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Valéria Ettinger | [email protected]
Para enfrentar as ameaças globais precisamos de mais exércitos, mais serviços secretos e a suspensão temporária da nossa cidadania.
De onde vem o medo? Para que o medo? Quem projeta esse medo? Por que temos medo? Para quem direciona o nosso medo e quem está ganhando com o medo e o que se perde com o medo?
São perguntas que tenho me feito nos últimos tempos. Primeiro, por observar que estamos nos transformando em uma sociedade de paranoicos, obsessivos e doentes e em uma sociedade construída com base em um não pode, não posso e não devo. Somos uma sociedade que se diz livre, mas está presa a diversos grilhões.
Esses grilhões se manifestam em todos os campos da vida: familiar, religiosa, política, social e econômica. São grilhões alimentados por um medo que pereniza os conflitos, que estabelece a individualidade, que propaga uma ideologia e que promove a destruição. Vivemos em uma era extremista que se pauta na autopreservação e nas verdades absolutas.
Essa ideologia dos polos divergentes e, em conflito, nos coloca numa posição de dominados, por que a verdade imperativa passa a intervir no meu modo de ser, de viver e de agir. Então, por conta dos medos, criam-se estereótipos, modelos únicos e estabelecem os padrões de vida e poder. E aí passamos a viver dos generalismos, todo político é ladrão, todo negro é bandido, todo homoafetivo é pervertido, tenho que ser magra para ser amada, tenho que ter muito dinheiro para ser feliz, ganhar dinheiro sem esforço é o melhor caminho, dentre outros.
Vejo uma sociedade que não inclui, que é egoísta, que não escuta, que não compartilha, que é permissiva, que gosta de ver a degradação humana. Basta verificar quais os programas de maior audiência na televisão, os de crime, os reality show e as novelas nas quais os vilões e as vilanias são os piores.
Uma sociedade que não participa, que não se une, que não se constrói em redes de solidariedade, que não se integra em suas diversas verdades para garantir uma interconectividade ou interdependência de interesses, habilidades, funções, distribuições, aproximações e afetos. Uma sociedade de homens que não colocam suas crenças nas incertezas, mas se prendem em um nó possessivo e difícil de ser desatado ou transformado.
São perguntas que tenho me feito nos últimos tempos. Primeiro, por observar que estamos nos transformando em uma sociedade de paranoicos, obsessivos e doentes e em uma sociedade construída com base em um não pode, não posso e não devo. Somos uma sociedade que se diz livre, mas está presa a diversos grilhões.
Esses grilhões se manifestam em todos os campos da vida: familiar, religiosa, política, social e econômica. São grilhões alimentados por um medo que pereniza os conflitos, que estabelece a individualidade, que propaga uma ideologia e que promove a destruição. Vivemos em uma era extremista que se pauta na autopreservação e nas verdades absolutas.
Essa ideologia dos polos divergentes e, em conflito, nos coloca numa posição de dominados, por que a verdade imperativa passa a intervir no meu modo de ser, de viver e de agir. Então, por conta dos medos, criam-se estereótipos, modelos únicos e estabelecem os padrões de vida e poder. E aí passamos a viver dos generalismos, todo político é ladrão, todo negro é bandido, todo homoafetivo é pervertido, tenho que ser magra para ser amada, tenho que ter muito dinheiro para ser feliz, ganhar dinheiro sem esforço é o melhor caminho, dentre outros.
Vejo uma sociedade que não inclui, que é egoísta, que não escuta, que não compartilha, que é permissiva, que gosta de ver a degradação humana. Basta verificar quais os programas de maior audiência na televisão, os de crime, os reality show e as novelas nas quais os vilões e as vilanias são os piores.
Uma sociedade que não participa, que não se une, que não se constrói em redes de solidariedade, que não se integra em suas diversas verdades para garantir uma interconectividade ou interdependência de interesses, habilidades, funções, distribuições, aproximações e afetos. Uma sociedade de homens que não colocam suas crenças nas incertezas, mas se prendem em um nó possessivo e difícil de ser desatado ou transformado.
Uma sociedade que vive junto, mas não caminha junto e, por não caminhar junto, é explorada, oprimida, vilipendiada e está se destruindo a passos curtos.
Uma sociedade que não se enxerga como sociedade, com núcleos que se conectam e são necessários para sobrevivência dos seres e do planeta. Uma sociedade que não enxerga suas diferentes gentes, com vontades diferentes, com jeitos diferentes, com vidas diferentes, com formatos diferentes, com necessidades diferentes, mas que juntas formam o conjunto mais perfeito e equilibrado de todos. Enquanto separadas, são obscuras, dissimuladas, destrutivas, tristes, amargas, vazias, infelizes, raivosas, ressentidas, depressivas, agressivas, sem ética, sem meios, sem propósitos, são individuais, finalistas e extremamente medrosas.
E como disse Mia Couto: “para fabricar armas, é preciso fabricar inimigos. Para produzir inimigos, é imperioso sustentar fantasmas. A manutenção desse alvoroço requer um dispendioso aparato e um batalhão de especialistas que, em segredo, tomam decisões em nosso nome. Eis o que nos dizem: para superarmos as ameaças domésticas precisamos de mais polícia, mais prisões, mais segurança privada e menos privacidade. Para enfrentar as ameaças globais precisamos de mais exércitos, mais serviços secretos e a suspensão temporária da nossa cidadania. Todos sabemos que o caminho verdadeiro tem que ser outro. Todos sabemos que esse outro caminho começaria pelo desejo de conhecermos melhor esses que, de um e do outro lado, aprendemos a chamar de “eles”. Os que trabalham têm medo de perder o trabalho. Os que não trabalham têm medo de nunca encontrar trabalho. Quem não tem medo da fome, tem medo da comida. Os civis têm medo dos militares, os militares têm medo da falta de armas, as armas têm medo da falta de guerras”. E, ainda, tem muitos que têm medo de perder o medo.
Assim, os homens vão se organizando com base no medo, vivendo do medo, polarizando-se pelo medo, se destruindo e se odiando por causa do medo. E por conta de tantos medos muitos têm usado o medo para: ganhar dinheiro, manipular, ter prestígio, alcançar o poder e se manter no poder.
Mas medo de que, se um dia vamos todos nos encontrar na eternidade?…
Valéria Ettinger é professora extensionista, emestranda em gestão social e desenvolvimento (Ciags/Ufba).
Uma sociedade que não se enxerga como sociedade, com núcleos que se conectam e são necessários para sobrevivência dos seres e do planeta. Uma sociedade que não enxerga suas diferentes gentes, com vontades diferentes, com jeitos diferentes, com vidas diferentes, com formatos diferentes, com necessidades diferentes, mas que juntas formam o conjunto mais perfeito e equilibrado de todos. Enquanto separadas, são obscuras, dissimuladas, destrutivas, tristes, amargas, vazias, infelizes, raivosas, ressentidas, depressivas, agressivas, sem ética, sem meios, sem propósitos, são individuais, finalistas e extremamente medrosas.
E como disse Mia Couto: “para fabricar armas, é preciso fabricar inimigos. Para produzir inimigos, é imperioso sustentar fantasmas. A manutenção desse alvoroço requer um dispendioso aparato e um batalhão de especialistas que, em segredo, tomam decisões em nosso nome. Eis o que nos dizem: para superarmos as ameaças domésticas precisamos de mais polícia, mais prisões, mais segurança privada e menos privacidade. Para enfrentar as ameaças globais precisamos de mais exércitos, mais serviços secretos e a suspensão temporária da nossa cidadania. Todos sabemos que o caminho verdadeiro tem que ser outro. Todos sabemos que esse outro caminho começaria pelo desejo de conhecermos melhor esses que, de um e do outro lado, aprendemos a chamar de “eles”. Os que trabalham têm medo de perder o trabalho. Os que não trabalham têm medo de nunca encontrar trabalho. Quem não tem medo da fome, tem medo da comida. Os civis têm medo dos militares, os militares têm medo da falta de armas, as armas têm medo da falta de guerras”. E, ainda, tem muitos que têm medo de perder o medo.
Assim, os homens vão se organizando com base no medo, vivendo do medo, polarizando-se pelo medo, se destruindo e se odiando por causa do medo. E por conta de tantos medos muitos têm usado o medo para: ganhar dinheiro, manipular, ter prestígio, alcançar o poder e se manter no poder.
Mas medo de que, se um dia vamos todos nos encontrar na eternidade?…
Valéria Ettinger é professora extensionista, emestranda em gestão social e desenvolvimento (Ciags/Ufba).
Respostas de 9
O caos está instalado no Judiciário da Bahia. O TJBA, com a desculpa esfarrapada de que alguns Juízes ficam “assoberbados de trabalho, enquanto outros recebem menos de cem feitos por ano”, decidiu de forma trágica e desonrosa à Justiça Baiana, evidenciando a falta de compromisso com a sociedade e a Justiça, pela extinção de aproximadamente 50 (cinquenta) Comarcas no nosso estado, prejudicando não somente o povo que busca o judiciário para resolver seus problemas, como também os Advogados que militam no interior do estado, ressalvando que alguns (poucos) desembargadores não foram coniventes com essa decisão aberrante, ultrajante, que vai de encontro aos princípios fundamentais da Carta Magna.
As “Excelências” deveriam se reunir para discutir a abertura de mais Comarcas no estado e não fechá-las, extingui-las, dificultando o acesso da sociedade à Justiça, principalmente o povo pobre, carente, que já vive prejudicado por alguns políticos desonestos.
O que se ouvia dizer era que os Juízes das Comarcas que fossem extintas iriam para as Comarcas que não tinha Juízes. Aqui na Comarca de Iaçu-BA, onde moro e trabalho há mais de 13 (treze) anos, já estamos sem Juiz há 03 (três) anos, sendo que o Juiz Substituto vem à Comarca quando pode, devido ao acúmulo de substituições e excesso de trabalho, sendo que os processos cíveis vão se acumulando, uma vez que a prioridade são os processos criminais, de réus presos.
Assim sendo, a (ir)responsabilidade é do TJBA, que quando faz concurso para Juiz, sempre é de número inferior ao necessário para atender a demanda da prestação jurisdicional. E nós, povo, sofremos com o descaso daqueles que deveriam estar a nos proteger das selvagerias do cotidiano. Inclusive, processos de improbidade administrativa dos prefeitos, restam “parados”, sem qualquer solução, por não ser “prioridade”, o que incentiva os sucessores a dar destino “diverso” ao dinheiro público.
Mesmo que o Governo do Estado não repasse os valores devidos ao Judiciário, acredito que existem meios legais para a devida cobrança e recebimento dos mesmos e, é imperativo que se cortem os gastos excessivos e mordomias existentes, uma vez que o dinheiro ali empregado é do povo e deve voltar para o povo em forma de benefícios. Isso é o que diz a Constituição, a qual não é respeitada nesse país de corruptos.
Ao Governo do Estado, que ele continue trabalhando e que repasse os percentuais devidos ao Judiciário, para, daí, vermos se teremos as nossas Comarcas de volta, com Juízes e que mais Comarcas sejam abertas, pois, quem paga por tudo isso é o povo através dos impostos. Então, nada mais justo que receba-os de volta através de obras e serviços públicos.
“Ô Pátria amada, idolatrada, salve! Salve!
Mas, se ergues da Justiça a clava forte, verás que um filho teu não foge à luta, nem teme quem te adora, a própria morte”.
Benedito Lucena do Carmo Filho
Advogado OAB/BA 855 B
Adoro pesquisa literária; gostei do artigo escrito por vossenhoria. Más, teríamos um modelo a seguir ou criar? Ou tudo tem que caminhar de conformidade com os grandes visionários e pensadores que no passado distante só noticiaram”isso que está aí”!? Um grande abraço. Espero novas pérolas como a presente, tão necessária nos nossos dias.
Valéria,
Já passa da hora de começarmos uma renovação de valores humanos e principalmente morais, éticos e políticos,Itabuna precisa de rumo. Valéria de forma certeira, em um bom texto, aponta os princípios.
Boa menina.
Valéria, parabéns pelo texto, minhas reflexões passam por aí.
ótimo texto Valéria.
O medo e um sentimento universal,o que o mesmo não é só restrito ao ser humano.
Uma vez Jesus enviaste seus apóstolos e recomendara que ” sejam prudentes como a serpentes e mansos como as pombas.”
(Mateus 10:16)
Há um sentimento no ceio da sociedade que não está valendo a pena trazer um filho neste mundo por ser muito violento,eu creio que o mundo sempre fora violento,o que ocorre no ceio da sociedade é que a mesma se inseriu melhores níveis de informações,conscientização e educação.
O suicídio no mundo é uma preocupação da OMS(Organização Mundial da Saúde.) A Russia,Estado Unidos,Japão,França,
Alemanha,são índices preocupantes,no Irã,Egito se iguala ao Brasil,ocupando o 3º lugar no mundo.
O MEDO DE VIVER!
“Como acontece praticamente permanente com a lógica surgiu um sentimento que nunca antes eu experimentara: o medo de viver,o medo de respirar. Com urgência preciso lutar porque esse medo me amarra mais do que o medo da morte,e um crime contra mim mesmo. Estou com saudade de meu anterior clima de aventura e minha estimulante inquietação. Acho que ainda não caí na monotonia de viver.
Clarice Lispector “um sopro de vida”
1920-1977. Escritora brasileira,de origem judia.
Jornal o Globo,sociedade aberta,jornalista,Célio Pezza.
O7-06-2013.
Sociedade do medo!!! Sociedade Medonha!!!
Medo/Miedo
Lenine
Tienen miedo del amor y no saber amar
Tienen miedo de la sombra y miedo de la luz
Tienen miedo de pedir y miedo de callar
Miedo que da miedo del miedo que da
Tienen miedo de subir y miedo de bajar
Tienen miedo de la noche y miedo del azul
Tienen miedo de escupir y miedo de aguantar
Miedo que da miedo del miedo que da
El miedo es una sombra que el temor no esquiva
El miedo es una trampa que atrapó al amor
El miedo es la palanca que apagó la vida
El miedo es una grieta que agrandó el dolor
Tenho medo de gente e de solidão
Tenho medo da vida e medo de morrer
Tenho medo de ficar e medo de escapulir
Medo que dá medo do medo que dá
Tenho medo de acender e medo de apagar
Tenho medo de esperar e medo de partir
Tenho medo de correr e medo de cair
Medo que dá medo do medo que dá
O medo é uma linha que separa o mundo
O medo é uma casa aonde ninguém vai
O medo é como um laço que se aperta em nós
O medo é uma força que não me deixa andar
Tienen miedo de reir y miedo de llorar
Tienen miedo de encontrarse y miedo de no ser
Tienen miedo de decir y miedo de escuchar
Miedo que da miedo del miedo que da
Tenho medo de parar e medo de avançar
Tenho medo de amarrar e medo de quebrar
Tenho medo de exigir e medo de deixar
Medo que dá medo do medo que dá
O medo é uma sombra que o temor não desvia
O medo é uma armadilha que pegou o amor
O medo é uma chave, que apagou a vida
O medo é uma brecha que fez crescer a dor
El miedo es una raya que separa el mundo
El miedo es una casa donde nadie va
El miedo es como un lazo que se apierta en nudo
El miedo es una fuerza que me impide andar
Medo de olhar no fundo
Medo de dobrar a esquina
Medo de ficar no escuro
De passar em branco, de cruzar a linha
Medo de se achar sozinho
De perder a rédea, a pose e o prumo
Medo de pedir arrego, medo de vagar sem rumo
Medo estampado na cara ou escondido no porão
O medo circulando nas veias
Ou em rota de colisão
O medo é do Deus ou do demo
É ordem ou é confusão
O medo é medonho, o medo domina
O medo é a medida da indecisão
Medo de fechar a cara
Medo de encarar
Medo de calar a boca
Medo de escutar
Medo de passar a perna
Medo de cair
Medo de fazer de conta
Medo de dormir
Medo de se arrepender
Medo de deixar por fazer
Medo de se amargurar pelo que não se fez
Medo de perder a vez
Medo de fugir da raia na hora H
Medo de morrer na praia depois de beber o mar
Medo… que dá medo do medo que dá
Medo… que dá medo do medo que dá
Excelente!
Excelente texto…. Vou reproduzir para promover um debate na sala de aula com os meus alunos… E de leituras como estas que eles precisam para questionar o conceito de cidadania….