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E o que foi colocado em pauta não foi a inocência dos animais em estarem ali fuçando o lixo, mas a irracionalidade do homem diante da fome.

Manuela Berbert

Lá vem a Rede Globo com mais uma novela clichê no horário nobre. Falar da vida e do cotidiano vende, especialmente porque estamos todos tentando entender os caminhos que escolhemos para seguir, nossas atitudes, nos entender. Mas insensato, segundo o bom e velho Aurélio, é aquele que perde a razão, louco, insano. Aquele que age contrariando o bom senso.

Acho que todo mundo tem o direito de ser insensato com a sua própria vida. E isso inclui romances desastrosos que só nos fazem crescer, inclui um curso universitário com amor e sem futuro, inclui atitudes por impulso com dias ou meses de arrependimento etc. Mas nós não temos o direito de ser insensatos com o outro. Especialmente se o cuidado com o outro for uma obrigação.

Lembro que, ainda estudante universitária nas terras sergipanas, numa daquelas disciplinas práticas do curso de comunicação, produzimos vídeos com temas diversos. Enquanto a grande maioria optou por mostrar Aracaju sob ‘novos’ ângulos ou narrar o cotidiano do sergipano, uma equipe fez um documentário sobre a miséria humana. A miséria humana é algo que choca, especialmente quando mostrada de forma real.

No vídeo, homens, mulheres, crianças e animais apareciam juntos, no lixão da cidade, disputando espaço na busca desvairada por restos de comida. Além das cenas e dos relatos, a equipe comparou o homem, naquele momento, a um bicho. E o que foi colocado em pauta não foi a inocência dos animais em estarem ali fuçando o lixo, mas a irracionalidade do homem diante da fome. Achei uma comparação pesada, que me tirou o sono por dias seguidos, mas entendi.

Acho que é nessa parte da história que nos lembramos dos corações mais insensatos que existem no mundo: os corações daqueles que têm o poder nas mãos, o dever de fazer alguma coisa pelo ser humano, e não fazem. Fecham os olhos diante da miséria, desconhecem as atribuições que lhe cabem e desdenham do povo brasileiro. Não sei como conseguem deitar suas cabeças em travesseiros confortáveis, sabendo que tanta gente geme de dor nas filas dos hospitais ou cata lixo para matar a fome. Esses, sim, são irracionais, levianos e traiçoeiros. Na minha humilde opinião, verdadeiros bichos.

Manuela Berbert é jornalista, estudante de Direito e colunista da Revista Contudo.

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