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Não teve quem aguentasse na Confererência Municipal de Promoção da Igualdade Racial, realizada hoje em Itabuna, quando uma figura usou discurso pra lá de alucinado para desmoralizar o sistema de cotas.
Durante todo o pronunciamento, o militante repetiu trocentas vezes que “defendia” cotas para índios, chineses, japoneses, turcos, árabes, judeus e sírio-libaneses.
Na verdade, o discurso praticamente se resumiu a isso. E seu autor conseguiu a proeza de irritar a todos os presentes à conferência… Até os que, em tese, pensariam como ele.

22 respostas

  1. Loucura, loucura. A Confer~encia foi metade Almodóvar, metade Buñuel, índio que não era índio e acões afirmativas para chinês, japonês, sírio-libanês, judeu, indigena, afrodescendentes e cigano. Podia ter ampliado pensei, e os meus antepassados italianos ? Mas esses já vieram com cotas e politicas afirmativas para o Brasil sil sil. O que assistimos ontem foi a total falta de conhecimento, de falta de tato com a discussão racial em nossa cidade. Propostas estranhíssimas que fugiam completamente do tema transformaram o evento ora em Conferencia de Cultura, ora em Juventude, ora em Direiros humanos, ora em …não consigo definir. No momento de eleger delegados abriram-se mil paraquédas em salto livre, rumo a Salvador. Os militantes do movimento negro tiveram de ser duros, senão caros muquequeiros, nos passavam a perna. Mas o bom senso prevaleceu, graças à resistencia do Movimento Negro e às habilidades de um bom e velho camarada.
    Dormi pensando.. japonês, chinês, sírio-libanês, como se fosse um mantra indiano.. Aliás era índia ou indiana ?

  2. Mas não podemos deixar de considerar a questão das cotas como polêmica. Fui criado em um orfanato no interior de São Paulo e estudei a vida toda em escolas públicas, mas isso não me impediu de passar em 1º Lugar no vestibular para História na Uesc. Minha mãe e tias sempre foram empregadas domésticas, mas isso não impediu que meus primos e irmãs também cursassem universidades como Unesp e Unicamp. Com esse exemplo, não posso deixar de considerar que as cotas apenas seriam justas se fossem reservadas, indistintamente, para alunos da escola pública, pois não é justo que alunos do ensino privado, que teoricamente, possuem melhor poder aquisitivo. Mas sem essa divisão por raça, que ao meu ver, é também discriminatório.

  3. Essse negócio de cotas (ou quotas, como queira chamar) é coisa de SOCIEDADE EMPRESÁRIA.
    Quem tem interesse em ingressar nas universidades públicas tem que ralar.
    Independentemente se branco ou negro, se rico ou pobre, se estudante de escola pública ou privada. A Escola pública, assim também como as universidades públicas, não forma criadas para uma minoria, mas sim para todos. Todos que pagam impostos tem direito ao ingresso.
    No vestibular passa aquele que “rala” para estudar, independente de razão social, etnia ou finanaceira. Caso contrário todos os “filhinhos de Papai” estariam ocupando unversidades públicas. Ao contrário, só estão lá, ou deveriam estar lá: os pobres e também os ricos que estudaram para garantir sua cadeira.
    O resto é discurso demagógico. Chega de cotas. Todos são iguais perante a lei. No Brasil tem que para essa história de que indio e negro é coitado. Estamos no ano 2009.
    Acorda Brasil!!!!!!!!!!

  4. Como todos temas polêmicos, principalmente os que mexem com interesses da Burguesia nacional, as COTAS não encontram em nossa Sociedade um debate à altura, acessível para todos. Com outros temas é assim também: Aborto, Legalização das Drogas, Direitos Civis dos Homossexuais, Ações afirmativas para Grupos étnicos historicamente excluídos, Reforma Agrária. Não culpo a grande maioria dos que são contra as Cotas. A aus~encia de um Debate sério, mais aprofundado leva a muitos equívocos. Muitos nem conhecem o Projeto. Temos muitos estudos que tratam a questão com dados certeiros da Estatística. Esses estudos que comprovam a eficácia do Sistema de Cotas, não só para o povo negro, mas para a sociedade como um todo, não estão com certeza estampados nos principais veículos de comunicação de forma acessível. Bem vou reproduzir, se o Seu Pimenta me permitir um pequeno texto, simples mas esclarecedor sobre o tema:
    1- as cotas ferem o princípio da igualdade, tal como definido no artigo 5º da Constituição, pelo qual “todos são iguais perante a lei sem distinção de qualquer natureza”. São, portanto, inconstitucionais.
    Na visão, entre outros juristas, dos ministros do STF, Marco Aurélio de Mello, Antonio Bandeira de Mello e Joaquim Barbosa Gomes, o princípio constitucional da igualdade, contido no art. 5º, refere-se a igualdade formal de todos os cidadãos perante a lei. A igualdade de fato é tão somente um alvo a ser atingido, devendo ser promovida, garantindo a igualdade de oportunidades como manda o art. 3º da mesma Constituição Federal. As políticas públicas de afirmação de direitos são, portanto, constitucionais e absolutamente necessárias.
    2- as cotas subvertem o princípio do mérito acadêmico, único requisito que deve ser contemplado para o acesso à universidade.
    Vivemos numa das sociedades mais injustas do planeta, onde o “mérito acadêmico” é apresentado como o resultado de avaliações objetivas e não contaminadas pela profunda desigualdade social existente. O vestibular está longe de ser uma prova equânime que classifica os alunos segundo sua inteligência. As oportunidades sociais ampliam e multiplicam as oportunidades educacionais.
    3- as cotas constituem uma medida inócua, porque o verdadeiro problema é a péssima qualidade do ensino público no país.
    É um grande erro pensar que, no campo das políticas públicas democráticas, os avanços se produzem por etapas seqüenciais: primeiro melhora a educação básica e depois se democratiza a universidade. Ambos os desafios são urgentes e precisam ser assumidos enfaticamente de forma simultânea.
    4- as cotas baixam o nível acadêmico das nossas universidades.
    Diversos estudos mostram que, nas universidades onde as cotas foram implementadas, não houve perda da qualidade do ensino. Universidades que adotaram cotas (como a Uneb, Unb, UFBA e UERJ) demonstraram que o desempenho acadêmico entre cotistas e não cotistas é o mesmo, não havendo diferenças consideráveis. Por outro lado, como também evidenciam numerosas pesquisas, o estímulo e a motivação são fundamentais para o bom desempenho acadêmico.
    5- a sociedade brasileira é contra as cotas.
    Diversas pesquisas de opinião mostram que houve um progressivo e contundente reconhecimento da importância das cotas na sociedade brasileira. Mais da metade dos reitores e reitoras das universidades federais, segundo ANDIFES, já é favorável às cotas. Pesquisas realizadas pelo Programa Políticas da Cor, na ANPED e na ANPOCS, duas das mais importantes associações científicas do Brasil, bem como em diversas universidades públicas, mostram o apoio da comunidade acadêmica às cotas, inclusive entre os professores dos cursos denominados “mais competitivos” (medicina, direito, engenharia etc). Alguns meios de comunicação e alguns jornalistas têm fustigado as políticas afirmativas e, particularmente, as cotas. Mas isso não significa, obviamente, que a sociedade brasileira as rejeita.
    6- as cotas não podem incluir critérios raciais ou étnicos devido ao alto grau de miscigenação da sociedade brasileira, que impossibilita distinguir quem é negro ou branco no país.
    Somos, sem dúvida nenhuma, uma sociedade mestiça, mas o valor dessa mestiçagem é meramente retórico no Brasil. Na cotidianidade, as pessoas são discriminadas pela sua cor, sua etnia, sua origem, seu sotaque, seu sexo e sua opção sexual. Quando se trata de fazer uma política pública de afirmação de direitos, nossa cor magicamente se desmancha. Mas, quando pretendemos obter um emprego, uma vaga na universidade ou, simplesmente, não ser constrangidos por arbitrariedades de todo tipo, nossa cor torna-se um fator crucial para a vantagem de alguns e desvantagens de outros. A população negra é discriminada porque grande parte dela é pobre, mas também pela cor da sua pele. No Brasil, quase a metade da população é negra. E grande parte dela é pobre, discriminada e excluída. Isto não é uma mera coincidência.
    7- as cotas vão favorecer aos negros e discriminar ainda mais aos brancos pobres.
    Esta é, quiçá, uma das mais perversas falácias contra as cotas. O projeto atualmente tramitando na Câmara dos Deputados, PL 73/99, já aprovado na Comissão de Constituição e Justiça, favorece os alunos e alunas oriundos das escolas públicas, colocando como requisito uma representatividade racial e étnica equivalente à existente na região onde está situada cada universidade. Trata-se de uma criativa proposta onde se combinam os critérios sociais, raciais e étnicos. É curioso que setores que nunca defenderam o interesse dos setores populares ataquem as cotas porque agora, segundo dizem, os pobres perderão oportunidades que nunca lhes foram oferecidas. O projeto de Lei 73/99 é um avanço fundamental na construção da justiça social no país e na luta contra a discriminação social, racial e étnica.
    8- as cotas vão fazer da nossa, uma sociedade racista.
    O Brasil esta longe de ser uma democracia racial. No mercado de trabalho, na política, na educação, em todos os âmbitos, os/as negros/as têm menos oportunidades e possibilidades que a população branca. O racismo no Brasil está imbricado nas instituições públicas e privadas. E age de forma silenciosa. As cotas não criam o racismo. Ele já existe. As cotas ajudam a colocar em debate sua perversa presença, funcionando como uma efetiva medida anti-racista.
    9- as cotas são inúteis porque o problema não é o acesso, senão a permanência.
    Cotas e estratégias efetivas de permanência fazem parte de uma mesma política pública. Não se trata de fazer uma ou outra, senão ambas. As cotas não solucionam todos os problemas da universidade, são apenas uma ferramenta eficaz na democratização das oportunidades de acesso ao ensino superior para um amplo setor da sociedade excluído historicamente do mesmo. É evidente que as cotas, sem uma política de permanência, correm sérios riscos de não atingir sua meta democrática.
    10- as cotas são prejudiciais para os próprios negros, já que os estigmatizam como sendo incompetentes e não merecedores do lugar que ocupam nas universidades.
    Argumentações deste tipo não são freqüentes entre a população negra e, menos ainda, entre os alunos e alunas cotistas. As cotas são consideradas por eles, como uma vitória democrática, não como uma derrota na sua auto-estima, ser cotista é hoje um orgulho para estes alunos e alunas. Porque, nessa condição, há um passado de lutas, de sofrimento, de derrotas e, também, de conquistas. Há um compromisso assumido. Há um direito realizado. Hoje, como no passado, os grupos excluídos e discriminados se sentem mais e não menos reconhecidos socialmente quando seus direitos são afirmados, quando a lei cria condições efetivas para lutar contra as diversas formas de segregação. A multiplicação, nas nossas universidades, de alunos e alunas pobres, de jovens negros e negras, de filhos e filhas das mais diversas comunidades indígenas é um orgulho para todos eles.
    Respeito todas as opiniões mas irei, juntamente com todos que acreditam nessas políticas afirmativas, lutar para que elas sejam garantidas e ampliadas.

  5. Aquilo lá foi uma chatice mesmo. Sou contra o sistema de cotas,pois ele só incentiva o racismo.A Universidade é para todos principalmente para aqueles que tem coragem e raça.

  6. Olá, pessoal!
    Eu só gostaria de discutir o trecho abaixo, extraído de um dos comentários anteriores, porque já debati muito o tema:
    “Diversos estudos mostram que, nas universidades onde as cotas foram implementadas, não houve perda da qualidade do ensino. Universidades que adotaram cotas (como a Uneb, Unb, UFBA e UERJ) demonstraram que o desempenho acadêmico entre cotistas e não cotistas é o mesmo, não havendo diferenças consideráveis.”
    Se os cotistas andam tendo um desempenho tão bom quanto o dos não-cotistas, qual é a real necessidade das cotas na Universidade?

  7. As cotas são necessárias para corrigir as desigualdades. O desempenho satisfatório dos cotistas prova que os negros e os estudantes de escolas públicas não são burros nem dementes, a concorrência é que privilegiava os estudantes que tinham dinheiro para se adestrar em cursinhos. Os iluminados que nasceram pobres, negros e passaram em primeiro lugar no vestibular e em concursos são excessão, não regra.
    Mas não basta ingressar, tem que ter política de permanência. Tem que ter restaurante e residência universitária, tem que ter acompanhamento. Esse papo de que somos iguais perante a lei é balela. Não somos iguais coisa nenhuma! Quem discorda das políticas afirmativas deveria ter participado da Conferência e defender a manutenção da desigualdade. Apesar de que, o debate lá foi tão raso que nem deram importância para o tema.

  8. a resposta é muito simples: o vestibular não mede inteligência de ninguém!
    a questão, é a diferença de conteúdo que é ensinado na escola pública, em relação ao conteúdo que é cobrado nos vestibulares: puro “conhecimento bancário”(Paulo Freire).
    o senhor sabe quem pode pagar um bom cursinho(por vezes, durante mais de um ano) no Brasil? o senhor sabe me responder, pq os donos de cursinhos e escolas particulares são radicalmente contra mudança que o MEC tenta implementar no modelo de ingresso nas instituições federais, colocando o ENEM como requisiro?

  9. As Cotas não se resumem ao Acesso e sim estendem-se a politicas de permanência. São essas politicas que vão garantir ao Cotista obter tal desempenho, como já foi dito acima. . Esse argumento de que fui lá e consegui é um velho jargão repetido à exaustão em nossa sociedade meritocrática. Agora, eu gostaria de deixar aqui meu repúdio ao cidadão, inimigo público das políticas afirmativas em nossa região, que afirma que o lugar dos indígenas é na Aldeia e não na universidade. Aliás o Tema Cotas mal foi discutido na Conferencia de Promoção da Igualdade Racial de Itabuna, o nível das discussôes foi baixíssimo.
    Falando em conceito de meritocracia estabelecido numa sociedade brutalmente desigual, lembre-me da Xuxa ( ela mesmo) anos atrás na tv, tomando um lauto café da manhã e repetindo: _ Olha baixinho, se você não tem um café da manhã desses, não fique triste, lute para conseguir, você pode. Pergunto quantos dos milhoes dos então baixinhos, estão nesse momento degustando café com leite, suco, frutas, queijo branco, yogurte, granola, e sei lá mais o que.
    Ora poupe-me ! Eu fui lá no Maria Pinheiro, no São Pedro, no Pedro Jorge, na Zona Rural e vi. É ora de encarar a realidade de frente senão quem tiver de sapato NÂO SOBRA !

  10. A rogério:
    “a resposta é muito simples: o vestibular não mede inteligência de ninguém!”
    Mas ele premia com a entrada na Universidade os candidatos que obtiverem as melhores notas, independentemente de sua origem sócio-econômica.
    “a questão, é a diferença de conteúdo que é ensinado na escola pública, em relação ao conteúdo que é cobrado nos vestibulares: puro “conhecimento bancário”(Paulo Freire).”
    Sem dúvida existe um abismo de qualidade entre colégios públicos e particulares. Acontece que o vestibular determina um único critério válido para todo tipo de candidato – a nota – e não leva em conta se o cara teve vida fácil ou dura. Então, não adianta enfiar um camarada na Universidade só porque ele teve uma preparação deficiente nos níveis fundamental e médio. Se os nossos governantes realmente investissem na educação pública, pobres e ricos poderiam disputar as vagas em igualdade de condições.
    “o senhor sabe quem pode pagar um bom cursinho(por vezes, durante mais de um ano) no Brasil? o senhor sabe me responder, pq os donos de cursinhos e escolas particulares são radicalmente contra mudança que o MEC tenta implementar no modelo de ingresso nas instituições federais, colocando o ENEM como requisiro?”
    O cursinho por si só não garante a aprovação de ninguém no vestibular. Caso contrário, teríamos apenas filhinhos de papai nas universidades públicas. O sucesso depende mais do próprio aluno do que da instituição.

  11. MAIS COMENTÁRIOS:
    “As cotas são necessárias para corrigir as desigualdades.”
    A Universidade é ambiente para produção de conhecimento, e não um instrumento de luta de classes. Quem não se conforma com as desigualdades sociais deve reclamar com os governantes, e não com os reitores.
    “O desempenho satisfatório dos cotistas prova que os negros e os estudantes de escolas públicas não são burros nem dementes,”
    Se os negros e estudantes de colégio público não são burros nem dementes, por que eles não foram concorrer às vagas “normalmente” (leia-se “sem se inscrever no sistema de cotas”)?
    “a concorrência é que privilegiava os estudantes que tinham dinheiro para se adestrar em cursinhos. Os iluminados que nasceram pobres, negros e passaram em primeiro lugar no vestibular e em concursos são excessão, não regra.”
    Como já comentei anteriormente, o sucesso no vestibular ou no concurso público depende mais do próprio aluno do que da instituição. Um aluno pobre que estuda por horas a fio em uma biblioteca terá mais chance de aprovação do que um aluno rico que fica vadiando em sala de aula.

  12. Que pobre pode estudar horas a fio numa biblioteca ? Não é só pagar por um cursinho. É material didático, audiovisual, acesso a internet, uma boa alimentação, um local legal para estudar, uma moradia decente. Para algumas pessoas é difícil entender a realidade da maioria dos negros e excluídos na cidade de Itabuna. Gente que chega às 6 no trabalho larga ás 20 e ainda vai para casa tapar buraco de goteira no teto. Nada de querer colocar a universidade numa redoma de ouro meu caro. Na Universidade se reproduz todo o conflito existente na sociedade. Existe obrigação social sim senhor. É dinheiro público pago pela maioria dos pobres e não por uma minoria.

  13. O Senhor Victor é coerente com o que defende. Mas devo alertar que o que ele faz é nada mais nada menos que a tal LUTA DE CLASSES que ele nega no espaço acadêmico. Mas ele sabe que a luta de classes está lá e em todos os lugares.

  14. Mayne,
    O vestibular pode parecer muito mais difícil para um aluno de escola pública do que para seu concorrente da rede privada, mas é inegável que quem quer passar nas provas tem que estudar bastante, seja num cursinho (privado ou até mesmo gratuito, oferecido por algum programa de governo), numa biblioteca pública ou em casa. Os organizadores do concurso tão pouco se lixando se somos ricos, pobres, brancos, negros, pardos, homens, mulheres, heterossexuais, homossexuais, católicos, evangélicos, etc., porque esse método impõe a TODOS um critério ÚNICO e imparcial – pontuação. Quem tira mais entra, quem tira menos terá de estudar para a edição seguinte. Muito mais justo do que estabelecer um sistema de 2 pesos e 2 medidas que permitem a algumas pessoas entrarem com nota menor que a do concorrente.

  15. “Mas devo alertar que o que ele faz é nada mais nada menos que a tal LUTA DE CLASSES que ele nega no espaço acadêmico”
    Acho que fui mal-interpretado ou então não abordei alguma parte dos meus comentários de uma maneira mais adequada.
    Eu quis dizer que a Universidade não pode se reduzir a um mero palco de embate entre ricos e pobres. Não é essa a função dela. O papel da IES pública é justamente produzir o conhecimento que, aí sim, deve ser empregado na nossa sociedade com o intuito de combater as desigualdades sociais de que tanto falamos.
    Espero que continuemos com o debate saudável.

  16. Comentando os 10 pontos do Projeto referente ao sistema de cotas – Parte 1 de 5.
    “Na visão, entre outros juristas, dos ministros do STF, Marco Aurélio de Mello, Antonio Bandeira de Mello e Joaquim Barbosa Gomes, o princípio constitucional da igualdade, contido no art. 5º, refere-se a igualdade formal de todos os cidadãos perante a lei. A igualdade de fato é tão somente um alvo a ser atingido, devendo ser promovida, garantindo a igualdade de oportunidades como manda o art. 3º da mesma Constituição Federal. As políticas públicas de afirmação de direitos são, portanto, constitucionais e absolutamente necessárias. ”
    >> O sistema de cotas é inconstitucional por subverter a meritocracia – o cerne da vida universitária – ao conferir direitos e privilégios especiais a determinado grupo, negando-os aos demais, o que viola frontalmente o princípio da igualdade e da universalidade.
    “Vivemos numa das sociedades mais injustas do planeta, onde o “mérito acadêmico” é apresentado como o resultado de avaliações objetivas e não contaminadas pela profunda desigualdade social existente. O vestibular está longe de ser uma prova equânime que classifica os alunos segundo sua inteligência. As oportunidades sociais ampliam e multiplicam as oportunidades educacionais.”
    >> O vestibular não mede a inteligência dos candidatos, mas destina as vagas da Universidade àquelas pessoas que fizerem melhor as provas, independentemente de classe social, etnia ou credo. E os pobres que entraram na universidade (e olha que não são poucos) tiveram de estudar bastante, provando que a escassez de oportunidades não é desculpa pra ficar parado e não lutar pra conseguir as coisas. Em verdade, não importa se o vestibular é ou não o melhor dos métodos. Ele foi o método escolhido, principalmente por ser igualitário – uma prova igual para todos, sem identificação individual. Quem é contra o vestibular que proponha um método melhor em vez de tentar personalizá-lo para usar dois pesos e duas medidas.

  17. Comentando os 10 pontos do Projeto referente ao sistema de cotas – Parte 2 de 5.
    “É um grande erro pensar que, no campo das políticas públicas democráticas, os avanços se produzem por etapas seqüenciais: primeiro melhora a educação básica e depois se democratiza a universidade. Ambos os desafios são urgentes e precisam ser assumidos enfaticamente de forma simultânea.”
    >> O sistema de cotas comete o erro de tentar resolver um problema remediando-o primeiro pra depois combater as causas. De que adianta conceder uma vaga de um curso universitário a um indivíduo que não apresenta um conhecimento básico bem fundado para a formação na área pretendida? O problema do acesso e permanência em instituições de ensino superior públicas está mais bem enraizado na má qualidade do ensino provido pelo Estado, que não permite às pessoas menos favorecidas (não importa se forem brancas, negras, amarelas, azuis, etc.) competir com os mais abastados por vagas na universidade em igualdade de condições.
    Diploma não é prêmio de consolação, e sim uma conquista, para quem estudou mais de 12 horas por dia para entrar na Universidade. O problema não é QUANTOS alunos de escola pública entram no vestibular, mas POR QUE muitos deles não entram. Isso acontece porque soma-se o ensino ruim primário e secundário à falta de empenho no estudo individual. Em outras palavras, se o sujeito não tem boa base, sinto muito, mas não vejo por que ele deve tomar a vaga de alguém que tenha melhor base.
    “Diversos estudos mostram que, nas universidades onde as cotas foram implementadas, não houve perda da qualidade do ensino. Universidades que adotaram cotas (como a Uneb, Unb, UFBA e UERJ) demonstraram que o desempenho acadêmico entre cotistas e não cotistas é o mesmo, não havendo diferenças consideráveis. Por outro lado, como também evidenciam numerosas pesquisas, o estímulo e a motivação são fundamentais para o bom desempenho acadêmico.”
    >> Isso é muito relativo. Em algumas universidades que adotam o sistema de cotas, os cotistas tem desempenho equiparável ou até superior ao dos não-cotistas. Em outras, a história é completamente diferente. De qualquer forma, o cara que entrou na Universidade pelas cotas terá um desafio duplo: estudar o conteúdo do curso superior e revisar completamente o conteúdo do ensino básico, pois professor nenhum vai para pra ensinar ao aluno em apenas alguns meses tudo o que ele não viu em 3 anos.

  18. Comentando os 10 pontos do Projeto referente ao sistema de cotas – Parte 3 de 5.
    “Diversas pesquisas de opinião mostram que houve um progressivo e contundente reconhecimento da importância das cotas na sociedade brasileira. Mais da metade dos reitores e reitoras das universidades federais, segundo ANDIFES, já é favorável às cotas. Pesquisas realizadas pelo Programa Políticas da Cor, na ANPED e na ANPOCS, duas das mais importantes associações científicas do Brasil, bem como em diversas universidades públicas, mostram o apoio da comunidade acadêmica às cotas, inclusive entre os professores dos cursos denominados “mais competitivos” (medicina, direito, engenharia etc). Alguns meios de comunicação e alguns jornalistas têm fustigado as políticas afirmativas e, particularmente, as cotas. Mas isso não significa, obviamente, que a sociedade brasileira as rejeita.”
    >> Essas pesquisas de opinião da ANDIFES, ANPED ou ANPOCS devem ter sido iguais aos “debates” sobre as cotas na UESC – realizadas apenas no meio acadêmico, sem considerar o pensamento da população em geral. Mesmo que a sociedade fosse a favor, isso não tornaria as cotas mais legítimas, porque número não é argumento.
    “Somos, sem dúvida nenhuma, uma sociedade mestiça, mas o valor dessa mestiçagem é meramente retórico no Brasil. Na cotidianidade, as pessoas são discriminadas pela sua cor, sua etnia, sua origem, seu sotaque, seu sexo e sua opção sexual. Quando se trata de fazer uma política pública de afirmação de direitos, nossa cor magicamente se desmancha. Mas, quando pretendemos obter um emprego, uma vaga na universidade ou, simplesmente, não ser constrangidos por arbitrariedades de todo tipo, nossa cor torna-se um fator crucial para a vantagem de alguns e desvantagens de outros. A população negra é discriminada porque grande parte dela é pobre, mas também pela cor da sua pele. No Brasil, quase a metade da população é negra. E grande parte dela é pobre, discriminada e excluída. Isto não é uma mera coincidência.”
    >> Racismo existe em qualquer lugar. Acontece que a Universidade não é o lugar certo para o Estado saldar a dívida social para com os negros e demais grupos étnicos historicamente excluídos, e essa questão de “raça” é algo muito relativo pra se dizer logo de cara quem é branco, negro ou pardo só de olhar pra foto do sujeito. Além disso, há uma gritante diferença entre “haver racismo no Brasil” e o “Brasil ser racista”. O racismo não é parte componente da ideologia nacional, e o vestibular, antes da adoção das cotas, nunca perguntou a cor de ninguém. Ninguém pode dizer que perdeu no vestibular porque é preto, homossexual, mulher ou baiano. E outra coisa, o Brasil não tem quase metade da população negra coisíssima nenhuma. Segundo o IBGE, 6% são negros e 42% são pardos. Os pardos são tão afro-descendentes quanto euro-descendentes. E aí, eles devem pagar ou receber a dívida histórica?

  19. Comentando os 10 pontos do Projeto referente ao sistema de cotas – Parte 4 de 5.
    “Esta é, quiçá, uma das mais perversas falácias contra as cotas. O projeto atualmente tramitando na Câmara dos Deputados, PL 73/99, já aprovado na Comissão de Constituição e Justiça, favorece os alunos e alunas oriundos das escolas públicas, colocando como requisito uma representatividade racial e étnica equivalente à existente na região onde está situada cada universidade. Trata-se de uma criativa proposta onde se combinam os critérios sociais, raciais e étnicos. É curioso que setores que nunca defenderam o interesse dos setores populares ataquem as cotas porque agora, segundo dizem, os pobres perderão oportunidades que nunca lhes foram oferecidas. O projeto de Lei 73/99 é um avanço fundamental na construção da justiça social no país e na luta contra a discriminação social, racial e étnica.”
    >> Esse projeto deveria sofrer algumas mudanças, entre as quais a retirada do item que diz respeito à “representatividade racial e étnica equivalente à existente na região onde está situada cada universidade”. Caso o sistema de cotas parta dessa premissa, um pobre que seja branco estará em franca desvantagem – diante dos favorecido$ (independentemente da cor da pele) e daqueles que se declararem negros. Tomemos como exemplo a UESC, que reservam 50% das vagas para estudantes de escolas públicas, e destas 75% para os que se declaram negros. Pardos e brancos, apesar de serem maioria, disputam as 25% das vagas restantes. Para que não fossem acusadas de racistas, as cotas deveriam, por exemplo, versar somente sobre estudantes de escolas públicas, até porque, como resultado de esforços individuais, a proporção étnica na Universidade não precisa imitar necessariamente a composição da sociedade.
    “O Brasil esta longe de ser uma democracia racial. No mercado de trabalho, na política, na educação, em todos os âmbitos, os/as negros/as têm menos oportunidades e possibilidades que a população branca. O racismo no Brasil está imbricado nas instituições públicas e privadas. E age de forma silenciosa. As cotas não criam o racismo. Ele já existe. As cotas ajudam a colocar em debate sua perversa presença, funcionando como uma efetiva medida anti-racista.”
    >> As cotas não criam o racismo. Muito pelo contrário, podem manter ou até piorar o problema da discriminação. Imagine só, um sujeito se declara cotista, faz a prova, tira uma nota qualquer, toma o lugar de alguém que (provavelmente) teve melhor desempenho no vestibular e começa a ouvir comentários do tipo: “Ah, vc só passou por causa das cotas”. Lindo…
    As cotas instituem o racismo, isto é fato. Utilizar “raça” como critério objetivo de conferência de mérito é uma forma de racismo, no sentido conceitual da palavra. Não há meio-termo pra isso. No Brasil existem racistas, é claro, mas se trata um racismo velado e envergonhado. O sistema de reserva de vagas pretende criar, isto é, forjar um clima de animosidade racial que vai surgir a partir do momento que um grupo passar a ter direitos em detrimentos de outros.

  20. Comentando os 10 pontos do Projeto referente ao sistema de cotas – Parte 5 de 5.
    “Cotas e estratégias efetivas de permanência fazem parte de uma mesma política pública. Não se trata de fazer uma ou outra, senão ambas. As cotas não solucionam todos os problemas da universidade, são apenas uma ferramenta eficaz na democratização das oportunidades de acesso ao ensino superior para um amplo setor da sociedade excluído historicamente do mesmo. É evidente que as cotas, sem uma política de permanência, correm sérios riscos de não atingir sua meta democrática.”
    >> As cotas apenas facilitam o acesso à universidade de pessoas socialmente desfavorecidas, mas não garantem que elas chegarão a concluir os cursos que escolheram, até porque não contam com um mecanismo formal para verificar se esses indivíduos realmente possuem conhecimento básico necessário à formação acadêmica. E o pior é que não vai faltar gente que, além de entrar com menor nota, vai querer exigir que o governo banque xérox, transporte, livros, entre outras despesas estudantis. E o contribuinte que se vire pra pagar toda essa conta…
    “Argumentações deste tipo não são freqüentes entre a população negra e, menos ainda, entre os alunos e alunas cotistas. As cotas são consideradas por eles, como uma vitória democrática, não como uma derrota na sua auto-estima, ser cotista é hoje um orgulho para estes alunos e alunas. Porque, nessa condição, há um passado de lutas, de sofrimento, de derrotas e, também, de conquistas. Há um compromisso assumido. Há um direito realizado. Hoje, como no passado, os grupos excluídos e discriminados se sentem mais e não menos reconhecidos socialmente quando seus direitos são afirmados, quando a lei cria condições efetivas para lutar contra as diversas formas de segregação. A multiplicação, nas nossas universidades, de alunos e alunas pobres, de jovens negros e negras, de filhos e filhas das mais diversas comunidades indígenas é um orgulho para todos eles.”
    >> As cotas já trouxeram mais problema do que solução em países nos quais foi adotada, como é o caso dos EUA(*), onde os negros terminaram estigmatizados, pesando contra os seus diplomas a popular suspeita de terem sido favorecidos pela tal reserva de vaga, indo de encontro ao princípio da meritocracia. Os negros esforçados, que conseguiram as coisas com esforço próprio, se envergonham só de pensar em cotas, e os negros cotistas se irritam com as críticas ao sistema racial. Querem o bônus, mas não querem arcar com o ônus.
    *Obs.: Há algum tempo, a Suprema Corte dos EUA aboliu o sistema de cotas nas escolas do país, por considerarem que “a Carta Magna ianque não enxerga a cor dos cidadãos” – quem disse isso foi um dos juízes, ele próprio negro.

  21. ERRATA:
    No comentário intitulado “Comentando os 10 pontos do Projeto referente ao sistema de cotas – Parte 2 de 5.”, onde se lê:
    “O problema não é QUANTOS alunos de escola pública entram no vestibular, mas POR QUE muitos deles não entram.”
    Em verdade lê-se:
    “O problema não é QUANTOS alunos de escola pública entram na Universidade, mas POR QUE muitos deles não entram.”
    Atenciosamente

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