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Gerson Marques

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Como se não bastasse perder o status de capital mundial do cacau, graças à decadência provocada pela praga da vassoura-de-bruxa, Ilhéus acaba de perder mais uma. Desta vez, para Brasília. Já não temos mais a honra de ter o cabaré mais famoso do Brasil. O Senado Federal nos roubou esse título. A casa de Maria Machadão acaba de ser destronada pela casa de José Sarney.
Seria triste se não fosse sério, muito serio por sinal (assim mesmo, um sério com acento e outro sem; depois da tal reforma ortográfica, já não sei bem…). Afinal, já não temos mais putas como antigamente. Em vez das moçoilas francesas e polacas, que tantas alegrias deram aos velhos coronéis do cacau, Brasília nos rouba este título com velhas meretrizes gordas, asquerosas e barrigudas. Um verdadeiro acinte à estética e ao bom gosto sexual dos brasileiros.

Mais de mil atos secretos, que é isso?
Foram feitos debaixo dos lençóis ou na calada de um quartinho escuro com luz vermelha e cama redonda? Secretos por quê? As crianças ficariam chocadas se soubessem? Deve ser. Como estará se sentindo agora Maria Machadão sendo destronada por um bigodudo sem o menor “sexy appeal”. São os infernos mesmo.
O famoso Bataclã, de Maria Machadão, teve seus tempos de glória nos idos anos trinta e quarenta, quando o cacau literalmente valia ouro, e no folclore urbano de Ilhéus fala-se de uma passagem secreta que dava acesso ao famoso prostíbulo, estrategicamente localizado na lateral da catedral de São Sebastião. Isso permitia que os coronéis do cacau se embrenhassem pelos caminhos do pecado de forma disfarçada, assim como quem ia à missa. Eram espertos estes coronéis.
Em Brasília, sem o mesmo charme da Ilhéus de Jorge Amado, o acesso ao Senado é feito por um túnel com esteira rolante. Você entra em uma casa legislativa que se chama Congresso Nacional e é levado a uma casa de pecados sem precisar dar um passo sequer.
– Uai, como eu cheguei aqui? Será que tem alguém vendo? Onde foi parar meu relógio?
Em Ilhéus, os saudosistas e os jorge-amadianos  estão protestando aos quatro cantos. Dia destes, um me parou na rua:
– Essas caras de Brasília estão gozando com a nossa cara. Onde já se viu puta gozar? Assim não dá. Na casa de Machadão, puta só podia gozar se recebesse por fora.
Retruquei na hora:
– Então, tá explicado, em Brasília a turma toda recebe por fora.
– E essa história de empregar parente, onde já se viu puta ter filho, neto sobrinho ou coisa que o valha…
– Bobagem, disse eu, todo mundo tem parentes carentes que sempre precisam de uma forcinha.
– Por falar nisso deve ter algum parente meu que deposita há anos um dinheirão em minha conta, mas não fala pra ninguém, hein? Eu nunca nem notei. Só gastei.
Tive que reconhecer. A concorrência é desleal mesmo.
Fico aqui pensando com meus botões como podem querer comparar as meninas de Maria Machadão com figuras como Jader Barbalho, Renan Calheiros, Fernando Collor, Tasso Jereissati e Cia…
Ainda bem que nos resta o Vesúvio, o bar mais famoso da literatura universal. Pelo menos, este titulo Brasília não vai nos tirar nunca. A cidade não tem nem um boteco que preste.
Gerson Marques é consultor de turismo.

5 respostas

  1. Excepcional o comentário de Gerson Marques!
    A sociedade tem que continuar se manifestando p/ que estes pseudos políticos renunciem.
    Mas ontem, fiquei surpresa com a reação de Lula, afinal o erro tem
    que ser escondido? Que democracia é está?
    Esperamos que o4º poder, a mídia, continue desmascarando todos os que fazem parte deste prostíbulo.

  2. Caríssimo Gerson,
    este foi dos melhores artigos lidos por mim sobre a política brasileira nos últimos dias.
    Esse deveria ir para os anais do senado (r) – aquela pouca vergonha!
    Genial. Parabéns.

  3. É preciso que Deus realmente exista! Porque a imppunidade não tem limites. As apurações sendo realizados pelos proprios denunciados que com a certeza de que não vai dar em nada. Esfregam as suas caras de pau nas poucas pessoas de boa fé que ainda existe nesse país.Quanto mal essas pessoas já fizeram direta e indiretamente aos seus semellhantes? Quantos erros cometidos sob a ddesculpa de que não sabiam de nada? Quantos falsos inocentes que deveriam encher os infernos? Se Deus não existir, meu amigo, então nada vale a pena. Até a esperança de que algum dia essas pessoas serão punidas. No entanto não precisamos ir até o senado. Aqui mesmo, em Itabuna temos uma amostragem desses desmandos em quase todos os setores publicos.

  4. Maravilha de texto,Gerson!
    Gosto muito da forma que você se expressa e dessa
    sensibilidade inerente a você.
    Parabéns,mesmo!!!

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