida como grande poetisa, Safo nunca foi santa:  montou em Metilene uma escola para moças (até onde sei, ensinava-lhes só poesia, música e dança), em que as estudantes eram chamadas de amigas, não de alunas. Ela se apaixona por algumas das “amigas”, particularmente Átis, mas esta se envolve com um rapaz: Safo, louca de ciúmes, escreve o poema À Amada, com versos líricos que até hoje apaixonam a crítica. Líricos e quentes como chumbo derretido: “É minha alma um labirinto/ Expira-me a voz nos lábios/ Nas veias um fogo sinto…” A respeito de Safo, há mais lendas do que fatos. Sabe-se que sua poesia, tida como sublime (em nove volumes), foi queimada pela Igreja. Dizem que, já madura, a poetisa desencantou-se com as “amigas” e passou a gostar de homens – mas disso não encontrei prova.

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COM A INJUSTIÇA PREGADA NA BIOGRAFIA

Coautor de Desafinado (e também Samba de uma nota só e Meditação) Newton Mendonça, o primeiro parceiro de Tom Jobim, morreu muito cedo, aos 33 anos. Há quem o coloque ao lado de Tom e João Gilberto, no mesmo pedestal da Bossa-Nova. Mas a história o tem como uma figura desconhecida, sombra de Tom Jobim – e ainda com a injustiça pregada na biografia (talvez maldosamente): a de que ele era apenas  letrista. Segundo Ruy Castro, Newton não era letrista de Tom (como foi Vinícius), mesmo que, ocasionalmente, fizesse versos, e que tocavam de igual pra igual. Pior: na primeira gravação de Desafinado, seu nome foi creditado como Milton Mendonça!

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Coleman Hawkins não soube da polêmica

Autor da única biografia sobre o músico, o escritor potiguar Marcelo Câmara é bem claro quanto ao peso de Newton: “Foi ele quem revolucionou a música da época”. E mais esta, que me fez segurar o queixo: “Tom só é vanguarda com Newton. Sem ele é apenas samba-canção”. Tom, que circulava fácil na mídia, ajudou a consolidar o mito do letrista, e este (que deu raras entrevistas) disse: “Muita gente acredita que eu faço as letras, enquanto Tom faz as músicas – mas não é esta a verdade. Música e letra vão sendo feitas ao mesmo tempo”. Coleman Hawkins nunca soube da polêmica, e dá um banho com Desafinado, sem perguntar de quem é. Aperte o play e… bon voyage!.

(O.C.)