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Daniel Thame | www.danielthame.blogspot.com

Em alguns momentos da primeira metade do século passado as imensas riquezas geradas pela produção de cacau criaram todas as condições para que uma parte desses recursos fosse aplicada em projetos de diversificação, permitindo um duradouro processo de desenvolvimento e bem estar social, algo impossível de ocorrer quando se vive da monocultura, por mais lucrativo que o produto seja.

Ou aparente ser.

O fato é que, por falta de visão ou pela ilusão de que aquelas riquezas seriam eternas, aliadas a uma notória ausência de espírito coletivo, as raras iniciativas no sentido de se evitar a extrema dependência do cacau se mostraram ineficientes.

O resultado é que quando a crise provocada pela vassoura-de-bruxa se revelou mais devastadora do que todas as outras crises, o Sul da Bahia mergulhou num abismo e viu sua economia reduzida a frangalhos.

As conseqüências foram e ainda são visíveis: produtores descapitalizados, centenas de propriedades rurais relegadas ao abandono, desemprego em larga escala, empobrecimento das pequenas e médias cidades e criação de bolsões de miséria nas periferias, cada vez mais carentes e violentas, de Ilhéus e Itabuna.

Mesmo com um processo de recuperação a partir dos primeiros anos deste século, com a expansão do turismo e de um incipiente pólo de informática em Ilhéus e da consolidação dos pólos de comércio, prestação de serviços, saúde e ensino superior em Itabuna, ainda existe uma imensa demanda por empregos, que resultariam numa vida mais digna para milhares de pessoas.

E eis que o Sul da Bahia se vê diante de uma segunda chance de encontrar o caminho do desenvolvimento, com a implantação de projetos importantes como o Porto Sul e a Ferrovia Oeste Leste, cujos benefícios não se limitarão apenas a Ilhéus, mas se estenderão aos demais municípios do Sul da Bahia.

O porto e a ferrovia vão fazer da região um pólo industrial, além de aquecer outros setores da economia, criando as bases para um novo ciclo de desenvolvimento. São obras capazes de ter, para o Sul da Bahia, o mesmo impacto que o Pólo Petroquímico teve para a Região Metropolitana de Salvador.

Mas eis que, em vez de gerar uma ampla mobilização de todos os segmentos regionais, em função das múltiplas oportunidades que oferecem, a Ferrovia Oeste-Leste e o Porto Sul enfrentam a resistência de alguns setores, a exemplo dos ambientalistas e alguns hoteleiros, que num misto de má fé, desinformação e interesses inconfessáveis, tentam transformar o porto e a ferrovia numa versão grapiuna do apocalipse, como se em vez de progresso e desenvolvimento, eles fossem trazer destruição.

Em nome de uma causa justa, a conservação ambiental, esses setores estão usando todos os artifícios para barrar os projetos, como se fosse possível, em função das rígidas leis ambientais de hoje, realizar obras de tamanha envergadura sem os necessários estudos e as compensações por eventuais danos, mínimos se comparados aos benefícios que o Porto Sul e a Ferrovia Oeste Leste proporcionarão.

O debate é necessário, salutar e contribui para que sejam dadas todas as garantias para que os impactos ambientais sejam mínimos e compensáveis.

Já a radicalização em nome de uma causa (será que é apenas isso?) é condenável, numa região que não pode se dar um luxo de desperdiçar essa segunda e talvez derradeira chance, em nome de uns poucos caranguejos, uma penca de guaiamuns, meia dúzia de siris e um pedaço de mata.

Ou será que eles são mais importantes do que os milhares de pais de família que estão aí, a espera de um emprego que lhes permita viver com dignidade e quem sabe, num domingo de sol, desfrutar com os amigos as decantadas praias e as maravilhas naturais de Ilhéus?

Daniel Thame é jornalista, blogueiro e prepara lançamento do livro “Vassoura”.

10 respostas

  1. Eu não sei porque insistem em criar uma relação de causa e efeito entre a decadência da lavoura cacaueira e a expansão da miséria e todas as consequências que ele( a miséria) traz. Eu nunca vi essa região cacaueira ser menos violenta.

    A violência anterior era de outra natureza: concentração de riquezas nas mãos de poucos e miséria nas mesas de muitos. E aí arrisco um ´palpite: penso que os pobres viviam mais resignados, vivendo o refluxo do milagre ecônomico da ditadura militar etc.. O que vivíamos era uma situação em que as populações eram menores e o controle social, por sua vez, tornava-se mais fácil.

    Se querem me convencer que foi a vassoura de bruxa que gerou esses índices sociais gritantes, então me expliquem porque em outros centro urbanos a violência cresceu exponencialmente?

    Não quero me estender mais. Só quero entender.

  2. muito limitada essa visão sobre os poucos guaiamuns, só quando os recursos naturais acabarem é que vamos nos dar conta que não comemos dinheiro, nem bebemos petroleo…

  3. Prezado Ricardo Seixas,
    Concordo contigo, em termos. Realmete, o modelo econômico anterior não produzia desenvolvimento social, mesmo que enriquecesse alguns poucos. A maioria da riqueza não ficava aqui. Poderia ter sido melhor explorada, mas isso demandaria lideranças diferentes das que tivemos. Fica tudo no terreno do “se”.
    Não creio que o autor do texto acredite em algo diferente e não foi o que eu entendi do que ele escreveu.
    A questão central que temos que resolver é se este projeto tem potencial de gerar um novo ciclo, diferente do anterior, baseado não na exploração de mão-de-obra semiescrava e de baixa qualificação. Obviamente não o porto em si, mas todo o sistema que se diz acompanhar.
    Se realmente for o caso, temos que cuidar para que nossos jovens possam se preparar para aproveitar as oportunidades que poderão aparecer, o que passa por centros de formação novos ou ampliação dos existentes. Neste sentido, é urgente a efetivação (com rápido crescimento) do IFET e o reforço da UESC, com criação de novos cursos, especialmente nas áreas técnicas e Engenharias.
    Isso tudo é necessário mesmo independente do projeto ora apresentado, mas reforça-se. E demanda uma união das lideranças numa direção bem diferente das do passado, com poucas excessões.

  4. Zelão diz: Meu medo!

    É que após esgotar as 18 milhões de toneladas do minério da mina de Caitité. Não nos reste nem mesmo a esperança e fique:

    – Uma montanha de entulho de resíduos;
    – Uma estrada de ferro desativada;
    – Uma restinga poluída, no lugar do “restinho de mata” que hoje resiste;
    – Nem mais um punhado de síris, carangueijos e guaiamuns;
    – E, nem mesmo um resto de esperança.

    Ai teremos pago um elevado preço em nome de uma falsa promessa de desenvolvimento e de um breve sopro de esperança.

  5. Thame, voce ia indo bem até usar um argumento estupido (meida duzia de carangueijos e blablabla), acabou por matar sua argumentação. lembrou bastante alguns politicos miopes norte americanos que falaram a mesma coisa sobre corujas (estaremos até o pescoço de corujas mas sem empregos). Sou a favor do porto por que pobreza degrada e degrada muito (embora o consumismo degrade ainda mais), mas se me perguntar se os gaiamuns são mais importantes que os empregos gerados pelo porto direi: sim! eles são! deles dependem uma infinidade de pessoas e um delicado equilibrio que se quebrado poderá se refletir em um sem numero de especies. Felizmente a preservação e o desenvolvimento não são excludentes, podemos preservar os gaiamuns e ter os gaiamuns. Desculpe Tame, mas voce foi pessimo! e ainda deu argumentos aos detratores do porto.

  6. O interessante é que essa discurssão das pessoas e ONGS que se dizem ferrenhos Ambientalistas e que são contra a construção do complexo intermodal, nos leva a relembrar aquele fato que lamentavelmente faz parte da história de Ilhéus, ao lamentar que uma cidade do porte de Ilhéus, que busca no turismo uma fonte de recurso não ter um shoping center (Iguatemi) para atender não só a população mas também aos turistas em um horário diferente daquele proporcionado pela belezas naturais da cidade. É duro saber que a cidade perdeu um investimento que gera emprego e renda, por que meia dúzia de empresários (dizem que meio falidos) buscaram na Justiça, através da Associação de Moradores da Av. Soares Lopes, que acredito deveria ser representada por meia dúzia de moradores com interesses próprios, e que hoje se adqueriram consciência devem se lamentar, isso se ainda morarem em Ilhéus, porque essas pessoas de hoje fazem exatamente o que fizeram aquelas do passado, juntamente com as ONGS que se colocam contra o complexo Intermodal não devem morar na cidade, nem tão pouco contribuem para o crescimento, não geram empregos e se moram é a muitissimo pouco tempo, e vem aqui só para meter a mão e azedar o nosso feijão. A população de Ilhéus precisa criar consciência e reagir contra esses maus feitores, que só querem vê uma Ilhéus parada no tempo, eu queria vê se o complexo Intermodal fosse na vizinha cidade de Itabuna ou em Vitória da Conquista.

  7. Não me consta que a população local tenha qualificação suficiente para ocupar os postos de trabalho que vão surgir com esse projeto; no fim das contas, pessoas de outras regiões é que vão ser chamadas a ocupar tais cargos… E, como disseram, quando acabar o minério de Caetité, nem mesmo a indústria do turismo vai se sustentar na região, já que os poucos recursos naturais restantes vão ter sido destruídos.

  8. Parabéns Daniel
    concordo que tudo tem um preço e se não for muito alto , vale à pena . Não nos esqueçamos que o principal fator que gera a degradação humana e ambiental é a miséria , que é mantida e sustentada pela falta de educação . Ora a única maneira de se erradicar ou diminuir a ignorancia e analfabetismo é levando o progresso (e com ele os benefícios) à quem falta quase tudo . A história mostra isso, mesmo sem as regras de civilidade e respeito ao meio ambiente que temos hoje , onde as mudanças naqueles tempos chegaram , levaram beneficios às pessoas . Isto se chama progresso e nunhuma pessoa ou intituição é ou foi capaz de detê-lo .
    Abraços do amigo Eusinio

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