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Manuela Berbert

Que amor é esse que não pensa no sofrimento do outro, nos filhos que ficam, na compaixão?

Acordamos no dia 11 de março com a triste notícia de que o mundo estava se acabando no Japão. Terremoto seguido de tsunami, muitas vítimas e caos. As imagens que os canais de notícias insistiam em reproduzir eram chocantes, com uma grande diferença das cenas do deslizamento no Rio de Janeiro: aqui, as histórias das pessoas eram mais exploradas, como o resgate àquela senhora que não desgrudava do seu cachorro em meio à correnteza. Por lá, era a suntuosidade japonesa que se esvaía com as águas.

Explodiram piadinhas na internet sobre o fim do mundo. Coincidência ou não, as pessoas sugeriram que há uma conspiração quanto ao número 11: foi no dia 11 em setembro que atentaram contra as torres gêmeas nos Estados Unidos, e exatamente no mesmo dia, em março, aconteceu um terremoto no Haiti. As pessoas estão com medo da data 11 de novembro (mês 11) do ano de 2011 ou, numa continha que eu já não me lembro mais como se faz, comentam que o mundo vai mesmo acabar em 2012.

Fim dos tempos, na minha humilde opinião, é assistir à degradação humana que vejo diariamente. São filhos matando os próprios pais por dinheiro, crianças sendo mutiladas nos hospitais públicos do nosso país, governantes saqueando prefeituras, homens e mulheres matando em nome do amor. Que amor é esse que mata, que humilha e causa danos irreversíveis? Que amor é esse que não pensa no sofrimento do outro, nos filhos que ficam, na compaixão? Acho que somos nós, seres humanos, que estamos nos destruindo.

Somos nós que vibramos com o avanço tecnológico mundial e depois choramos a morte de ente-queridos por doenças como o câncer. Somos nós que ficamos entusiasmados com a evolução dos veículos e depois enterramos amigos e parentes, vítimas da própria imprudência nas estradas. Somos nós que elegemos governantes por capricho ou interesses próprios e depois questionamos seus deveres. Infelizmente, somos todos culpados.

Incomoda-me ler e escutar por aí que Deus estaria se vingando das nossas ações, retribuindo em catástrofes os danos causados à natureza. Discordo. O meu Deus não é vingativo. O meu Deus não é aquele que nos manda desastres naturais como forma de punição, mas sim aquele que vai ajudar os japoneses na reconstrução do país. O meu Deus é aquele que vai fazer o mundo enxergar que é o espírito samurai, que tem como principais características a disciplina e a lealdade, que vai fazer a grande diferença na Terra do Sol Nascente.

Manuela Berbert é jornalista e colunista da Contudo.

0 resposta

  1. Grande Manuela,
    Tenho orgulho de ter você como colega de Direito, pois sei que nós, seres indignados com tanta alienação, podemos fazer a diferença na construção de um mundo melhor para os nossos filhos ou afilhados, que ainda não encontraram espaço nesse planeta,nem para nascer!!
    Abração,

  2. Posso afirmar categoricamente que esse artigo foi um dos melhores se não o melhor já escrito por Manuela Berbert e publicado aqui no Pimenta. Fico lisongeado em ser seu colega de faculdade e feliz com sua familiaridade com as palavras. Seu conhecimento e persuasão é fantástico.

    Concordo em todos os sentidos que o mundo não está acabando mas as pessoas estão se destruindo, ceifando suas próprias vidas e a vida de seus entes. Isso tudo porque? Falta de Deus.
    Deus não se rebaixaria a tanto, ou melhor, nem se rebaixaria. Não depositária sua tristeza e decepção em todos, afinal, Deus é justo e não vingativo.
    Torço que as vítimas dessa catástrofe no Japão se recuperem logo e tenham força para seguir em frente.
    Aos que acreditam que o mundo acabará em 2012 só esperando pra vê. Esses incrédulos que se chegarem até 2012, perceberam que o mundo permanecerá vivo e as pessoas mortas por suas carnificinas.

  3. “Pôxa”, tenho que esquecer dos elogios feitos ao “netinho de ACM” para poder melhor refletir sobre as escritas da jornalista.
    Vejo sua coluna e me lembro de tais elogios.
    “Pôxa”, elogiar quem do plenário do legislativo federal ameaçou dar uma surra no Presidente da República do seu país, é deveras muito triste.
    E esse “cabra” elogiado é apenas um Deputado. E desrespeitou a autoridade política máxima do seu país…
    Imaginem um “cabra” desse governador da Bahia!
    Imaginem o que um “cabra” desse, num cargo político de maior projeção, não faria com um cidadão comum!
    Deus, na sua infinita bondade, que nos livre desse mal!
    Amém.

  4. Querida Manuela. Desculpe minha ousadia em trata-la com tanta intimidade, sequer a conheço, mas me sinto familiarizada por seus pensamentos. O ser humano desumanizou-se, perdeu a essência e os valores elementares à vida em sociedade. Deus, na sua infinita bondade, jamais criaria algo se soubesse que não daria certo. Somos nós os destruidores dos sonhos de Deus para nós mesmos. Somos nós os “cavadores” de nossas próprias sepulturas. Parabéns por tão verdadeiras palavras. Leio sempre matérias suas aqui e a admiro como pessoa e mulher. Um forte abraço.

  5. Querida Manuela, concordo com suas palavras.
    A exemplo disto, penso no calor dos últimos dias, considero que a temperatura tem chegado a esse extremo por conta dos abusos que “nós” temos feito, é a tal lei: Toda ação desencadeia uma reação.
    Nós estamos tão preocupados com o hoje que nos esquecemos do amanhã. Será que teremos água? Será que o ar continuará respirável? Será que os rios/mares serão navegáveis? A julgar pelos nossos atuais atos, sei não. Temo por minha filha, de apenas 10 anos que não viverá num mundo onde seus pais viveram. Chico Anísio disse certa vez em um show, que a maior herança que ele deixará para seus netos é um poço artesiano, pois ele não tem certeza se haverá água para todos em um futuro próximo.
    PS: Não entendi a colocação do Osias sobre essa coluna…acho que ele divagou um pouco.
    Parabéns Manuela pelas sempre palavras certas em momento oportuno!

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