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Allah GóesAllah Muniz de Góes | allah.goes@hotmail.com
 

Sempre combativo e disposto ao embate, chegou a nossa região na década de 60 do século passado, procurando por aqui “uma nova trincheira” onde pudesse continuar a sua luta.

 
“Falando Francamente”. Quem de minha geração, ou que viveu a Itabuna dos anos 80/90, não ouviu aquela voz inconfundível no início das tardes da Difusora? Em nossa casa, sempre que chegava da escola, religiosamente pegava meu pai almoçando, mas não com os olhos na televisão, pois estava com os ouvidos e a atenção no rádio, e isto porque lá estava, analisando os principais fatos e acontecimentos do dia, o sempre polêmico Lucílio Miranda Bastos.
Você poderia até não concordar com o posicionamento externado pelo radialista Lucílio Bastos, mas, com toda a certeza, admirava sua coragem e eloquência, o que acabava por transformar o conteúdo apresentado em seu programa no assunto mais comentado do dia em todas as rodas dos ditos “formadores de opinião”.
Sempre combativo e disposto ao embate, chegou a nossa região na década de 60 do século passado, procurando por aqui “uma nova trincheira” onde pudesse continuar a sua luta, pois em sua terra natal, Feira de Santana, já não lhe eram dadas condições para que continuasse seu trabalho sem a perseguição dos militares. Eram os anos de chumbo.
Chegando por aqui, o sertanejo transformou-se em grapiúna, sentiu-se em casa, preso pelo visgo da jaca. Aclimatado nas rádios itabunenses, integrou-se a esta comunidade nada homogênea, formada pelos desbravadores do cacau, e pode dar vazão ao seu estilo elegante, porém firme e contestador, que lhe causou muitas desavenças e inimizades com alguns políticos de plantão.
Mas este era o seu jeito de contestar o que enxergava errado. Polemizar, por respeito e em respeito ao ouvinte, era a tônica principal de seu programa, que mostrava, sem retoques, as mazelas e desigualdades desta nossa cidade.
E de tanto incomodar, quando resolveram homenageá-lo, ao sugerirem a concessão do título de cidadão itabunense, eis que, para não deixar de lado a polêmica, um ex-prefeito utilizou de toda sua influencia para barrar, ainda nas comissões da Câmara de Vereadores, a indicação feita pelo também saudoso José Japiassu.
Mas a homenagem ficou apenas suspensa, pois na legislatura seguinte, já sem interferências outras, o hoje presidente estadual do PT, Everaldo Anunciação, realiza nova indicação que, enfim, é aprovada, fazendo com que o nosso combativo radialista pudesse dizer a plenos pulmões: “sou itabunense”.
E quem era Lucílio Bastos? Como ele mesmo se definiu, naquele mesmo dia em que recebera o título de cidadão itabunense: “um sertanejo que, sem negar suas origens e o seu amor pela terra onde nasceu – Feira de Santana – tem procurado ser digno da cidade que o acolheu, das amizades que amealhou e da permanente vontade de servir, enquanto a vida, esta dádiva de Deus, assim o permitir”.
E assim o foi, e fará falta, não apenas à sua família, mas a todos aqueles que se revigoravam com o destemor de suas palavras e de seu exemplo. Vá em paz, Lucílio Bastos!
Allah Muniz de Góes é advogado.

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