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Morreu neste domingo, aos 91 anos, a pedagoga Dorina Nowill. Ela estava internada havia 15 dias por conta de uma infecção e teve uma parada cardíaca fulminante.
Cega desde os 17 anos por conta de uma infecção ocular, Dorina criou uma fundação com seu nome que tinha como objetivo produzir e distribuir livros em braille para que deficientes visuais como ela pudessem estudar. Casada havia 60 anos com Edward Hilbert Alexander Nowill, Dorina deixa cinco filhos, 12 netos e três bisnetos. Informações da Folha.

2 respostas

  1. Sobre a Sra. Dorina Nowil, Erico Veríssimo, escreveu, em Porto Alegre, em 17 de novembro de 1956: “Sua vida é um romance que eu gostaria de ter escrito.
    Criaturas como você – com seu espírito e sua coragem – constituem um enorme crédito para a raça humana. Não creio que jamais nos tenhamos encontrado ou cruzado… Mas você tem em mim um admirador que espera ter o prazer e o privilégio de um dia apertar-lhe a mão. Considere-me seu amigo e creia na simpatia e respeito que voto a você e à sua grande obra.”
    Helen Keller, em 17 de Julho de 1953, assim se expressou: É maravilhoso Dorina, como seu entusiasmo, atividade e talento estão acelerando o movimento pelos que não têm visão, não só no Brasil, mas em toda a América Latina. Sinto que não há personalidade mais corajosa e inspiradora que a sua, entre os habitantes da Terra da Escuridão no hemisfério sul. Eu uso freqüentemente a água marinha que você me deu, e ao tocá-la, sinto a sua querida mão na minha…”
    Falando sobre o seu modo de ver o mundo, Ernani Donato Disse: “Dorina Nowill é das pessoas que enxergam mais longe, mais claramente, neste país de tantos cegos de ver e cegos de perceber.” E continua: “Não digo novidade quando afirmo ser Dorina uma criatura referencial. São Jerônimo, na Carta a Paulo, exibe desânimo e conformidade ao considerar
    a cegueira: “Si caecus fuero, amici me lectio, consolabitur”. Buscaria consolo na leitura feita por um amigo. Dorina, cegando depois de ter feito conviver a sadia curiosidade juvenil com tudo o que de belo e bom oferece o mundo, não se quedou a ouvir o que amigos lessem ou dissessem
    para aquecer e preencher o seu novo âmbito. Ao contrário, alegando a leitura como chave de todas as portas, ensinou a ler, ou seja, a ver, a centenas de outras pessoas, então suas iguais na necessidade. Obra monumental a Fundação para o Livro do Cego. Quanta desesperança ela poupou ao mundo. Quanto vazio interior ela fez encolher.”
    Dorina, não apenas acendeu luzes dentro da sua escuridão e com elas transitou pelas “avenidas do saber” como iluminou outras sombras.
    Aceitou a porção que caprichosamente lhe foi atribuída no plano da imperfeição humana e dela emergiu, não um peso mas uma força. sempre foi uma literata oculta nos quefazeres de uma líder. Leio Dorina e penso em Borges. Releio Borges visualizando Dorina”.
    Conforme ela própria afirma em seu livro de memórias “E eu venci assim mesmo…” “Nasci a 28 de maio de 1919 porque Dolores Panella e Manuel Monteiro de Gouvêa encontraram-se, amaram-se e casaram-se no dia 27 de julho de 1918, em plena I Grande Guerra de nosso século. Italiana ela, do sul da Itália, de um lugar pequenino chamado Santa Crocci. Ele
    português, nascido numa aldeia chamada Penajóla, no distrito de Lamego, à beira do rio Douro. Por razões diversas, em épocas diferentes, ambos
    vieram para o Brasil.”
    Tendo fundado em 1946 a Fundação para o Livro do Cego no Brasil – FLCB,que a partir dos anos 90 passou a denominar-se Fundação Dorina Nowill para Cegos, dona Dorina foi protagonista de praticamente todos osgrandes momentos tiflológicos na vida brasileira e internacional, tendo
    inclusive presidido o Conselho Mundial para o Bem-Estar dos Cegos. Foi ela também grande batalhadora para que tivéssemos o processo de unificação entre as entidades nacionais de cegos do Brasil, o que se deu em João Pessoa, a 27 de julho de2008. Dona Dorina, descance em paz, no seio do Pai Celeste!

  2. Lindo o exemplo dessa mulher. Aliás, as mulheres são assim: sensíveis, generosas. Que o exemplo de mãe, pedagoga e cidadã de Dorina possa inspirar outras mulheres e homens a “ver” a necessidade do outro e dar de si para vivermos num país mais justo e solidário.

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