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A Tarde:

Antonio Risério | ariserio@terra.com.br

Para dar um exemplo, o eixo Ilhéus-Itabuna tem de ser reativado. Precisa do porto, de equipamentos culturais, de novos estímulos, de novas direções.

É coisa relativamente rara, mas parece que estamos mesmo caminhando para um consenso. Nossa questão maior, hoje, é intensificar a integração espacial, econômica, social e cultural da Bahia. Outro dia, aqui neste jornal, Armando Avena escreveu sobre integração espacial, do ponto de vista econômico. É por aí. Para a Bahia se projetar em direção ao futuro, será necessário articular, no território estadual, uma nova rede infraestrutural e uma rede de cidades estratégicas, capazes de mobilizar e dinamizar a vida baiana, a partir de suas regiões.

No plano da logística, os projetos centrais do governo já estão devidamente definidos.

Quanto ao plano das cidades, o que se impõe é a qualificação de núcleos urbanos vitais para o sucesso no enfrentamento das novas realidades e de seus desafios. Ou seja: as realizações no campo da logística exigem a realização simultânea de uma ampla e criativa ação urbanística, operando sobre polos urbanos previamente definidos, dentro de critérios claros de desenvolvimento.

É na convergência de uma nova infraestrutura e de uma rede urbana renovada (em termos físicos e culturais) que está a chave para o êxito baiano.

A Ferrovia Oeste-Leste tem de acontecer já.

Assim como é indispensável dar outra vida ao Porto de Aratu (o Porto de Salvador – deixando de parte a ficção burocrática de que as unidades de Aratu e da capital formam um só complexo portuário – deve se voltar para cruzeiros e passageiros, em tempos de democratização do turismo e com vistas à Copa do Mundo). Construir o Porto Sul. Impulsionar o estaleiro do Paraguaçu, retomando, em outro patamar tecnológico, a tradição baiana de construção naval. Etc.

Mas os entraves ao desenvolvimento não estão somente aí. Estão, em grande parte, nos núcleos sociais dinamizadores, que são as cidades. A começar por Salvador. Mas se estendendo a todas as regiões baianas. Daí que o governo estadual esteja na obrigação de formular e executar uma política de intervenções urbanístico-culturais estratégicas, definindo polos articuladores regionais, a partir de suas condições atuais de existência.

Para dar um exemplo, o eixo Ilhéus-Itabuna tem de ser reativado. Precisa do porto, de equipamentos culturais, de novos estímulos, de novas direções. Tanto Ilhéus quanto Itabuna precisam ser repaginadas, em termos urbanísticos e culturais.

Não só Ilhéus e Itabuna, é claro. Precisamos definir aí por volta de umas nove cidades estratégicas (uma no semiárido, obviamente) e fazer com que elas funcionem bem e de forma articulada, na sua região e entre regiões. Estas cidades necessitam de realizações na educação, na saúde, na segurança, etc. Mas é necessário ir além disso.

Elas precisam de uma ação reconfiguradora para sacudir a poeira e ativar energias criadoras.

De uma investida assentada, sempre que possível, num tripé: urbanismo, cultura e turismo.

Com isso, teremos uma intervenção que se vai dar, de forma simultânea e complementar, tanto no corpo físico quanto na dimensão simbólica da cidade. Ela será repensada, em seus aspectos mais fundamentais, de uma perspectiva urbanística. Mas será encarada, acima de tudo, pelo que é: um fato de cultura, no sentido antropológico da expressão. Terá ampliado o seu acesso aos bens culturais e viabilizada sua própria produção nesse campo. Coma perspectiva turística se abrindo para a tornar mais visível, no espectro de suas realidades e manifestações.

Mas vamos, enfim, atar os fios dessa meada.

Falei que é necessário articular a implantação de uma nova malha infraestrutural e a energização urbanístico-cultural de um elenco de cidades estratégicas, cuja definição se impõe de modo lógico (Salvador, Feira, Conquista, Ilhéus-Itabuna, Juazeiro, etc.). Por esse caminho, poderemos ter novidade logística, novidade citadina e novidade cultural, convergindo, em ações exemplares, para situar a Bahia na linha de frente do avanço brasileiro. Mas, para isso, é preciso romper com a rotina, a timidez e o provincianismo. É preciso não ter medo de fazer. É preciso ousar.

Antônio Risério é escritor.

0 resposta

  1. Uau !Fiquei até tonta.
    A crônica do Luiz Fernando Veríssimo estava certa:
    Melhor que mãe, que papinha prá banguelo, que cheiro de Vick Vaporub, escada rolante, melhor que sexo.
    BOM MESMO É DISCURSO DE BAIANO e ponto final.

  2. Antonio Risério.
    Estou lendo A Utopia Brasileira e os Movimentos Negros.
    Diante de tantos elogios que recebeu, o meu, expressado neste comentário, é apenas mais um.
    Ressaltar a importância de um livro, que nas orelhas recebeu um “despertar” de Eduardo Giannetti, é um ato de extrema responsabilidade.
    De qualquer forma, reconheço sua notável lucidez, quase rara nos dias de hoje.

    Entretanto, confesso ter ficado decepcionado com seu artigo em que ressalta a importância do Porto Sul.
    Ao meu ver superficial, já que não discute os impactos negativos, sobretudo ao meio ambiente, evidenciados no projeto (EIA/RIMA e AAE).
    No que este projeto vai repaginar Ilhéus e Itabuna?
    As cidades estão preparadas para o fluxo migratório, para o aumento vertiginoso em suas populações?

    Um porto de exportação de minério de ferro, construído numa área protegida pela legislação ambiental e tombada pela UNESCO, como posto avançado da reserva da biosfera da Mata Atlântica, é tão importante quanto os equipamentos culturais que vc anseia?

    Sinceramente, esse artigo não lhe é digno, pois houve um certo desleixo, falta substância, é quase um panfleto.

    Peço desculpas, mas decidi lhe escrever por entender que não batem.
    No momento em que leio uma obra tão corajosa e clarividente, ter contato com seu artigo me deixou surpreso.

    Espero que me entenda. O que escrevi surgiu como um desabafo, diante de uma analogia absurda.

    Talvez o assunto citado no artigo seja mais importante pra mim, daí a não aceitação da forma que tratou.

    Valeu, paro por aqui.
    Um abraço e parabéns pelo livro.

  3. Todo progresso é muito bem vindo quando não destroem o meio ambiente! A ferrovia e o porto sul não devem atingir a familias que vivem no eixo onde pretendem construi-los !
    Ainda bem q existe orgãos como IBAMA para preservação , pelo menos de um futuro melhor !!!
    Belo texto, mas não deixe de ver essa questão!
    PRESERVAR O MEIO AMBIENTE É PROGRESSO PROMISSOR !

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