Tempo de leitura: 2 minutos

Valéria Ettinger | lelaettinger@hotmail.com

E por que não conseguimos viver com elas? O que nos impede de enxergar o outro ou o comportamento do outro com aceitação?

Recebi a seguinte citação no meu post no Facebook “Dia do orgulho disso, dia do orgulho daquilo”… PQP. Anseio pelo dia em que héteros, gays, bis, tris, tetras, trans, pans, negros, brancos, amarelos, vermelhos, cristãos, mulçumanos, judeus, ateus, nortistas, sulistas, orientais e ocidentais possam juntos ir às ruas comemorar o ORGULHO DE SER GENTE!
Mas será que estamos preparados para viver com as diferenças? E por que não conseguimos viver com elas? O que nos impede de enxergar o outro ou o comportamento do outro com aceitação?
Partindo do pressuposto que o homem é um ser gregário e necessita de outro homem para satisfazer suas necessidades, então razoável seria uma tendência harmônica no quesito convivência. Mas esqueceram de dizer a esse homem que para tanto ele precisaria desfazer de parcela do seu interesse individual, para, unido à fração do outro homem, formatar um consenso. Isso não acontece! Porque o homem pensa como um ser individual, mesmo quando está vivendo coletivamente.
Spinoza disse que o bem maior de um homem é o outro homem, no entanto, ele enxerga o outro como um meio de satisfazer os seus instintos e, quando não, o conflito está instaurado. O homem individual é um homem que está sempre em busca de satisfazer os seus desejos e é munido pela paixão.
Somos seres coletivos, que agimos individualmente e jamais aceitaremos aquilo que não corresponde a nossa verdade ou vontade. Por isso que Montesquieu dizia que o homem é capaz de violar a própria lei que ele cria, visto que esta, por ter um caráter geral, pode não corresponder aos anseios desse homem.
No entanto, o Estado não pode agir assim, ele tem que responder às demandas sociais. Mas nem sempre responder às demandas sociais é satisfazer aos nossos interesses. Por isso que não aceitamos aquilo que não corresponde aos nossos desejos ou valores e rejeitamos quando o Estado no exercício de sua função age no tocante aos interesses coletivos, principalmente quando se referem aos interesses das “minorias”(qualitativas).
Não sabemos viver com as diferenças, porque ser diferente é não corresponder a um padrão, que um dia foi declarado como normal. Mas, para que eu possa viver em sociedade e de forma harmônica terei que compreender que o diferente também pode ser igual, ainda mais que ele é GENTE como a GENTE.
Valéria Ettinger é professora universitária.

0 resposta

  1. Parabéns, professora, pelo excelente artigo. Espero seja entendido por todos em toda sua essência. Um alerta para o ser humano ser realmente humano e tolerante, aí sim a verdadeira receita para uma sociedade igualitária.

  2. Fico feliz quando leio textos excelentes ,principalmente quando a pessoa que escreve é você.O Brasil precisa de jovens que pensam e se preocupão com as diferenças que não deveriam existir.

  3. Professora, você erra ao associar os homens a animais gregários. Gregários são os cupins, abelhas que vivem numa sociedade onde cada um dos indivíduos cumpre seu papel social e nascem geneticamente preparados para sua função, alguns para defesa, outros para garantir alimentos, cabe a Rainha o papel de colocar ovos para perpetuar a espécie. Isto nunca pode ser associar ao homem, ele cresce influenciado pelo meio que vive, nasce com talentos individuais, mas precisa de liberdade para colocar seu talento a serviço da sociedade. Ao longo da historia precisou fazer um contrato social para que a convivência pudesse ser possível, caso não fosse assim o mais forte acabaria com o mais fraco como ocorreu ao longo da historia, a barbárie, a escravidão foram a maneira encontrada para os mais fortes vencerem os mais fracos.
    A sociedade que você propõe baseia-se no socialismo real, onde cada um contribuiria com sua capacidade e utilizaria conforme sua necessidade. Isto parece bonito, mas não se assemelha ao homem, este sempre buscou melhorar sua condição de vida na terra, usou sua mente criativa para domar a natureza e usar-la em seu beneficio, não por acaso hoje o mundo com sete milhões de habitantes vive muito melhor que com menos da metade de um século atrás, a expectativa de vida quase que dobrou em menos de duzentos anos, graças à possibilidade do homem usar a ciência em seu beneficio.
    O socialismo foi tentado em varias paises, a em comum a liberdade foi a primeira a ser perdida. Todos passaram a servir a sociedade e o resultado foi a fome e a pobreza
    Concordo que devemos lutar para que todos tenham orgulho de viver em sociedade, para isto a educação tem um papel central, ética algo tão raro ver ser discutido, precisa fazer parte de nossa formação cotidiana.

  4. “SER DIFERENTE, É LEGAL.” Esta é uma ONG que trabalha pelos diferentes (cadeirantes, cegos, surdos, mudos, gays e outras diferenças.)Muito salutar ser diferente, por que não? As elites sempre carimbaram estas diferenças quando separa o ser humano por casta. O Sistema capitalista é quem melhor sabe fazer esta diferença para enquadrar os que tem poder aquisitivo maior em seu grupo de diferente. Foi assim no sistema feudal, no sistema escravocrata e é assim nos dias de hoje. É uma realidade e ninguém pode fugir à regra. A própria sociedade não permite. Viu a dureza pela aceitação das quotas nas universidades? Muita gente é contra alegando que é racismo ao contrário, quando na verdade, era porque não queria ver seus filhos misturados aos negros, índios e meninos de escolas públicas, pois as elites ditas dominantes sempre ocuparam as melhores vagas nos melhores cursos nas universidades públicas. Viu que 55% da população são contra a união homo afetiva mesmo depois que o supremo aprovou? É isto, esta multiplicidade é que faz o caldeirão ferver. Agora, o que todos precisam, é entender as diferenças, respeitar e tolerar. Tudo que estiver desobedecendo os padrões estipulados pela sociedade, é visto com olhares atravessados. Os dedos das mãos são irmãos, mas não são iguais.
    Parabéns Valéria pelo texto!

  5. Zelão diz: – Nem no céu existe a utópia igualitária
    “Se existe um paraíso cósmico, formado por um Deus Supremo, santos, anjos, querubins, arcanjos e almas evoluídas vivendo em perfeita harmonia, lá deve existir um princípio hierárquico de classe ou castas.”
    Um dos aspectos não mencionados pela professora é o fato do homem ser um animal (embora seja um animal racional), dotado de ambições e instintos. As diferenças de classe sempre existiram. Por vezes exarcebadas, com a dominação cruel e fratricida sobre as classes consideradas inferiores.
    O papel de cada um dentro da sociedade em que vive, é estabelecido e conhecido por todos. Aos governos, cabe oferecer a todos – ai sim igualitariamente – as condições básicas que proporcionem a todos o direito e as oportunidades de buscarem o acesso social.
    O que devemos buscar é o equilíbrio, onde respeitadas as individualidades seja estabelecida a harmonia entre as diferenças.

  6. Por isso eu acredito na Bíblia, esta historia de liguas, costumes e diferenças só pode ter sido praga pela tal TORRE DE BABEL. Quanto mais nos acercamos do conhecimento (aprendizado de novas linguas, viagens para conhecer novas culturas, estudos universitários), parece que menos nos entendemos. Será certo o que diz o professor que o conhecimento aisla o homem?
    Por que quanto mais aprendemos, mais nos julgamos menos digno do demais…mais nos sentimos diferentes, logo queremos estar com outros que alcançaram nosso nível e pronto…já começou tudo de novo. Parabéns, Bom Artigo Professora!!!

  7. Você tocou no “ponto G” da questão Valéria.
    Espero que as pessoas possam ler este artigo sob a luz da razão e entender que somos todos parte de uma dita sociedade construida a partir das diferenças.
    Acredito que o propósito do Criador, seja ele quem for, é muito maior que tudo isto e devemos concentrar nossa energia para emanar amor, amor e amor!!! Só o amor constroi.
    Bjs no coração.

  8. Viver ou conviver com as diferenças é diferente de nivelar seus anseios por baixo.
    Virou moda apregoar que devemos aprender a conviver com as diferenças.
    Muitos confundem a obrigação absoluta e verdadeira de não ser racista, ou em aceitar a pobreza como realidade e não como fatalidade e tentam impingir, em quem evoluiu, a obrigação de viver na ignorância e conviver harmonicamente com os mal educados.
    Classes sociais não são uma invenção dos ricos nem uma obrigação de submissão dos pobres. Assim como se classifica a escolha de um profissional da saúde para integrar os quadros de um hospital, pela capacidade em entender os problemas e e atender aos pacientes, a classificação social serve para estudar o grau de evolução de uma região, de um povo e da humanidade.
    A expressão “ave de pena rara voa junto” não significa que a gente escolhe com quem vai andar porque se veste da mesma forma. Só voam juntas aves da mesma espécie, que migram para um mesmo lugar porque têm os mesmos anseios, envergadura e capacidade de voo para alcançar o seu destino.
    Vejo com preocupação a reserva de quotas para negros, índios e outras minorias, numa tentativa honesta de levar e elevar, mais e mais gente dessas raças a um bom patamar de cultura e educação.
    Ao mesmo tempo, vejo que estão prejudicando quem não faz parte das minorias, prejudicados na igualdade de condições entre todos os indivíduos em busca de um ideal.
    É inaceitável é tentar obrigar quem já evoluiu a regredir para fazer parte de uma maioria ignara, em nome da convivência harmoniosa.
    Isso não tem nada de inteligente, de louvável, nem é fantástico.

Deixe aqui seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *