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Manu BerbertManuela Berbert | manuelaberbert@yahoo.com.br

Como oportunamente comentou nas redes sociais o jornalista pernambucano Geneton Moraes Neto, ele provavelmente não terá dinheiro para bancar um advogado “menos flexível”, capaz de transformar o caso num marco contra a impunidade.

Sentar-se à frente de uma televisão hoje em dia remete qualquer cidadão a um filme de terror. A gente nem precisa estar portando os óculos e os binóculos do eterno Eduardo Anunciação para enxergar o sangue escoando na tela e, como num passe de mágica cruel, pular no nosso colo. O que era para ser um meio de informação e entretenimento vem causando pânico e deixando no ar uma sensação de impotência fora do comum.
No último domingo, o Fantástico exibiu uma matéria de causar náuseas: um estudante de 22 anos teria atropelado um ciclista na Avenida Paulista, região central da cidade de São Paulo, após uma noitada movida à fatídica combinação álcool e direção. O violento choque teria arrancado um braço da vítima, o condutor teria fugido com o membro pendurado e logo adiante atirado em um córrego.
Enquanto a TV mostrava imagens da avenida e da bicicleta, uma voz completava a matéria afirmando que os familiares do ciclista estiveram no local na tentativa de recuperar o braço para reimplante, mas que não teriam conseguido. Desviei o olhar da tela, sem querer acreditar no que tinha acabado de assistir, mas ainda cheguei a escutar que ele havia se entregado.
Acontece que o irresponsável motorista é estudante de psicologia e chegou à delegacia acompanhado de um advogado que pediu à justiça e à imprensa um pouco de flexibilidade para analisar o caso. Não precisa ser dos mais entendidos no assunto para saber que todo criminoso tem direito a defesa, mas o que revolta é que em nome desse direito seguimos lamentavelmente inertes.
Acontece também que o ciclista que estava indo trabalhar às cinco horas da manhã e viu seu braço ser dolorosamente arrancado é filho de uma empregada doméstica. Como oportunamente comentou nas redes sociais o jornalista pernambucano Geneton Moraes Neto, ele provavelmente não terá dinheiro para bancar um advogado “menos flexível”, capaz de transformar o caso num marco contra a impunidade.
De fato, a palavra que irá acompanhar o jovem ciclista a partir de agora é flexibilidade, caro advogado! Flexibilidade para aceitar passar o resto de sua vida sem um braço, para conseguir ficar de pé ao pegar um meio de transporte lotado diariamente, para comer, se vestir e, principalmente, para mudar de canal sempre que tiver que assistir a casos ridiculamente impunes e flexíveis como este na TV.
Manuela Berbert é jornalista, publicitária e colunista do Diário Bahia.

8 respostas

  1. Essa flexibilidade sempre aparecerá enquanto for conveniente. Pro motorista abastado, foi a condição de pagar um bom advogado para aliviar sua barra. Mas, cotidianamente, acompanhamos casos flexibilizados, como quando alguém vai procurar um “brother” numa repartição pública para dar vantagens a seus processos, seja telefonando para uma personalidade influente para dar um jeitinho de conseguir um emprego, ou então com a famosa carteirada “sabe com quem está falando” para passar na frente ou por cima de quem for, como em uma clínica lotada de pessoas que há horas esperam por atendimento, mas podem ser negligenciadas porque apareceu um paciente ilustre e flexibilizador.
    Essas flexibilidades diárias são as deformações de caráter aceitas cotidianamente. Mas, quando é algo mais extremo, espetacularizado, mostrado com o tom e ritmo certo para sensibilizar o público, a dimensão é outra, pois oferece um certo distanciamento. E essa distância midiática acaba permitindo-nos a capacidade de ver a dureza da realidade, despertando indignação nem que seja por um par de minutos.
    Como bem diz o Superoutro: Acorda, humanidade!

  2. Concordo com Manuela e também com Karoline Vital. Vivemios nos País, da impunidade, do famoso jeitinho brasileiro e com certeza, ssa “flexibilidade” proclamada se faz presente em todas as esferas, como com muita propriedade cita Karoline. Nos juntamos ao grito de indignação e de solidariedade de Manuela e pedimos a Deus que tenha misericórdia desse rapaz atropelado,que além de perder um dos seus membros, perdeu a esperança e os sonhos e que o atropelador se arrependa do seus atos insanos e no mínimo, preste assistência ao rapaz e família.

  3. Eu fico me perguntando o que que levam seres humanos perderem seu precioso tempo ( a vida é tão curta) na frente desse aparelhinho de produzir idiotas em série, quando poderiam estar com um bom livro (fora autoajuda!) nas mãos.
    Sob pretexto de que estão se divertindo,(ou deixando o tempo passar, a única coisa que realmente elas têm) essas pessoas estão apenas exercitando (paradoxo, não?) a preguiça mental.
    Odeio televisão, dispenso até mesmo os programas ditos inteligentes, uma vez que seu ritmo de apresentação é medido pelo poder de concentração do telespectador médio, ou medíocre. Odeio a mediocridade! Por isso, odeio televisão!
    Se desaparecer me fará tanta falta quanto as corridas de Fórmula 1 ou outras imbecilidades do mesmo nível. Ou seja, nenhuma.

  4. É amiga, este é o Brazil, zil, zil de meu Deus como diz João Cana Brava (Tom Cavalcante). Impunidade junto ao poder financeiro impera sobre a justiça brasileira pois a mesma é ineficaz e conivente, cheia de brechas que permitem aos poderosos sempre uma saida sem maiores problemas.

  5. Enquanto estivermos mais preocupados em quem vai ganhar o BBB que enriquece cada vez mais a REDE GLOBO; enquanto não nos pronunciarmos sobre o por quê do Governo dar mais importância ao FUTEBOL, do que a SAÚDE e EDUCAÇÃO; enquanto fechamos os olhos por exemplo a um BANDIDO assumir um cargo público com orçamento bilionário… então… essa “flexibilização” está no nosso DNA. Quando aceitamos esse “prato feito”, esse “padrão social”… É preciso que se entenda que só estamos colhendo o que plantamos. Ter indignação da maçã podre sem se preocupar em adubar, podar, zelar da macieira é pura hipocrisia.

  6. Flexibilidade deveria ter a nossa JUSTIÇA, a OAB em particular. Os advogados de nosso país hoje são onipresentes,
    oniscientes de tal forma que -no caso presente- são capazes de
    convencer que o ciclista arrancou o próprio braço e em seguida
    se atirou na frente do carro.
    O acusado nada sabe. Ás vezes, é capaz de afirmar que no
    momento do acidente estava em casa dormindo. Não faltarão argumentos do “onipresente”.
    Para alguns advogados pouco importa a verdade, a justiça. E
    sim a conta bancária do seu constituinte.

  7. Manu. Estamos bebendo demais, estamos aceitando que a bebida e carro se tornem algo normal. Ao aceitar como normal que bebida e carro podem conviver juntos. Nos tornamos cúmplices de tudo que a combinação bebida e carro dão causa. A começar pela nossa cumplicidade com a lojas de conveniência
    em postos de gasolina. Acesso fácil a bebida e a muitas outras coisas. Já trata se de questão de saúde publica . Quando afirmo que estamos bebendo demais afirmo que não lutamos contra a facilidade de comprar bebida alcoólica. Estamos flexíveis demais e aceitando que amigos(a) façam uso da bebida alcoólica e carro. O exemplo tem que começar em casa, com os amigos. Vamos beber? Nada de carro e muito menos moto. Vamos curtir a noite de ônibus ou de táxi ou melhor ainda vamos contratar uma Vam(bate volta).

  8. Zelão, diz: – “Sejamos sim, flexíveis!”
    “Flexibilidade nada tem a ver com impunidade. A flexibilização das leis é que não podem ser tomadas como forma de proteção aos criminosos abastados.”
    Sejamos sim flexivéis, quando por exemplo; um miserável faminto, furta uma lata de leite no supermercado, para alimentar o seu filho igualmente faminto. Sejamos inflexíveis, quando por exemplo; um “figurão político” protagoniza um dos maiores escândalos da vida pública brasileira – o mensalão – e cinicamente, diz que; – “Eu não sabia de nada.”
    Sejamos flexíveis, apesar do incomodo causado, quando a mídia denuncia os crimes e os criminosos. Infelizmente nesse nosso Brasil, se não fosse a mídia, nós nem chegaríamos a tomar conhecimento dos crimes e, muito menos, saberíamos que eles ficaram impunes.

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