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Daniel Thame | danielthame@hotmail.com

 

Para quem tem dinheiro, abadás e uma relativa segurança, com a proteção dos cordeiros, muros de Berlim humanos a separar a elite dos sem fantasia.

 

Nem bem os últimos acordes dos trios elétricos haviam silenciado e já brotavam discussões sobre o Carnaval de Salvador, considerado por muitos a maior festa popular do planeta.

Há um consenso de que, apesar dos números grandiosos de público e de recursos movimentados, o carnaval da capital baiana não teve a devida exposição na mídia nacional, leia-se Rede Globo de Televisão, que é efetivamente o que interessa aos patrocinadores, que investem milhões de reais nos blocos e camarotes e não o fazem nem por caridade nem por espírito festeiro.

Não precisa ser sociólogo, turismólogo, futurólogo ou “axeólogo” (esses ´gênios´ da música), para perceber que o Carnaval de Salvador precisa encontrar um novo modelo, reciclar-se, dar uma repaginada.

O modelo atual, que já atravessa duas décadas, definitivamente cansou. É a repetição da repetição, da repetição, da repetição.

O que começou como lazer e entretenimento e depois virou negócio, inverteu-se a passou a priorizar o negócio, deixando o lazer e o entretenimento como subprodutos caros, pra quem pode pagar.

Esse talvez tenha sido o primeiro e maior equívoco.

A propalada maior festa popular do planeta aos poucos foi se transformando num evento onde a exclusão social salta aos olhos.

Os blocos, transformados em empresas altamente rentáveis, fizeram a seleção natural, não pela cor, mas pelo poder aquisitivo. Para quem tem dinheiro, abadás e uma relativa segurança, com a proteção dos cordeiros, muros de Berlim humanos a separar a elite dos sem fantasia.

Do lado de fora, espremidos num espaço exíguo, a patuleia denominada pipoca, sorvendo as sobras da festa, numa versão carnavalesca da Casa Grande e Senzala.

Como os blocos se tornaram um espaço de turistas e nativos dispostos a pagar caro pelos abadás, perdeu-se aquela espontaneidade típica do baiano. Produz-se um clima de alegria, mas é uma alegria artificial.

Blocos e trios se repetem na mesmice, com as coreografias idênticas e reverberando os sucessos instantâneos.

Tudo se resume a Ivete Sangalo, Chiclete com Banana, Cláudia Leitte e a banda e/ou o cantor do momento, cuja fama mal ultrapassa de um ano a outro, e uma mistura de dinossauros do axé com bandas que nunca passaram do patamar mediano. Uma coisa mecânica, sem contar que a qualidade das músicas é sofrível, mas isso é uma questão de gosto. E gosto não se discute.

O que tem que se discutir é a fórmula do Carnaval Baiano e encontrar alternativas para que ele volte a ser menos negócio e mais lazer e entretenimento.

O exemplo pode ser dado pelo Rio de Janeiro, que faz seu carnaval para turista ver (e pagar bem por isso) na Marquês de Sapucaí, mas nos últimos anos redescobriu os blocos que surgem espontaneamente em toda a cidade. Festa popular na acepção da palavra, reunindo milhões de pessoas, cada qual fantasiado à sua maneira.

Até mesmo Pernambuco, com seu frevo meio mecanizado, é um exemplo de que dá pra manter a festa como negócio, mas sem escancarar na exclusão social, como na Bahia.

É preciso voltar aos tempos em que atrás do trio elétrico só não ia que já havia morrido.

Hoje, ao menos nos grandes trios e atrás nos grandes artistas, só vai quem pode pagar.

Ou tem vocação para pipoca, segregado pela corda e pelo muro.

Daniel Thame é jornalista e escritor.

0 resposta

  1. E os artistas de nomes como chiclete, IVETE, DANIELA.ASA DE ÁGUIA.
    ELES E SEUS EMPRESÁRIOS SÓ QUEREM OS LUCROS UM TANTO FÁCIL.
    A FALSA RIVALIDADE DE DANIELA COM A IVETE JÁ E UM GANCHO, PARA PRENDER AS ATENÇÕES, QUEM TERÁ A MELHOR APRESENTAÇÃO TANTO QUE ELAS NEM SE IMPORTAM MAIS COM A QUALIDADE MUSICAL.
    O CARNAVAL DA BAHIA É A GALINHA DE OVOS DE OURO PARA POUCOS.
    PARECE QUE A ARTE , TINHA MAIOR CRIAÇÃO NA ÉPOCA DA DITADURA.
    QUANTOS ARTISTAS BONS , E QUANTOS PROGRAMAS DE TV DE QUALIDADE, MUSICA. CONQUISTAMOS A LIBERDADE,NÃO AINDA POR INTEIRO ,POREM PARECE QUE O PODER DE CRIAÇÃO FOI SUSPENSO NO NOSSOS ARTISTAS, ATE QUANDO, AS NOVELAS JÁ NAO RESPEITAM MAIS AS MULHERES, PERSONAGENS PRINCIPAIS HOJE VIRAM VILAS SENDO AS HERÓINAS NACIONAIS, PRINCIPALMENTE NOS ENREDOS GLOBAIS.
    AS MUSIQUINHAS DA BAHIA , NAO TEM RESPEITO AS MULHERES, PRINCIPALMENTE AO ORGÃO GENITAL E O PIOR QUE ELAS APROVAM AINDA FAZEM COLEOGRÁFIA

  2. Este é mais um que acordou, que abriu os olhos para uma coisa que deveria continuar sendo tão espontânea, que é o carnaval, mas que os oportunistas – empresários e alguns artistas – e os burgueses sem graça – mauricinhos e patricinhas – amam, …, os primeiros porue gostam de ganhar muito dinheiro, …, os outros porque são burros e só sabem gastar dinheiro, mas são limitados, não têm a menor graça, a menor criatividade, se repetindo tal qual o BBB da Rede Globo, …!!!

    E ainda rotulam a festa soteropolitana cono um carnaval ue representa a Bahia como um todo, …!!!

    E o Governador JW ainda gasta mais de 50 milhões de Reais do dinheiro público numa festa destas, mesmo tendo contingenciado a educação em todo o estado, …!!!

    Vá entender, …!!!

    E eu que pensava que burrice tinha limite, …!!!

  3. Carnaval eu vou pra cidade pq ficar sossegado..To fora de violência, barulho e bagunça

    prefiro aproveitar o feriado e relaxar.. foi-se o tempo de curtir a festa do carnaval

  4. É MEU CARO THAME, TAMOS LASCADOS PRA VALER PIOR É ISSO:

    Hoje, no Brasil, para disseminar um protesto, a forma mais utilizada é a internet. O movimento “Queremos ser Maria Bethânia” em poucos dias tomou a rede e se espalhou por todo o país.

    Todos dizem querer ser Maria Bethânia, não para ter a sua voz ou cantar as músicas que ela canta. O objetivo é protestar contra os recursos recebidos por ela e o cineasta Andrucha Waddington, do Ministério da Cultura, de R$ 1, 3 milhão, para que o diretor grave 365 vídeos com Bethânia declamando poemas famosos, que serão exibidos diariamente durante um ano.

    A decisão da ministra da Cultura Ana Buarque de Hollanda, de liberar esses recursos para Bethânia, vídeos com poemas, ditos por internautas, sem cobrar nada do governo, como eles fazem questão de ressaltar é antes de tudo uma tremenda sacanágem.

    Divulgar poesia é uma ótima iniciativa, mas a questão é a seguinte: esse dinheiro não poderia ser empregado em projetos culturais de maior envergadura, para incentivar orquestras que estão se formando, grupos de teatro, de dança?

    O precedente é perigoso porque acaba favorecendo um artista em detrimento de outros. Um vídeo com poemas não precisa de recursos dessa monta provindos de um ministério.

    ENQUANTO ISSO, NO MESMO GOVERNO DA QUAL ESSA MINISTRA FAZ PARTE, ESTAMOS PRECISANDO DE RECURSOS EM VÁRIOS OUTROS MINISTÉRIOS, TANTO É QUE A PRESIDENTE Dilma JÁ CORTOU R$ 50 BILHÕES DO ORÇAMENTO 2011, MAS VOU TORNAR A BATER NUMA VELHA E LAMENTÁVEL “TECLA”, ME REFIRO A SUSPENSÃO DOS ATENDIMENTOS EM CLÍNICAS PARTICULARES AOS PORTADORES DE “CANCER”, COMO POUCAS PESSOAS SABEM, ESSE ERA UM COMPORTAMENTO VINHA ACONTECENDO DESDE O GOVERNO Color, JAMAIS NINGUÉM IRIA ESPOERAR QUE UM TAL GOVERNO SOCIALISTA FIZESSE UMA BARBARIDADE DESSE TIPO, ISSO ME FAZ LEMBRAR OS BARBARIDADES DO NAZISMO, O RESULTADO TAÍ NO JORNAL “A Tarde” DE HOJE, COM A MANCHETE:
    –Hospital deixa de atender crianças com CANCER————-

    ESSA BARBARIDADE TÁ ACONTECENDO NO PAÍS INTEIRO, ISSO SÓ VEIO A TONA PORQUE ESTÁ HAVENDO UMA QUEBRA DE BRAÇO ENTRE A PREFEITURA DE SALVADOR E O HOSPITAL MATARGÃO GESTEIRA, MAS O PROBLEMA DOS PACIENTES DE COM CANCER É OUTREO MUITO MAIS GRAVE, POIS SE TRATA DE PACIENTES ACOMPANHADOS PELO SUS/GOVERNO FEDERAL.

  5. Esse povo quando nasce com o olho virado pra lua, não tem jeito mesmo…

    Tanta gente anônima com talento, sentimento e voz de qualidade para declamar poesia!!! Ora vejam só!? Muito lindo!!! Pegam-se as criações alheias em domínio público e vendem-se a quem nem conheceu o criador!

    É como se diz: “Estou pasma” com essa Ana de Holanda, viu? Começou a armar “esquema”…

  6. Essa é uma discussão que leva nada a lugar nenhum! Os blocos de carnaval são um negócio como qualquer outro, ou seja, buscam o lucro!

    Durante o período do carnaval de Salvador chegam a ser movimentados aproximadamente 1 bilhão de reais! É isso mesmo, 1 bilhão de reais. É uma movimentação muito grande de dinheiro e que ajuda a melhorar a situação de algumas famílias durante esse período.

    Segundo o Thame, “O exemplo pode ser dado pelo Rio de Janeiro, que faz seu carnaval para turista ver (e pagar bem por isso) na Marquês de Sapucaí, mas nos últimos anos redescobriu os blocos que surgem espontaneamente em toda a cidade. Festa popular na acepção da palavra, reunindo milhões de pessoas, cada qual fantasiado à sua maneira.” nós temos a pipoca! Um espaço livre e democrático, no qual podemos nos deslocar para qualquer lugar a qualquer momento e vermos a atração que quisermos! Não precisamos pagar por isso, não precisamos ficar cercados “por um muro humano e com cordas”. Somos livres!

    O carnaval de Salvador se reinventa a cada ano. Antes tinhamos o samba e as marchinhas, depois incluímos o axé, o pagode, o pop, o forró, a música eletrônica e agora o sertanejo. O que virá depois? Não sei, mas estarei lá ano que vem de novo se assim Deus permitir e curtindo todas! Andando pelos circuitos Batatinha, Dodô e Osmar.

  7. Daniel Thame tem toda razão, o carnaval da Bahia deixou de ser um simples divertimento, passou a ser um negócio lucrativo para poucos.
    E o chamado “folião” financia esse negócio feliz da vida…

  8. será que rapaz não traz nada de novo.

    aliás sobre carnaval na bahia,o “apito dele é surdo”,.

    o carnaval que ele conhece é o samba atravesado de são paulo…rsrsrsr

  9. Parabéns, jornalista,estive no Carnaval em Salvador, após 13 anos, fiquei estarrecida com a segregação, Daniela e Durval Lelis entre outros sequer passaram pelo circuito Campo Grande Castro Alves.Que TRISTEZA.

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